SC terá primeiro Instituto de Petróleo em 2012

A Lei do Petróleo estabeleceu em 2004 que fosse destinado 1% do faturamento bruto de campos que tenham alta produtividade a Pesquisa e Desenvolvimento, destes 50% devem ir para as universidades. Por conta disso, desde 2006 laboratórios de pesquisa em todo o país começaram a receber um forte investimento para estudos em diversas áreas de atuação da Petrobras, como simulação, corrosão, robótica, remediação da contaminação. No ano passado foram investidos mais de R$ 110 milhões em 133 convênios das 50 redes temáticas, criadas a partir de 2006.

De acordo com a gerência de comunicação da Petrobras, a ampliação do Cenpes (Centro de Pesquisas Leopoldo Américo Miguez de Mello) é parte de uma estratégia da Petrobras para ampliação da capacidade experimental do parque tecnológico brasileiro. Nos últimos três anos, a Petrobras investiu cerca de R$ 4,8 bilhões nos últimos três anos (2007-2009), sendo que R$1,2 bilhão foram direcionados a universidades e institutos de pesquisa nacionais, parceiros da Petrobras na construção de infraestrutura experimental, na qualificação de técnicos e pesquisadores e no desenvolvimento de projetos de pesquisa.

Em 2011, Santa Catarina terá seu primeiro centro de pesquisa em petróleo, apesar de já ter laboratórios que trabalham na área há 20 anos. O Inpetro tinha previsão para ser inaugurado já no ano passado, mas a nova previsão do coordenador do projeto, Armando Albertazzi é de que o prédio esteja em pleno funcionamento na metade de 2012. A construção civil está praticamente pronta, mas para a parte elétrica ainda será necessário mais recursos para finalizá-la, os equipamentos básicos já foram comprados, mas a maioria ainda falta ser adquirida. Confira abaixo a entrevista concedida ao CIMM por Armando Albertazzi, também coordenador do Laboratório de Metrologia da Centro Tecnológico.

Portal CIMM: Como começou o projeto do Inpetro?
Armando Albertazzi:
A Petrobrás em 2006 nos chamou para dizer que tinham recursos para investir em infraestrutura e nos chamaram para participar da Rede Temática (cenpes) e junto conosco participaram sete ou oito universidades. Na segunda reunião eu levei uma proposta que era basicamente a ampliação do Labmetro, com mais mil metros quadrados. E nessa reunião o responsável pela Petrobrás avisou “muito bom este seu projeto, mas nós estamos pensando em algo de futuro. Não pense no ano seguinte, pense no que vai precisar daqui 10 ou 15 anos. Volte lá para sua universidade, converse com seus colegas e traga uma nova proposta.” Bom, não é comum a gente ouvir este tipo de respostas.
Então conversei com colegas que sabia que tinham pesquisas relacionadas a rede temática e começamos a pensar em possibilidades de trabalhos conjuntos e nós conseguimos recursos para financiar uma ampliação de 3.800m². E para nossa surpresa, tudo que nós pedimos foi aprovado. Estaremos em seis laboratórios no prédio, mas já há um novo prédio sendo construído no Sapiens Parque em pesquisa para fármacos.

CIMM – Porque investir em um Instituto de Petróleo em um Estado que não tem extração?
AA -
O que está se falando aqui é montar um centro de pesquisa capaz de atender a esse setor, da mesma forma que poderia ser a indústria automotiva. Nós não temos uma montadora aqui, mas temos capacidade de atender. Existe uma segunda intenção também por trás, é que a universidade não tem um nome muito forte na área de petróleo de gás e a gente quer mudar isso. Quando nós temos um instituto nós mudamos essa conotação. E isso é bom porque ajuda a captar mais recursos para o futuro.

CIMM – O Instituto fará pesquisas exclusivamente para Petrobras?
AA -
A Petrobras pagou a conta, o Instituto de Petróleo é da UFSC. O terreno é da UFSC e a construção será mantida pela UFSC. Certamente a Petrobras financiará boa parte desses projetos, mas a empresa deixou bem claro que não quer exclusividade e nos incentiva ter outras instituições parceiras. Como exemplo, posso citar a Embraer e o Gasoduto Brasil Bolívia.
A Embraer está começando a usar um material composto com fibra de vidro porque ele é leve e resistente. Já trabalhamos com esse tipo de material para Petrobras, o qual é muito difícil de ser trabalhado, mas muito útil para detectar falhas em materiais com o laser. Isto é de grande interesse para proteger os tanques contra corrosão.

CIMM – As pesquisas já realizadas pelos laboratórios terão seguimento?
AA –
Sim, serão as mesmas que são já são feitas, só teremos um espaço maior e mais equipamentos. E com o passar do tempo desenvolveremos novas tecnologias a depender da demanda nacional.

CIMM – Quais são as principais demandas do setor de petróleo hoje?
AA -
O que está na moda hoje em dia o pré-sal. Você precisa trabalhar em profundidades muito abaixo do que hoje a Petrobrás trabalha e isso exige materiais diferentes, técnicas diferentes para controlar os poços. Hoje ainda não existe materiais próprios para isso, então em todos esses termos a indústria de petróleo e gás tem muita necessidade de novas tecnologias.

O instituto pretende atuar fortemente em pesquisas com o pré-sal, mas não apenas. Nós temos interlocutores dentro da Petrobrás que nos trazem demandas. De certa forma, ficamos um pouco condicionados pelos contatos e pelas solicitações recebemos.

CIMM – Como funciona a rede do Cenpes?
AA -
Os institutos no Brasil têm focos diferentes. A Petrobras também apóia vários Institutos no Brasil, alguns muito maiores do que o Inpetro, como na UFRJ. Alguns já estão em funcionamento, outros ainda em construção, mas espera-se que em dois anos se tenha uma rede fantástica de colaboração entre várias universidades. Esses laboratórios têm uma preocupação de trabalhar em rede. Cada local tem certa especialidade e os projetos muitas vezes são multiespecializados e você tem que juntar o conhecimento de vários grupos de pesquisa. Existe algumas sobreposições, mas geralmente são projetos complementares.

No caso do Inpetro, nossos focos estão na área de soldagem, inspeção com métodos ópticos, automação em processos e controle aplicados à indústria do petróleo, simulação numérica de escoamento.

 


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