As medidas para estimular a cadeia de automóveis devem reduzir os estoques para níveis considerados normais pelo setor em cerca de dois meses. A estimativa é do presidente da Fenabrave (entidade que representa as concessionárias), Flávio Meneghetti, que prevê queda dos atuais 45 para cerca de 30 dias nesse período. A redução do IPI vale até 31 de agosto. O número indica o total de dias de venda com as unidades em pátio, estejam elas tanto nas concessionárias como nas montadoras.
O principal temor num cenário com muitos dias é a possibilidade de demissões nas linhas de produção. A indústria automotiva representa 20% do PIB industrial. O sinal amarelo se acendeu com os números de abril, quando a Anfavea (associação das montadoras) divulgou o maior nível de estoques desde novembro de 2008. Desde então, o setor reforçou a pressão para a adoção de medidas por parte do governo para destravar o crédito. "Há apetite de compra pelo cliente, o que é preciso é crédito", diz Meneghetti.
Com a alta da inadimplência no crédito para veículos -que atingiu nível recorde em abril-, o setor financeiro passou a pedir entradas maiores e elevar os critérios para a concessão. Sete em cada dez consultas para novos financiamentos passaram a ser reprovadas, situação inversa ao registrada no auge das vendas.
Aprovação de 50%
Com as novas medidas, o setor espera uma retomada das aprovações em mais de 50% das fichas, pelo menos."Os bancos estão fazendo um esforço adicional para melhorar a expansão do crédito, obviamente sem tomar decisões irresponsáveis", diz o presidente da Fenabrave.
A principal dúvida sobre as medidas é se o alto nível de endividamento das famílias não pode tirar a força do estímulo. "O endividamento do brasileiro está alto, concordo, mas temos uma gama de famílias no mercado que ainda não tem carro. Continuo achando que ainda temos mercado, sim", diz o presidente do sindicato das concessionárias de São Paulo, Octávio Leite Vallejo. Ele prevê um impacto positivo de até 8% nas vendas durante o período da isenção.
Para o presidente da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef), Décio Carbonari, a inadimplência tem demonstrado sinais de equilíbrio e não deve afetar a alta das vendas. Embora a expectativa seja a de incremento na concessão de crédito, a venda sem entrada e com prazo de 60 meses não deve ser retomada.
Essa combinação ajudou a impulsionar o desempenho das vendas nos picos dos últimos dois anos e é apontada como a responsável pelo alto índice de inadimplência. A previsão é que as vendas sejam fechadas com um pagamento antecipado de 10% do veículo, ante os 20% que passaram a ser exigidos no cenário mais criterioso.