O mercado brasileiro de reboques registrou queda de 10,7% nos quatro primeiros meses do ano, acompanhando a retração de 9,2% nas vendas de caminhões, que utilizam esses implementos.
Dados da Anfir, a entidade que abriga os fabricantes nacionais de carretas, mostram que 16,57 mil reboques e semirreboques foram emplacados de janeiro a abril, enquanto os volumes do mesmo período do ano passado somaram 18,55 mil unidades.
No segmento de implementos leves - de carrocerias instaladas sobre os chassis dos veículos e menos expostos às mudanças nas condições de financiamentos -, o recuo foi de apenas 0,4%, para um total de 39,06 mil unidades.
A ociosidade do setor, que girou perto de 10% no ano passado, já supera 22%, mas as medidas de estímulo à indústria de bens de capital lançadas em abril - no âmbito da nova política industrial do país - melhoraram as perspectivas para os negócios em 2012.
A Anfir já vê um movimento de recuperação a partir de junho, permitindo à indústria ao menos repetir o desempenho do ano passado, quando 59,44 mil carretas foram negociadas no mercado interno. Até março, a entidade trabalhava com uma queda de 5% no cenário-base.
O humor mudou com a decisão do governo de contemplar os principais pleitos dos fabricantes relacionados às regras do Finame, a linha de crédito para máquinas e equipamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A instituição voltou a financiar 100% do valor das carretas para as micro, pequenas e médias empresas, com alteração no prazo máximo de 96 para 120 meses. No caso das grandes empresas, o valor financiável passou para 90%. As medidas foram acompanhadas por reduções nas taxas de juros: de 8,7% para 7,3% ao ano para as grandes empresas, e de 6,5% para 5,5% no caso das pequenas.
"Estamos chegando a um ponto de inflexão", acredita Alcides Braga, recém-empossado presidente da Anfir, citando o transporte da safra entre os fatores que tendem a melhorar o desempenho nos próximos meses. Ele diz, contudo, que o ritmo de retomada ainda é incerto."
As mudanças no Finame são bem-vindas porque a limitação dos financiamentos a 70% do valor do produto desde abril do ano passado era apontada como o principal motivo para o arrefecimento da indústria de implementos nos últimos meses.
Braga lembra que a mudança nas linhas de caminhões ocorreu junto com um momento de desaceleração econômica, o que agravou a situação.
Uma saída encontrada por alguns fabricantes, diante do quadro negativo no cenário doméstico, foi buscar mercados no exterior. De janeiro a março, as exportações de carretas cresceram 27,5% na comparação anual, chegando a 1,28 mil unidades.
O setor é formado por quase 1,5 mil empresas, que faturaram R$ 9,6 bilhões no ano passado. Os programas de investimentos já anunciados por fabricantes de implementos - como Randon, Facchini, Guerra e Noma - somam aportes de R$ 1,3 bilhão nos próximos três anos. Esse volume de recursos poderá elevar a capacidade instalada anual das atuais 215 mil unidades para mais de 240 mil carretas.
Por Eduardo Laguna / Valor Econômico