Notícias
A medida do governo federal que elevou em 30 pontos percentuais a alíquota do IPI para os carros com índice de nacionalização abaixo de 65%, na verdade deverá impor uma alíquota de no máximo 20%, em média, de componentes realmente fabricados no País. Essa redução do conteúdo realmente nacional decorre da incidência desse índice sobre a receita da indústria automotiva quando vende o produto para a concessionária, ou seja, é contabilizado o custo de produção, de marketing, pintura e até mesmo a margem de lucro do fabricante.
Essa é a conta do presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes Para Veículos Automotores (Sindipeças), Paulo Butori. De acordo com o executivo, apesar de as medidas não terem sido exatamente o que desejava o setor de autopeças, ele classificou a medida como positiva para o setor e que o seu reflexo será verificado com o aumento do faturamento das empresas, mas isso apenas em 2012. Para este ano, sua expectativa é de que o déficit comercial seja menor que o projetado antes das medidas, US$ 4,5 bilhões.
"A medida é um avanço importante para o setor, pois antes não havia nada, uma montadora de carros, como a Hyundai, que tem fábrica em Goiás podia fabricar seu carro sem colocar nenhuma peça nacional, tudo importado, até o pneu", exemplificou Butori. "Agora, esse cenário mudou, não dá para saber ainda quanto o nosso faturamento aumentará, mas com mais demanda o setor de autopeças aumentará seu faturamento", complementou Butori.
Essa expectativa não foi confirmada pela Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Porém, seu presidente, Cledorvino Belini, confirmou que a o conteúdo nacional na casa de 65% não envolve toda a cadeia de peças que são utilizadas nos produtos que o setor fabrica em território nacional.
Belini quebrou o silêncio da entidade, que não havia se manifestado desde a quinta-feira (15), dia em que o governo divulgou as novas regras para o setor automotivo. Segundo o executivo, que recebeu o Prêmio Personalidade Mundial de Vendas da FenaADVB, ontem, em São Paulo, esse programa afeta também as montadoras brasileiras que importam veículos de outras áreas que não foram prejudicadas com a elevação da incidência de IPI.
Ele defendeu a medida em decorrência da verdadeira invasão dos importados no mercado brasileiro. De acordo com números da Anfavea, de 2005 a 2011 os veículos produzidos no exterior e que foram comercializados no Brasil aumentaram em 865%, e devem chegar a 850 mil unidades vendidas este ano. Esse volume representa 23% de todo o mercado nacional. Nesse mesmo período, afirmou Belini, 60% da perda brasileira no saldo comercial veio do setor automotivo.
"Já fomos montadoras de CKDs (nome dos carros desmontados que eram importados)", disse Belini. "Porém, de 1980 até 2010 nosso investimento foi de US$ 70 bilhões, respondemos por 22,5% do PIB Industrial. Hoje somos fabricantes e somos os que mais têm tradição entre os países dos BRICS", ressaltou ele. Belini afirmou ainda que a previsão de investimentos até 2015, que é de US$ 19,5 bilhões, deverá ser reforçado com mais outros aportes após as medidas em função de privilegiar a empresa que investe em aumento de capacidade no Brasil.
Fator China
Esse problema citado por Belini tem um endereçamento certo: China. De acordo com uma fonte do mercado que não quis se identificar, as medidas foram construídas em parceria com as maiores montadoras instaladas por aqui e têm a meta de frear a expansão das marcas que chegaram com produtos de baixo preço, a Chery e a JAC Motors.
No acumulado do ano os veículos da China já representam 9,6% das vendas do total de importados. De janeiro a agosto deste ano, segunda a entidade que representa as montadoras, chegaram do exterior pouco mais de 624,5 mil veículos, a maior parte veio da Argentina (40%) da União Europeia (14,7%) e do México (10,5%). Dessas origens, os dois países americanos estão dentro do acordo comercial e da Europa vêm basicamente os veículos de alto luxo, que dificilmente sentirão o efeito do aumento do IPI. Essa situação não é a mesma para os veículos chineses, que competem com a maior fatia de vendas das montadoras nacionais.
o maior receio do mercado após o anúncio das medidas é o aumento dos preços dos veículos brasileiros como efeito da perda da competitividade dos chineses, que segundo o ministro da Fazenda, podem ficar entre 25% e 28% mais caros com o aumento do imposto. Como esses veículos forçaram as montadoras a baixar seus preços e, ao mesmo tempo, equipá-los com mais opcionais, agora as fabricantes nacionais poderiam recompor o valor desses veículos.
"Não acredito que ocorra aumentos. Temos 19 montadoras que competem no mercado e cada uma quer manter ou aumentar sua participação", resumiu o executivo, que negou a perspectiva de penalização do consumidor com o aumento do IPI.
Gostou? Então compartilhe:
Faça seu login
Ainda não é cadastrado?
Cadastre-se como Pessoa física ou Empresa