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A China está agora direcionando mais investimentos para o setor industrial no Brasil e novos planos para o país surgem "quase todo dia", afirma o embaixador do Brasil em Pequim, Clodoaldo Hugueney, enquanto prossegue o debate entre especialistas sobre a dependência crescente na relação bilateral.
O secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Alessandro Teixeira, diz que já dá para perceber investimentos de Pequim na área industrial, com base em negociações mantidas com empresários chineses nas últimas duas semanas. "Recebi duas montadoras chinesas e duas de eletrônicos para conversar sobre investimentos que, conjugados, somam alguns bilhões de dólares", observa. Ele não revela os nomes das companhias, mas adianta que o plano delas prevê produção no Brasil a partir de 2014.
De acordo com alguns analistas, a China começa a se interessar pelo setor industrial no Brasil devido à estagnação dos mercados americano e europeu, "mas, em princípio, serão maquiladoras", disse um deles. Teixeira, porém, reagiu: "Não posso dizer que são maquiladoras, porque quando sentamos com os chineses e outros deixamos claro que o que nos interessa é que os investidores utilizem a cadeia de suprimento nacional."
De acordo com um estudo do MDIC, os investimentos chineses anunciados no Brasil entre 2003 e março deste ano somam US$ 37,1 bilhoes, totalizando 86 operações - parte em investimento novo, parte em fusões e aquisições. A maioria desses aportes é para garantir o abastecimento em matérias-primas.
A maior concentração de anúncios é no setor de metais, com 56,5% do total, seguido pelo setor de petróleo, gás e carvão, com 28%; energia elétrica com 5,1%; setor automotivo com 4%; e logística e transporte com 1,9%. Somente em 2010, os investimentos chineses anunciados no país totalizaram US$ 17,1 bilhões. Em termos concretos, somente no modo de aquisições os chineses fizeram seis operações até meados de agosto no Brasil, no total de US$ 539 milhões, dos quais 84% foram para o setor de material de construção, conforme o provedor de dados Dealogic, de Londres.
Globalmente, os chineses já gastaram aproximadamente US$ 172,7 bilhões em aquisições no exterior desde 2008 - sendo 61% na área de petróleo e gás, o que serve para ilustrar a estratégia do país asiático de assegurar o acesso a matérias-primas.
Para Hugueney, a prioridade brasileira com a China é implementar o "salto qualitativo" na relação bilateral proposto pela presidente Dilma Rousseff durante sua viagem à China, a primeira que fez ao exterior depois de sua posse no Brasil.
Isso passa pela mudança na composição da pauta de exportação brasileira e também chinesa. O embaixador brasileiro acha que a abertura de uma agência do Banco do Brasil na China representará um enorme avanço para apoiar empresas brasileiras exportadoras que operam ou pretendem investir no país.
Nos próximos dias o BB entrará com o pedido formal de abertura da agência e os chineses prometeram fazer um exame acelerado da demanda. Ao mesmo tempo, o Banco Comercial e Industrial da China, um dos maiores do mundo em termos de ativos, espera autorização do Banco Central para se instalar no Brasil.
Para Hugueney, não se deve ter medo da China e sim saber negociar e criar condições para maximizar o potencial da relação econômica bilateral. Para ele, não há nada de errado com a complementaridade e as exportações de matérias-primas do Brasil para a China. "Pelo contrário, elas ajudaram o Brasil a superar rapidamente a crise e hoje alavancam o comércio exterior brasileiro, com mais de US$ 5 bilhões de superavit bilateral até agora em 2011", disse.
Jorge Arbache, assessor da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e professor da Universidade de Brasília, compara a parceria com a China ao "canto da sereia" da "Odisseia" de Homero: é sedutora e irresistível, mas traz riscos não negligenciáveis. Isso porque a relação econômica bilateral, como é hoje, é crescentemente assimétrica e beneficia o Brasil no curto prazo, mas incentiva e encoraja uma crescente dependência da economia brasileira à economia chinesa no longo prazo.
O economista argumenta que, para ser duradoura e proveitosa, a relação econômica Brasil-China requer uma visão menos pragmática e mais estratégica por parte do Brasil.
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