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Mesmo com as fábricas operando a mais de 80% da capacidade instalada, a indústria brasileira de estruturas metálicas vive um momento de apreensão e incerteza. O principal motivo, comum a vários outros setores industriais do país, é a concorrência externa, principalmente a chinesa, favorecida pelo câmbio sobrevalorizado e por fatores domésticos, englobados no chamado custo Brasil, que vão de infraestrutura ruim até tributação elevada. Segundo Luiz Carlos Caggiano Santos, presidente da Associação Brasileira da Construção Metálica (Abcem), um quilo de defensa metálica (proteção a veículos em rodovias), importada, por exemplo, sai por US$ 0,75, o mesmo preço de um quilo de chapa de aço no Brasil.
"O nosso problema é o futuro, depois de 2012", disse Santos, ressaltando que o setor fez fortes investimentos em maquinário. Ele disse ainda que a Abcam acaba de contratar uma consultoria especializada do Rio de Janeiro, a GBI Consultoria, para examinar e fazer um diagnóstico sobre suspeitas de práticas desleais de comércio por parte de empresas da China. Em setembro deste ano, a GBI ganhou um processo de direito antidumping contra a importação de tubos de aço carbono com até 5 polegadas de diâmetro externo da China.
Neste momento o setor vive situações contraditórias. Enquanto a Codeme, empresa ligada ao grupo Usiminas, prepara-se para inaugurar em Juiz de Fora (MG) uma fábrica com capacidade para produzir 36 mil toneladas anuais de estruturas metálicas, um investimento de R$ 95 milhões, três fábricas, duas do grupo paulista Icec e uma do gaúcho Medabil deixaram de operar do ano passado para cá. As paradas, contudo, não estariam relacionadas com os problemas setoriais, mas com decisões específicas das duas empresas. A Icec e a Medabil foram procuradas, mas não deram respostas a tempo de serem incluídas na reportagem.
A gaúcha Metasa, uma das grandes do setor, fez uma "redução drástica de custos", segundo disse o presidente do seu conselho de administração, Antônio Roso, sem especificar quais foram os cortes. O empresário disse que "o setor está sendo afetado pela desindustrialização" e que, embora com encomendas em carteira para 2012, teme que o aumento de importações possa "causar problemas além dos que já estão ocorrendo.
O presidente da Usiminas, Wilson Brumer, disse que a Codeme "está operando a plena capacidade", mas reconheceu que o setor enfrenta momento difícil. "Estamos vendo várias fábricas de estrutura metálica sendo fechadas."
Segundo Santos, da Abcem, há hoje empresas que estão preferindo importar e reduzir a produção própria, dadas as vantagens da importação. Nos setores de mineração e siderúrgico, muitas obras, de acordo com o executivo, estão sendo feitas com estruturas importadas. "No Comperj [complexo petroquímico da Petrobras no Rio de Janeiro], grande parte [das estruturas metálicas] está sendo comprada no Brasil, mas se eles quisessem importar teriam facilidades, inclusive isenção de impostos".
Segundo Santos, o preço do aço brasileiro está hoje de 8% a 10% mais caro do que o importado e não explica as vantagens das estruturas importadas sobre as nacionais. Além do câmbio, ele considera que as diferenças de custos de mão-de-obra e tributário, mais as carências de infraestrutura, que encarecem o transporte, formam um conjunto que, aí sim, justificam importados mais baratos.
Além dos tradicionais concorrentes da China e da Coreia do Sul, o setor estaria agora enfrentando a concorrência de fornecedores da Turquia e de Portugal. No caso português, a empresa Martifer, que recentemente ganhou contratos para fornecer e montar as estruturas metálicas dos estádios da Fonte Nova, em Salvador, e do Castelão, em Fortaleza, ambos futuras arenas da Copa do Mundo de 2014, e também para o novo estádio do Grêmio de Porto Alegre. A empresa está construindo uma fábrica de estruturas metálicas em Pindamonhangaba (SP) para atender a demanda brasileira.
As obras da Fonte Nova e do Castelão têm financiamento do BNDES, respectivamente, de R$ 323,6 milhões e de R$ 351,5 milhões, mas o banco estatal informou que estruturas metálicas não são passíveis de serem financiadas por ele. No caso dos estádios, os financiamentos aos governos da Bahia e do Ceará correspondem a 46% e a 75% da obra, respectivamente.
A Odebrecht, uma das sócias do consórcio que constrói o novo estádio da Fonte Nova (a outra é a OAS), informou que seu contrato é com a Martifer Construções Metálicas Ltda., a filial brasileira, com sede em Pindamonhangaba. O contrato tem o valor de R$ 37,45 milhões e prevê fornecimento e montagem da cobertura e do deck metálicos, além de cabos. A Martifer foi procurada, mas não respondeu a tempo ao questionário enviado pelo jornal.
De acordo com o presidente da Abcem, o setor de estruturas metálicas brasileiro tem capacidade para processar de 1,5 milhão a 1,8 milhão de toneladas de aço por ano, sendo cerca de 550 mil nas grandes empresas. Ele estima que de 50 mil a 60 mil pessoas trabalhem nas empresas do setor.
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