Indústria limita avanço de investimentos

A perda de fôlego da indústria de transformação tira um dos elementos que deu vigor aos investimentos nos últimos anos, acreditam economistas consultados pelo Valor. Nem mesmo a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016, afirmam eles, serão suficientes para trazer de volta o ímpeto que movia os investimentos até o estouro da crise internacional, em 2009.

Entre 2006 e 2008, o ritmo de crescimento do investimento girou em torno de 2,5 vezes a expansão do Produto Interno Bruto (PIB). Passado o pior momento da crise internacional, os investimentos se recuperaram, aumentando 21,3% em 2010, quase o triplo do avanço do PIB no período, que foi de 7,5%.

No ano passado, no entanto, os investimentos voltaram a esmorecer. Num contexto de grande incerteza externa, a formação bruta de capital fixo (FBCF), medida das contas públicas que mostra quanto o país investiu na compra de máquinas, equipamentos e materiais de construção, subiu 4,7%, não chegando a duas vezes a expansão da economia no período, que chegou a 2,7%. Mesmo assim, a taxa de investimento da economia brasileira recuou de 19,5% em 2010 para 19,3% do PIB em 2011.

"Não creio que a relação entre o avanço do investimento e o crescimento do PIB retornará aos patamares de 2006 a 2008 tão cedo. Isso só acontecerá quando a indústria voltar a investir fortemente, o que não deve ocorrer no curto prazo", diz Silvia Matos, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV). Segundo ela, a crise externa acentua a baixa competitividade da indústria brasileira. Para ela, a expansão do investimento deverá girar em torno de 6% em 2012, cerca do dobro do aumento projetado para o PIB.

Mesmo com Copa e Olimpíada à vista, Thiago Carlos, da Link Investimentos, estima apenas ligeira aceleração nos investimentos neste ano. "A expansão das importações deve frear os projetos."

Com a tímida participação da indústria, a expectativa dos economistas é que os setores de infraestrutura e construção puxem os investimentos no Brasil nos próximos anos. "Mas não há como dizer que essas áreas compensarão a perda de fôlego da indústria", diz o economista-chefe do BanifInvest, Mauro Schneider. O ritmo de crescimento dos investimentos, avalia Schneider, dependerá da capacidade de coordenação do governo. "Se o setor público criar as condições necessárias para atrair as empresas, os investimentos poderão expandir mais rapidamente."

O governo, explica o professor do Insper, Alexandre Chaia, tem dois papéis fundamentais no incentivo aos investimentos. Um deles é o de criar a regulamentação necessária para assegurar os projetos e fiscalizar as operações. O segundo é o de conter seus gastos, para permitir a queda dos juros e, assim, baratear os financiamentos às empresas.

"Também é importante o desenvolvimento do mercado de capitais, que possibilitaria menor dependência do BNDES", complementa Schneider. Copa e Olimpíada, na opinião do economista da BanifInvest, terão apenas um efeito catalisador sobre os investimentos. Ele chama atenção para os segmentos da infraestrutura que estão intimamente ligados ao consumo das famílias, como energia, transporte e saneamento básico. "Com a renda subindo, a demanda por esses serviços também cresce."

Na construção, a expectativa de Silvia Matos, da FGV, é que o programa Minha Casa, Minha Vida deslanche neste ano. "Além de ser um incentivo à aceleração da economia, o programa tem grande apelo político em ano eleitoral."


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