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A utilização de capacidade instalada na indústria de transformação se acomoda neste ano num nível inferior ao de meados de 2010, deixando de ser fonte de pressão inflacionária, ao mesmo tempo em que estimula menos as empresas a investir. Num cenário de forte concorrência do importado, queda da confiança do empresariado e arrefecimento da demanda, é mais um fator a limitar a expansão da formação bruta de capital fixo (FBCF, medida das contas nacionais do que se investe na construção civil e em máquinas e equipamentos). A maturação de alguns investimentos feitos a partir de 2009 e a própria perda de fôlego de produção ajudam a explicar a menor capacidade instalada, segundo analistas.
Hoje, há mais ociosidade nos setores de bens de consumo duráveis e não duráveis e no de material de construção, enquanto os segmentos de bens de capital e bens intermediários (insumos e matérias-primas) têm a utilização de capacidade mais próxima das máximas atingidas no ano passado.
Em maio, a capacidade instalada na indústria de transformação ficou em 84,4%, mais de 1 ponto percentual abaixo dos 85,5% de junho de 2010, na série com ajuste sazonal da Fundação Getulio Vargas (FGV). O economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, diz que, segundo suas estimativas, o nível de utilização de capacidade que estimula o investimento é superior a 81,5%. Com isso, os 84,4% de maio ainda impulsionariam as inversões, mas menos do que em boa parte de 2010. A maior ociosidade na indústria é um dos fatores que o levam a projetar alta bem mais modesta da formação bruta neste ano - ele espera crescimento de 5,2%, bem inferior aos 21,9% de 2010, ainda que esse número esteja inflado pela fraca base de comparação de 2009, quando o investimento recuou 10,3%.
O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, também vê essa situação da indústria de transformação como um dos motivos para a desaceleração dos investimentos neste ano. "Ela será um patinho feio neste ano", diz ele. "A indústria de transformação terá gradativamente menos capacidade de investimento daqui para à frente, também dadas as próprias condições da economia: juros maiores, inflação mais alta, levando o câmbio real a piorar ainda mais e pedidos mais fortes de aumentos salariais." Vale acabou de revisar para baixo a sua projeção para a expansão do investimento para este ano, de 9,6% para 7,6%.
O uso de capacidade instalada teve queda considerável no setor de bens não duráveis. Na média de abril e maio, ficou em 80,2%, bastante inferior aos 83,3% do segundo trimestre de 2010. Houve aumento expressivo na ociosidade do setor de vestuário, calçados e artefatos de tecidos, que na classificação da FGV entram como não duráveis. A utilização de capacidade caiu de 87,6% em setembro de 2010 para 83% em maio deste ano, feito o ajuste sazonal.
Para Borges, esse recuo se deveu mais ao mau desempenho da produção do que a eventual aumento da capacidade produtiva por conta da maturação de investimentos. "Entre outubro de 2010 e abril de 2011, a produção industrial do setor têxtil recuou 8,8%, já descontando a sazonalidade. No mesmo período, o segmento de vestuário e acessórios teve expansão pífia da produção, de 0,5%." O coordenador das sondagens da FGV, Aloísio Campelo, lembra que esses setores sofrem bastante com a concorrência do importado, o que desestimula o investimento.
No segmento de bens duráveis, que inclui automóveis e eletroeletrônicos, também houve aumento da folga na utilização de recursos. Na média de abril e maio, ficou em 88,3%, abaixo dos 89,8% do segundo trimestre do ano passado. Para Borges, esse movimento se deve em alguma medida à maturação de investimentos feitos a partir da segunda metade de 2009, mas também ao ímpeto menor do ritmo de produção do setor. Com a alta de juros e a restrição ao crédito, as perspectivas são de um ano menos exuberante para a indústria automobilística, ainda que as vendas sigam fortes, diz Borges.
O setor de material de construção é outro em que a capacidade instalada mostra trajetória de queda. Na média de abril e maio, ficou em 88,5%, abaixo dos 90,9% do segundo trimestre do ano passado. "Houve desaceleração em lançamentos, o que pode estar diminuindo o ritmo do setor", diz Vale, observando que o investimento do governo federal também perdeu força neste ano, num cenário de maior esforço fiscal.
A situação é um pouco diferente no segmento de bens de capital, em que a capacidade instalada segue num patamar razoavelmente elevado. Para Campelo, as inversões ainda fortes no começo do ano, para aproveitar as condições ainda favoráveis do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) do BNDES, ajudam a explicar o movimento, aliado ao fato que o próprio setor de bens de capital parece ter investido pouco em ampliação da capacidade produtiva recentemente.
Vale aponta outro fator para explicar esse comportamento mais favorável: o efeito indireto do bom momento dos setores que produzem commodities, o que se traduziria em demanda forte para máquinas. No setor de bens intermediários, o uso de capacidade tem dado sinais de acomodação, mas ainda está elevada. Para Borges, aí ocorreu maturação de investimentos, mas nada muito relevante.
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