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Pai de três crianças e casado há mais de 15 anos o único emprego de carteira assinada de Francisco Sílvio Melo de Sousa, 38, era de cobrador de ônibus, exercido "faz muito tempo". Até que ele resolveu apostar em um ramo no qual nunca havia lidado antes, o eletro metalmecânico, e fez seu rendimento ser potencializado em quatro anos, além de ainda vislumbrar expectativas de crescimento tão grandes como as que tinha quando entrou na área. Sílvio cursou, primeiro, o técnico de metalúrgico ofertado pelo Instituto Centec, no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp).
Apesar de distante da sua casa no Itaperi, em Fortaleza, a proximidade com o principal alvo de novos empreendimentos do Estado fez com que ele arrumasse emprego logo que concluiu a segunda capacitação, a de soldador.
"Eu não tinha experiência comprovada de soldador, aí me colocaram de ajudante para começar", contou. Mas o tempo nessa função, recebendo pouco mais de um salário mínimo, demorou pouco, pois logo passou a soldador e recebeu cerca de quatro vezes mais que este valor até chegar ao controle de qualidade do setor - cargo que ocupa hoje.
A nova condição financeira conquistada por Sílvio nestes últimos cinco anos o fez abandonar o ´bico´ com transporte escolar que fazia, além de passar a pequena lanchonete montada ao lado de casa para o comando da esposa.
Expectativa da indústria
Assim como Sílvio, boa parte dos representantes da indústria local falam em dar essa guinada na trajetória do segundo setor do Estado, atuando em segmentos que agreguem mais valor ao produto final fabricado aqui e paguem melhor seus profissionais, os quais precisam ser bem mais capacitados. No entanto, a aposta dos industriais cearenses envolvidos com as áreas elétrica e metalmecânico, principalmente, até agora, ainda não vingou.
O segmento é visto como um dos que possuem maior potencial de crescimento, principalmente pela chegada da siderúrgica e da laminadora, as quais proporcionarão o maior impulso em termos de fornecimento de matéria prima. "Existe uma preocupação em função dos números mais recentes tanto da indústria. O que mais chamou atenção foi o momento ruim do setor têxtil. A economia é uma cadeia. Se não há investimentos nessa área, o segmento metal-mecânico também vai sentir", explica o vice-presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Materiais Elétricos no Estado do Ceará (Simec), Frederico Saboya.
Números decepcionam
Ainda em 2010, de acordo com dados medidos para produção local pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as expectativas eram correspondidas, quando a metalurgia básica chegou a crescer 32,08% e a fabricação de produtos de metal atingiu 26,32%.
Apesar desses números, o recuo em 2011 aconteceu, levando o primeiro segmento a -1,48% e o segundo mais longe, caindo -21,22%. Segundo Saboya, todo o otimismo anterior está sendo reduzido aos poucos.
"Ainda há boas perspectivas a respeito do desenvolvimento do setor em razão desses investimentos, embora, é verdade, os resultados da indústria deste ano tenham indicado um outro ambiente em termos de expectativas", analisa.
Diagnóstico
De acordo com o Simec, os empresários do setor se reunirão em abril próximo. O objetivo deles, além de identificar quais as áreas estão sendo mais atingidas pela crise industrial, é debater as soluções para os problemas que têm afligido os empresários em 2011 e nos último meses.
"Notamos boa vontade do governo. Mas é preciso acelerar as obras de infraestrutura e os investimentos já programados para dinamizar a economia. A indústria não precisa de medidas protecionistas, necessita sim de ações de alavancagem. Se a indústria de transformação como um todo crescer 3% neste ano, já terá sido bom para o Estado nesse quadro de crises pontuais de alguns setores", estima o presidente do Simec.
Manifestações afloram em prol da produção nacional
"A situação da indústria brasileira é grave. Antes não tínhamos competitividade, em termos de agregação de valor, no mercado externo. Agora, nem internamente. Estamos sendo sucateados" A declaração do deputado Federal, Antônio Balhmann (PSB-CE), reflete o sentimento que norteia diversas manifestações programadas para os próximos dias País afora.
Hoje, em Brasília, será lançada na Câmara dos Deputados, a Frente Parlamentar em Defesa da Indústria Nacional. "Passei os últimos dias arregimentando apoios a essa iniciativa, seja em encontros com empresários da Confederação Nacional da Indústria (CNI), da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), e do Movimento Empresarial da Inovação (MEI), seja com líderes das principais centrais sindicais do País. Posso dizer que tanto empresários como trabalhadores encamparam entusiasticamente essa ideia e estão se juntando a essa frente ampla, interclassista e suprapartidária", diz o articulador da ação, deputado Federal, Newton Lima (PT-SP).
Unidos pela causa
A peculiaridade dessas manifestações em prol da indústria nacional tem sido o fato de trabalhadores e empresários estarem juntos no apoio à mesma causa. Ontem, em Porto Alegre, mais de três mil pessoas se mobilizaram, contra o que está se chamando de desindustrialização do País, e em defesa da produção e do emprego. Uma lista de reivindicações foi entregue ao governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro.
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