Setor industrial quer soluções para 2011

Indústria exige medidas para se manter competitiva, entre elas, a defesa do mercado interno é a principal

O setor produtivo brasileiro está se articulando para cobrar medidas do atual e do futuro governo a fim de que as empresas mantenham índices de competitividade. Dentre as principais ações, a principal é atuar na defesa do mercado interno contra as importações de produtos, principalmente chineses, que chegam ao Brasil com um preço muito mais baixo que os nacionais. Essa situação, relatada por líderes de empresas brasileiras globais, é causada principalmente pela apreciação do real ante o dólar e pela falta de uma política nacional que favoreça a desoneração de investimentos e exportações.

Esse posicionamento converge para o discurso que a Confederação Nacional da Indústria (CNI) apresentou ontem em São Paulo, durante a quinta edição do encontro anual que promove com empresários e entidades do setor. De acordo com o presidente da instituição, Robson Andrade, os principais temas a serem atacados pelo governo são a reforma tributária, a desoneração das exportações e a desoneração dos investimentos que atualmente levam à perda da competitividade.

"Entregamos propostas de uma política à presidente Dilma quando era candidata. Algumas dessas medidas foram aperfeiçoadas e melhoradas, outras estão com o ministro Mantega [Fazenda]", revelou ele. "O governo parece ter vontade de fazer essas reformas, o que é importante porque o Brasil vive um momento bom de crescimento e desenvolvimento e precisamos aproveitar este momento para realmente sermos a quinta economia do mundo", disse Andrade.

Indústria automotivaSegundo o presidente da CNI, essa situação de depreciação do câmbio é o resultado da instabilidade internacional e da perda de dinamismo das economias desenvolvidas, que geram incertezas, alteram o fluxo de capital e impactam no Brasil, afetando diretamente o valor da moeda nacional e reduzindo a atividade econômica. Ele indicou que para manter o crescimento dos últimos anos é necessária a elevação média do PIB em 5,5% ao ano.

Para o presidente da Braskem, Bernardo Gradin, atacar o câmbio não deverá ser o foco das medidas governamentais. Em sua opinião, esse patamar da moeda norte-americana é estrutural e ela deverá continuar depreciada ante o real. "Os Estados Unidos estão com déficit alto, e com isso estão imprimindo moeda; os chineses estão acompanhando o dólar. Sendo assim, dificilmente o país terá um câmbio favorável", afirmou o executivo, para quem a forma correta de melhorar a situação é combater a concorrência desleal de importações. Para isso, a política passaria por uma estratégia de tributação que favoreceria os investimentos brasileiros em capacidade produtiva.

Combater a enxurrada de produtos importados no Brasil também é prioridade para o empresário Jorge Gerdau. Ele lembrou que a guerra fiscal travada entre estados favorece a entrada de produtos do exterior em razão da concessão de benefícios, e o que classificou de 'festa de importações' está criando distorções que levam produtos nacionais a ficarem mais caros que os importados - e citou o caso do aço.

"Enquanto o aço nacional paga 12% de impostos, os importados por alguns estados pagam 1% ou 2% e ainda têm um prazo de 20 anos para fazer esse recolhimento", criticou ele.

Décio da Silva, presidente do Conselho de Administração da Weg, aponta justamente o câmbio como o fator estruturante mais importante a ser combatido neste momento. "Quando falamos de todas as dificuldades para a indústria brasileira ser competitiva, a mais urgente é a que trata do câmbio: é esta que afeta diretamente as empresas. Além da questão cambial, porém, há necessidades de investimentos em infraestrutura de rodovias, portos e aeroportos, que são relevantes para as exportações", disse o executivo, em São Paulo.

Silva enfatizou ainda que, diferentemente do que se pensa, essas cobranças não podem ser classificadas de "choro de exportador" porque essas medidas têm como meta proteger o mercado interno que segurou a demanda das empresas e ajudou o Brasil a sair da crise com mais agilidade do que outras nações.

Desindustrialização
Apesar de apontar os problemas estruturais que afetam a competitividade nacional, os empresários adotaram um tom de cautela para com o assunto da desindustrialização do Brasil. Para Gerdau, em razão do mercado interno forte não se pode utilizar esse termo. "Como o mercado interno está bem, esta palavra ainda é forte, mas se fizermos uma análise sobre a decisão de novos investimentos, vemos uma redução desses aportes para exportações, e este indicativo é que preocupa", disse ele.

A decisão de investir no exterior é uma oportunidade que empresas brasileiras veem como a forma de continuar a crescer. O presidente do conselho da Weg disse que as condições macroeconômicas fizeram a companhia acelerar os investimentos no exterior e não no Brasil, onde continuaram no mesmo ritmo. "Em um cenário de dificuldades a gente tem de buscar oportunidades que existem, e por isso aceleramos investimentos no exterior: acabamos de concluir a nova fábrica na Índia", comentou.

Outro fator destacado por Gradin que reduz a competitividade nacional é a falta de infraestrutura de insumos. De acordo com ele, no setor petroquímico há falta de gás e energia competitiva. "A indisponibilidade de matéria-prima nos leva a importar gás da África e da Europa", afirmou.

BNDES
O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, disse que ainda este ano o governo deverá lançar a segunda versão da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP). Dentre as medidas, será aperfeiçoado o tratamento tributário à exportação para aprimorar a incidência de impostos sobre as exportações e os mecanismos de ressarcimento de créditos tributários. Também serão combatidos os canais de importação estaduais.

Coutinho, porém, disse que o setor produtivo deverá ter de suportar a situação por mais dois anos até que as medidas de longo prazo deem os resultados esperados. "Até lá, as empresas terão de utilizar os instrumentos disponíveis e a taxa cambial para serem mais competitivas", disse ele, ao responder a Gerdau, que pediu isonomia de condições para concorrer no mercado externo.


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