Máquinas pequenas perdem mercado

Diminuição da linha de crédito para a agricultura familiar contribuiu para a mudança

A perda de fôlego do Programa Mais Alimentos, que envolve uma das mais importantes linhas de crédito do governo federal voltada à agricultura familiar, contribuiu para uma nova mudança no perfil das vendas das indústrias de máquinas agrícolas no mercado brasileiro.

As empresas do segmento, que há alguns anos viram disparar a demanda por equipamentos de menor potência destinados a pequenos produtores rurais, já acusaram uma mudança dos ventos nesta frente ao mesmo tempo em que voltaram a registrar aumentos das vendas de máquinas tradicionais para a agricultura empresarial, embalada por uma sequência de safras rentáveis.
 
Enquadram-se nessa categoria máquinas maiores como tratores com mais de 150 cavalos (cv) de potência e colheitadeiras das classes 7 e 8, com mais de 300 cv e 360 cv, respectivamente. A guinada no mix ganhou corpo em 2011 e deverá dar o tom também em 2012.
 
Criado em 2008 com recursos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), o Mais Alimentos permite que o agricultor familiar invista na modernização e na aquisição de máquinas e equipamentos com um limite de crédito de R$ 130 mil para projetos individuais e de R$ 500 mil para coletivos, com juros de 2% ao ano e prazo de pagamento de até dez anos. Os juros para investimentos de até R$ 10 mil são de 1% ao ano.
 
No ano-safra 2009/10 - de julho de 2009 a junho de 2010 -, foram fechados 67.043 contratos no âmbito do Mais Alimentos, que representaram um montante total de R$ 2,862 bilhões. Em 2010/11, o número de contratos caiu para 35.732 e o valor ficou em R$ 1,528 bilhão. Marco Antônio Viana Leite, coordenador do Mais Alimentos, acredita que o total contratado alcançará entre R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão em 2012.
 
Segundo Leite, a meta é voltar aos níveis recordes de 2009/10, já que há demanda reprimida e muitos agricultores familiares têm de conhecer melhor a linha. Ao mesmo tempo, estão sendo fechados acordos com Estados para que seja criado um fundo que arque com o pagamento dos juros do programa diretamente às instituições financeiras, preservando os agricultores.
 
Leite informa que os governos de Bahia, Espírito Santo e Rondônia já aprovaram a medida. Outra frente de trabalho para reaquecer a demanda, segundo ele, será a ampliação do Mais Alimentos para cooperativas da agricultura familiar.
 
Paralelamente a esse movimento, as compras de máquinas mais potentes voltaram a crescer. Milton Rego, diretor da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que representa as principais empresas do segmento, reitera que se trata de uma tendência, já que a briga por produtividade e eficiência na agricultura empresarial é cada vez mais intensa.
 
"Com a mecanização, o produtor consegue depender menos de variações climáticas. A evolução da mecanização agrícola acontece no mundo inteiro e o produtor precisa de equipamentos mais rápidos".
 
E, nesse contexto geral, a participação das máquinas maiores no total das vendas internas voltou a aumentar. Em 2009, os equipamentos com mais de 100 cv representaram 26% da comercialização de tratores no país; em 2010, o índice subiu para 31%, e chegou a 39% em 2011.
 
Já a fatia das colheitadeiras classes 7 e 8, com potência superior a 300 cv, nas vendas totais dessas máquinas, que foi de 31% em 2010, saltou para 45% no ano passado. Não há dados disponíveis sobre 2012, mas Rego afirma que a tendência se mantém.
 
A Valtra, do grupo AGCO, prevê ampliar suas vendas de tratores pesados este ano. Dois novos produtos, com potência de 300 cv e 370 cv serão lançados. Em 2011, foram vendidos 416 tratores com mais de 200 cv da marca, 18,75% mais que em 2010. No primeiro bimestre do ano, foram 77, ante 44 nos dois primeiros meses de 2011.
 
Segundo Roberto Patrocínio, gerente comercial da Valtra, os produtores partem para máquinas maiores principalmente em função da escassez de mão de obra e da corrida por produtividade.
 
A Massey Fergunson, do mesmo grupo, projeta alta de 10% a 15% das vendas de equipamentos com maior potência este ano e quer expandir o "market share" na comercialização de máquinas acima de 300 cv com o lançamento de dois equipamentos importados, de 320 cv e 370 cv.
 
Carlito Eckert, diretor comercial da Massey, diz que a procura pelos produtos deverá se manter mesmo com as incertezas econômicas. "Mesmo com a estiagem no Sul do Brasil, o Centro-Oeste foi muito bem e as commodities estão num cenário muito positivo". A empresa tem boas perspectivas sobretudo para o segundo semestre, quando a demanda por tratores, por exemplo, é normalmente maior.
 
De janeiro a fevereiro deste ano, a Massey vendeu no mercado interno 24 tratores acima de 200 cv, o dobro da quantidade de igual bimestre do ano passado. Em 2011, a comercialização desse tipo de produto saltou 45,76% em relação a 2010, para 172 unidades. Já o comércio de colheitadeiras maiores cresceu 12,76%, para 53 unidades.
 
Fonte: Carine Ferreira / Valor Econômico