A Faurecia, fabricante francesa de autopeças controlada pela Peugeot, está trazendo ao Brasil sua quarta unidade de negócios, a única que não estava presente por aqui. Nos próximos oito meses, a empresa terá duas novas linhas produzindo para-choques para a Volkswagen, em São Bernardo do Campo (SP), e a PSA Peugeot Citroën, em Porto Real (RJ).
Os investimentos nas duas unidades são estimados em aproximadamente R$ 160 milhões e a ambição é liderar esse mercado em um prazo de três a cinco anos. Até o fim deste ano, o grupo também espera inaugurar uma fábrica para a produção do mesmo componente automotivo na Argentina, de onde vai suprir a operação local da Volkswagen - o grupo alemão é o maior cliente da Faurecia.
Sexta maior do mundo em seu setor, com faturamento superior a € 16 bilhões no ano passado, a empresa, na virada do ano, iniciou as operações na nova fábrica de escapamentos em Limeira, no interior de São Paulo, que consumiu investimentos de R$ 60 milhões. Também começou a produzir escapamentos de caminhões para a MAN, líder nesse mercado com a marca Volkswagen, e a Ford.
O plano é crescer nos próximos quatro anos a um ritmo anual de 11% e alcançar vendas superiores a € 1,1 bilhão (R$ 2,75 bilhões) na América do Sul, onde o Brasil representa 80% dos negócios.
Para isso, tem aproveitado as oportunidades surgidas com os novos projetos da indústria automobilística. Já está, por exemplo, no parque de fornecedores da Hyundai em Piracicaba (SP) e da Toyota em Sorocaba (SP).
Agora, a Faurecia mira os chineses da JAC Motors e da Chery, com quem pretende ser parceiro nas futuras fábricas dessas marcas em Camaçari (BA) e Jacareí (SP), respectivamente.
"Nossa empresa tem uma atuação global e procuramos seguir nossos clientes para onde eles estão indo. Somos mais um parceiro das montadoras em seus planos de crescimento", afirma Abdo Kassisse, diretor-geral da divisão de escapamentos no Mercosul.
Além de participar dos últimos encontros das montadoras chinesas com fornecedores, a Faurecia pretende negociar com a Fiat sua participação na fábrica que o grupo de origem italiana vai erguer em Goiana, em Pernambuco.
Plano é crescer a um ritmo anual de 11% na América do Sul, onde o Brasil representa 80% dos negócios
A investida da companhia francesa na América do Sul se justifica pelo potencial de crescimento do mercado, os programas de investimentos das montadoras instaladas no Brasil - cujos aportes previstos somam US$ 22 bilhões até 2015 - e uma estratégia traçada pelo próprio grupo de expandir para fora da Europa.
Dentro de um prazo de quatro anos - período no qual espera chegar a um faturamento global de € 20 bilhões -, a empresa estima que metade de suas vendas estará fora do continente, principalmente em mercados da Ásia, América do Norte e América do Sul.
Essa tendência se reflete no programa de expansão da Faurecia, fortemente concentrado na Ásia, região onde tem 19 das 35 fábricas abertas desde o ano passado. Só na China, são 14 novas unidades de produção.
Atualmente, a Europa representa 62% das vendas globais e a América do Sul, 4,5%. As perspectivas, contudo, são de crescimento para o mercado sul-americano e baixa no consumo europeu: a direção da empresa trabalha com a tendência de queda de 4% a 6% na produção automobilística europeia em 2012.
No Brasil, onde tem 13 fábricas, a companhia toca programa de investimentos que prevê aportes de R$ 360 milhões em quatro anos. Uma parcela importante foi destinada para a unidade de Limeira, que, além da fábrica, abriga a sede administrativa e um centro de pesquisa e desenvolvimento.
A nova fábrica centraliza a produção dos escapamentos e abastece as linhas de montagem da Faurecia no entorno das fábricas de carros e, desde o fim do ano passado, também de caminhões. Conforme Kassisse, a unidade, anunciada como a maior fábrica de escapamentos da América do Sul, permitirá à companhia elevar em 40% sua capacidade de abastecimento, com espaço para futuras ampliações.
"Tenho 20% de área útil (de 30 mil m2) disponível para expansão, se necessário", conta o executivo. O grupo, diz ele, fornece ao redor de 1,5 milhão de escapamentos por ano ao mercado brasileiro - ou ao redor de 40% do consumo desse componente pelas montadoras.
No momento, a empresa se dedica a transferir para a nova fábrica de Limeira as linhas de escapamentos que estavam em outra unidade do mesmo município e na fábrica de Pindamonhangaba, também no interior paulista. Todo esse trabalho será realizado ao longo deste ano, segundo Kassisse.
Por Eduardo Laguna/Valor Econômico