Cadeia metal mecânica responde por 60% das exportações chinesas

Um estudo acadêmico encomendado pela indústria brasileira de aço e apresentado hoje pela primeira vez em São Paulo transformou-se um manifesto contra a política cambial da China e as crescentes importações de produtos industrializados da Ásia, como máquinas, automóveis e eletrodoméstcios.

A pesquisa envolveu as quatro maiores economias da América Latina, Brasil, Argentina, Colômbia e México, e mostrou números alarmantes sobre o processo de desindustrialização na região.

Mais de 60% das exportações chinesas para o Brasil são de produtos da cadeia metal-mecânica, que usam aço como matéria-prima. Mas apenas 2% das exportações brasileiras para a China são de produtos maufaturados, feitos com aço. Quase a metade (44,8%) das importações brasileiras é de produtos do setor metal-mecânico.

Dilma é mais aberta a discutir o problema que Lula
A clara intenção do estudo é sensibilizar os governos para o problema da desindustrilaização das economias latino-americanas. Esse processo, na avaliação das siderúrgicas, está sendo provocado por uma política cambial predatória por parte da China, que mantém a sua moeda artificialmente desvalorizada.

As siderúrgicas brasileiras avaliam que a presidente Dilma é mais aberta a discutir o problema que o ex-presidente Lula. Segundo o presidente da Gerdau e do Instituto Aço Brasil (IAB), André Gerdau Johannpeter, Dilma “tem feito declarações fortes” neste sentido, demonstrando haver uma preocupação do governo com a perda de competitividade da indústria brasileira.

“No governo Lula, não se podia falar a palavra desindustrialização”, diz Germano de Paula, professor da Universidade de Uberlândia e que coordenou o estudo acadêmico no Brasil e nos demais países.

Em vez de mostrar uma radiografia do setor de aço, o Instituto Aço Brasil e o Instituto Latino Americano de Ferro e Aço (Ilafa) fizeram um estudo sobre os efeitos das importações chinesas sobre os seus consumidores: as empresas da cadeia metal-mecânica.

As indústrias que consomem aço, como as montadoras, sempre travaram uma queda de braço com as siderúrgicas em torno dos preços cobrados pela matéria-prima no mercado interno. A realização do estudo sugere que os fornecedores de aço acreditam que, agora, conseguirão convencer os seus compradores a se transformarem em um aliado contra as importações chinesas.

Protecionismo
O Brasil impõe uma alíquota de 12% sobre aço importado. Perguntado se o setor espera que os consumidores venham um dia a apoiar uma elevação do imposto de importação sobre o aço chinês, Johannpeter respondeu que existem outras medidas que poderiam ser adotadas para combater a política cambial chinesa, como a redução de encargos incidentes sobre o setor produtivo.

Com os desequilíbrios cambiais, a alíquota de 12% sobre as importações de aço já não protege mais o setor, avalia o presidente do IAB, Marco Polo de Mello Lopes. Se consideradas as taxas de câmbio no Brasil e na China, o Brasil está “desprotegido” em 45%, segundo ele. Isso significa que, em vez de 12%, a alíquota de importação deveria ser de 45% para que tivesse o mesmo efeito protecionista.

Pesquisa acadêmica
Segundo o professor do Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlândia, Germano de Paula, o estudo buscou trazer dados estatísticos confiáveis que nunca haviam sido formulados. São mais de 70 de páginas de pesquisas realizadas nos quatro países por acadêmicos. No caso do México, por exemplo, o câmbio não está valorizado. Mas o país sofre com outros problemas.

Essa é a primeira vez que a indústria de aço traça um panomarama sobre todos os setores que consomem a matéria-prima. Segundo de Paula, as indústrias de máquina conhecem o seu segmento e as empresas de construção conhecem o seu mercado. Mas o obejtivo do estudo foi dar uma visão mais ampla do que está acontecendo em todos os setores.

Câmbio chinês
O presidente executivo do IAB, Marco Polo de Mello Lopes, não espera que a China mude a sua política cambial, apesar das crescentes pressões internacionais. Na sua avaliação, o Brasil também não voltará a ter as mesmas taxas desvalorizadas de câmbio que possuía no passado devido ao desenvolvimento e ao processo de amudercimento da economia nacional. "Um país que pretende ser desenvolvido não pode ter um câmbio desvalorizado. A China é o único país que faz isso de forma artificial".


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