Notícias
Na discussão dos rumores de que o governo poderá aumentar o IPI de carros importados para proteger os fabricados no Brasil, José Luiz Gandini, presidente da Abeiva, resolveu partir para o ataque, sem meias palavras: “Acho isso um absurdo. O que a indústria quer é conseguir um diferencial competitivo sem precisar investir em tecnologia. Os importadores não podem ser prejudicados por causa de falta de avanços tecnológicos das montadoras nacionais”, afirmou o representante da associação dos importadores sem fábrica no País.
Gandini defende que aumentar o IPI de veículos importados, “que já pagam o pênalti de 35% de imposto de importação”, neste momento só iria prejudicar os importadores sem trazer nenhum benefício ao País. “Acho que medidas do governo não podem beneficiar só meia dúzia de montadoras, mas o País, com incentivo à produção de carros mais econômicos, que poluem menos, que usem motores flex”, reforçou.
O presidente da Abeiva diz ter “ouvido rumores do mercado” de que até a próxima sexta-feira, 16, o governo poderia majorar para algo como 56% o IPI de carros importados (a alíquota hoje vai de 7% a 25%, dependendo do tamanho do motor e combustível). “Alguma coisa vai acontecer. Todo mundo sabe disso. As notícias são que o ministro (Guido) Mantega (Fazenda) não se entende com o (Fernando) Pimentel (Desenvolvimento). A Fazenda estaria defendendo o aumento do imposto com desconto para quem se enquadrar em certos critérios, que não sabemos quais são. Já o Ministério do Desenvolvimento quer incentivos para quem investir mais em tecnologia e redução de consumo, o que seria o melhor caminho na minha opinião”, relatou.
Alvo errado
Se o governo realmente elevar a tributação dos importadores sem fábrica no Brasil, Gandini diz que os formuladores da política industrial estarão atirando no alvo errado. Isso porque, segundo os dados da Abeiva, as 129.281 unidades comercializadas pelos 27 associados da entidade de janeiro a agosto deste ano representaram apenas 5,8% dos emplacamentos de automóveis e comerciais leves novos no período. “Com certeza não é esse volume que está fazendo aumentar o estoque das montadoras. O problema delas é que produzem só modelos de entrada que deixaram de ser comprados pelas pessoas que não conseguem mais crédito no mercado, devido à maior restrição na aprovação dos contratos este ano”, avalia.
Com os consumidores de renda menor fora do mercado de zero-quilômetro por falta de crédito para eles, sobraram os clientes que já têm, no mínimo, um carro para dar o valor de entrada do financiamento e que procuram por produtos mais sofisticados. Segundo Gandini, prova disso é que nenhuma importadora está sofrendo com os atuais problemas de aprovação de financiamentos, até porque muitos desses veículos têm preço elevado e são comprados por quem pode pagar à vista. Também não há estoques. Muito pelo contrário, para vários modelos há filas de espera.
O presidente da Abeiva cita o exemplo da Kia, a maior das importadoras da Abeiva, da qual ele é o proprietário: “O ideal seria trabalhar com estoque de dois meses, cerca de 15 mil carros, mas em agosto só tinha 200 unidades”, revela. Do total de vendas da Kia, em torno de 40% são financiadas: “São os modelos abaixo de R$ 40 mil, mas nunca financiam 100% do valor me os prazos vão de 12 a 24 meses.”
Defasagem tecnológica
Para Gandini, “está claro” que a indústria automobilística nacional deixou de investir em tecnologia e design dos produtos feitos aqui e por isso está perdendo mercado. “Eles não produzem carros para competir com o resto do mundo. Temos modelos feitos aqui com projetos de 20 a 30 anos, sem comparação com o nível dos importados que são renovados no máximo a cada dois anos. Isso acontece porque depois dos anos 90 as montadoras pararam de investir, não evoluíram”, assinala. “Não acho que a indústria nacional precisa ganhar mais para investir em tecnologia”, completou.
Gandini acredita que o governo dará o desconto de IPI para empresas, e não produtos, o que acabaria sobretaxando só o importador e beneficiando as importações das próprias montadoras, responsáveis por 75% das vendas de carros estrangeiros no País, principalmente vindos de fábricas na Argentina e no México, sem pagar imposto de importação.
“É muito difícil medir o grau de nacionalização dos carros feitos no Brasil. Na prática, a montadora compra conjuntos com uma série de componentes importados e diz que é nacional. Por isso defendo que qualquer benefício deva ser dado à evolução tecnológica e à economia de combustível, como por exemplo aos modelos que aderiram à etiquetagem veicular do Inmetro: quem gasta menos deveria pagar menos imposto”, defende.
Gostou? Então compartilhe:
Faça seu login
Ainda não é cadastrado?
Cadastre-se como Pessoa física ou Empresa