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Passou quase tão despercebida quanto a própria TAC Motors (Tecnologia Automotiva Catarinense) a notícia de que a minúscula montadora dos jipes Stark (foto) pretende se transferir de Joinville, em Santa Catarina, para Sobral, no Ceará. Há cerca de uma semana, em 15 de fevereiro, o presidente executivo da empresa, Neimar Braga, assinou junto com o governador do Estado, Cid Gomes, um protocolo de intenções para instalar uma fábrica no distrito industrial de Sobral, às margens da BR 222, com investimento divulgado de R$ 200 milhões.
De acordo com informações da TAC, o empreendimento só será confirmado em 15 de março próximo, na assembleia geral de acionistas da empresa (são 96 investidores ao todo), que decidirão sobre a mudança ou não para o Ceará. Um dos acionistas é o próprio governo catarinense, que segundo jornais detém 14% da TAC e concedeu incentivos para a instalação da indústria no Estado.
Uma vez aprovada a mudança de Joinville para Sobral, a intenção é começar a produzir em julho, ao ritmo inicial de 60 carros/mês – cadência três vezes maior do que o máximo de 20 unidades/mês já atingido em Santa Catarina desde 2010, quando o Stark começou a ser montado lá, segundo a TAC. Ao fim do primeiro ano de produção no Ceará, a montadora espera chegar à velocidade de 150 jipes por mês, incluindo o Stark 2.3 4WD (que usa motor diesel fornecido pela FPT, da Fiat) e a versão militar IRV. No prazo cinco anos, a intenção seria chegar à ambiciosa meta de 3 mil veículos/ano.
Atualmente não existem indícios de mercado que sustentem a projeção da TAC. A empresa não informa quantos Stark já vendeu e, nos arquivos do Registro Nacional de Veículos Automotores (Renavam), nenhum carro com este nome foi emplacado no Brasil nos últimos três anos pesquisados. Assim não há tendência alguma de aceitação do veículo a ser analisada, pois não há informações sobre as vendas do Stark, embora a TAC afirme que hoje 30 concessionárias no País vendem o modelo.
Perto de clientes e incentivos
A TAC avalia que o crescimento substancial de sua operação será possível porque no Ceará ficará mais próxima dos clientes de veículos 4x4 – apesar de o Stark ser vendido por quase R$ 98.780, valor alto para os padrões de consumo de qualquer região do Brasil e também mais caro que seu concorrente direto, que já está instalado no mesmo Estado: a Troller, pertencente à Ford, que monta em Horizonte cerca de 1 mil unidades por ano do T4, com motor MWM 3.0, vendido a R$ 93.227.
“Eles estão saindo de Joinville porque estão distantes dos principais compradores. Lá não tem dunas e aqui já existe a Troller. Eles também estão em negociação para o fornecimento de veículos para a polícia e de modelos mais pesados para rodar nas dunas, atendendo ao segmento turístico e também ao setor agrícola”, afirmou ao jornal cearense O Povo o presidente do Conselho Estadual de Desenvolvimento Econômico (Cede), Ivan Bezerra. Segundo ele, as negociações com a TAC acontecem há oito meses e outros Estados, como Bahia e Amazonas, também estavam na disputa.
No Ceará, a TAC receberá incentivos previstos no Fundo de Desenvolvimento Industrial (FDI), incluindo redução do ICMS por 10 anos, segundo confirmou Braga, o presidente da empresa. Ele informou aos jornais cearenses que a fábrica, em sua primeira fase, terá área construída de 20 mil metros quadrados, em terreno de 100 mil m², com 500 empregados diretos e estimativa de geração de mais 700 empregos indiretos – a intenção é usar 98% de mão-de-obra local. Se a projeção de crescimento for concretizada, a planta industrial avançará para 60 mil m² e outros 100 mil m² seriam ocupados por área de testes e pátio de estocagem de veículos.
Braga informou que há interesse em trazer para o Ceará alguns fornecedores da empresa, principalmente para a produção de componentes de plástico e resina, já que a carroceria de estrutura tubular é recoberta por painéis de fibra de vidro. A TAC também pretende instalar um centro tecnológico em Sobral, na mesma área fábrica, com apoio do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), Universidade do Vale do Acaraú (UVA) e Senai.
Décadas de tentatvias
A TAC foi concebida em 2001 a partir de um conceito de veículo 4x4 criado por José Fernando Xavier Faraco, ex-presidente da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc). Com alguns poucos sócios, a empresa foi estabelecida e, em 2004, o primeiro protótipo foi apresentado na Fiesc. A TAC buscou investidores para viabilizar sua operação. O número de interessados cresceu após 2006, quando um protótipo do Stark foi apresentado no Salão do Automóvel de São Paulo. Mas só em janeiro de 2010 a empresa começou a montar o jipe em Joinville, ao ritmo de 12 carros por mês.
Curioso será saber como a SCParcerias, braço de investimentos do governo catarinense, que detém 14% de participação acionária no negócio, irá se comportar diante da iminente mudança da TAC para outro Estado – sem sequer precisar mudar o “C” de sua sigla, que passaria de catarinense para cearense.
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