Fonte: IDER - 21/05/07
Depois do encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quarta-feira passada, o presidente do Senegal desembarcou, ontem, na capital cearense. Abdulaye Wade esteve no País para assinar protocolo referente ao acordo técnico Brasil-Senegal - que dará suporte nacional para o desenvolvimento do programa de biodiesel no país africano. No Ceará, o presidente do Senegal visitou a Tecbio - Tecnologias Bioenergéticas, uma das 17 empresas incubadas no Padetec/Nutec (campus do Pici/Universidade Federal do Ceará). A Tecbio, que possui laboratório de pesquisa e desenvolvimento de biodiesel a partir da mamona, vai prestar serviços e fornecer equipamentos ao governo senegalês com a assinatura de um convênio de cooperação técnica.
Para explicar aos africanos de língua francesa a importância do biocombustível - menos poluente que o combustível derivado do petróleo e uma energia renovável, o diretor-presidente da Tecbio, Expedito Parente, usou os números da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis: em 2006, o Brasil consumiu 36,7 bilhões de litros de diesel (o Ceará, 540 milhões; 10% do total do consumo no Nordeste). Nas contas do engenheiro Expedito Parente, pai do biodiesel cearense, "1% de substituição de óleo diesel por biodiesel, no consumo brasileiro, geraria 45 mil empregos no campo e 180 mil na cidade". O Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel propõe misturar 2% do combustível de origem vegetal ao diesel advindo do petróleo. Até 2010, ressaltou o governador Cid Gomes durante a recepção ao presidente estrangeiro, esse percentual deve subir para 5%.
Mas o presidente Abdulaye Wade mostrou-se bem mais interessado em outros números. Em seu francês impaciente, quis saber sobre o "lado prático" da cooperação Brasil-Senegal. Perguntou quanto lhe custaria a importação do biodiesel local e quando seu próprio país se tornaria produtor. O Senegal, pioneiro no mundo a instalar um ministério de Energias Renováveis, destacou Wade, "tem sofrido com o aumento do petróleo". Daí a urgência em usar o biodiesel "de forma imediata".
O também diretor da Tecbio, José Neiva Santos Júnior, que acompanha a comitiva senegalesa desde Brasília, respondeu que "entre cinco, seis meses" o Ceará já pode fornecer uma unidade de produção semelhante a existente no Padetec/Nutec - que produz 10 litros por hora. Abdulaye Wade insistiu em negociar o preço da exportação do biodiesel cearense ali, em reunião a portas abertas, o que provocou certo constrangimento no governador Cid Gomes e nos diretores da Tecbio e o abreviamento da visita ao laboratório da empresa. Os visitantes africanos saíram sem ver o trator, abastecido com o combustível alternativo, fazer sua exibição.
O convênio de cooperação técnica, explicou Neiva Júnior, é o instrumento inicial para gerar planos de trabalho e orçamentos. "Não estão definidos volumes de importação, preços", sublinhou. O documento prevê tanto a exportação de biodiesel produzido no Estado para o Senegal quando a implementação de uma usina piloto naquele país. A Tecbio vai assessorar o processo de implantação do programa de biodiesel senegalês. "Vamos exportar o biodiesel, o que já é bom para o Estado, e vamos exportar tecnologia daqui", ressaltou Neiva Júnior. "No futuro, a idéia será vender outras usinas pequenas e construir uma grande usina, que produza cem mil litros por dia", completou. Nos planos do governo do Estado, o Ceará deve ampliar sua área de produção de mamona para 30 mil hectares (são cerca de 12 mil, atualmente) ainda este ano. O que já dá para abastecer o mercado local como propõe o Programa Nacional do Biodiesel. "Mas nossa meta é muito mais ambiciosa", intercalou Cid Gomes, objetivando chegar a "mais de cem mil hectares" em médio prazo. Além da mamona, investimento também no pinhão manso.
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