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Há cerca de dois meses, o cais de Vitória do Xingu, no Pará, recebe quase que semanalmente uma quantidade expressiva de maquinário pesado usado em construção. São máquinas e equipamentos que saem do porto de Belém e fazem uma viagem de aproximadamente 80 horas pelo rio Xingu até chegar ao local, de onde partem para as obras do maior projeto hidrelétrico em curso no país: a usina de Belo Monte.
O primeiro lote aportou ali no dia 5 de julho com dez tratores, sete motoniveladoras, sete rolos compactadores, cinco pás carregadeiras, cinco escavadeiras e três retroescavadeiras - equipamentos da chamada linha amarela da indústria de bens de capital.
Até o momento, aproximadamente 700 máquinas pesadas foram contratadas para Belo Monte, incluindo uma encomenda de 540 caminhões fechada com a Mercedes-Benz. Já as máquinas da linha amarela são da Caterpillar, compradas por meio da Sotreq, revendedora da fabricante americana. Segundo o consórcio responsável pelas obras da usina - liderado pela Andrade Gutierrez -, metade do maquinário tem entrega prevista até dezembro.
Belo Monte é o empreendimento mais importante, mas não é o único que está ajudando a engordar as carteiras de pedidos na indústria de bens de capital. Para a construção da usina hidrelétrica de Santo Antônio, no rio Madeira, foram contratados 44 tratores, 65 escavadeiras, 15 gruas e 229 caminhões.
Na usina de Teles Pires, cuja licença ambiental de instalação foi concedida pelo Ibama este mês, a Odebrecht, responsável pelas obras, já comprou 80 caminhões, onze tratores, 14 escavadeiras e 19 máquinas de perfuração de solo, além de 18 caminhões tipo fora-de-estrada da Randon.
Essa última encomenda se soma a outros 30 caminhões entregues pela Randon nas obras da usina de Santo Antônio. "Nossa relação com hidrelétricas vem desde a construção das barragens de Itaipu, quando nossas máquinas também foram utilizadas", conta Norberto Fabris, diretor de implementos e veículos da empresa, sediada em Caxias do Sul (RS).
Executivos do setor de máquinas e equipamentos avaliam que as necessidades das hidrelétricas em obras vão além do que já foi contratado, algo que abre a possibilidade para novos negócios nos próximos meses. Yoshio Kawakami, presidente da Volvo Construction Equipment (VCE) na América Latina, cita planos de colocar os caminhões articulados da marca em Teles Pires. Diz também que Belo Monte ainda vai ter "necessidade significativa" desse tipo de veículo, capaz de operar em áreas de difícil acesso. "É uma oportunidade que vemos, mas ainda não fechamos nada."
O braço de máquinas para construção do grupo sueco Volvo - que espera alcançar neste ano uma receita superior a US$ 700 milhões na América Latina - já negociou de 30 a 40 caminhões para as obras das usinas de Santo Antônio e Jirau, também no rio Madeira.
Na Randon Veículos, Fabris diz que negocia mais vendas relacionadas a obras de hidrelétricas, mas de porte inferior aos últimos contratos anunciados. "Existe a possibilidade de algo mais", afirma o executivo, que prevê vender 110 caminhões neste ano.
De acordo com o consórcio construtor de Belo Monte, novos lotes de caminhões poderão ser encomendados no futuro, mas no momento não há previsão de outros pedidos. Dos 540 caminhões negociados com a Mercedes-Benz, 398 são do tipo fora-de-estrada, que podem enfrentar condições extremas de operação.
Estimativas da Sobratema, entidade que coleta informações sobre esse mercado, apontam consumo de 77,82 mil equipamentos de construção este ano. Disso, 27,35 mil unidades da linha amarela. Segundo índices conjunturais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção de bens de capital para construção evoluiu 19% no primeiro semestre.
A expectativa de investimentos robustos em infraestrutura já levou alguns fabricantes estrangeiros - como as asiáticas Hyundai, Doosan, Sany e XCMG - a anunciar planos de montar fábricas no país.
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