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Será que os automóveis sairão um dia das fábricas sem vidros? De acordo com o engenheiro Francisco Satkunas, conselheiro da SAE Brasil e pesquisador do assunto, isso vai acontecer. E não vai demorar muito. No lugar da tradicional superfície rígida e transparente, certamente teremos, de acordo com a opinião do especialista, a proteção oferecida pelo policarbonato.
“Isso ainda não ocorre por uma questão de custo, mas a indústria está pesquisando formas de viabilizar a utilização desse material, que é muito mais versátil. Exemplo disso são as lentes dos faróis, que também eram feitas de vidro e passaram a ser feitas com policarbonato”, explica.
Entre as principais vantagens desse material, conhecido também como plástico de engenharia, na comparação com o vidro são sua reciclabilidade e a possibilidade de se obter lentes com a forma que se quer – fator que pesa muito para os projetistas, que podem não apenas liberar ainda mais a criatividade, mas aproveitar essa vantagem para aprimorar ao máximo a aerodinâmica de suas criações.
“Os para-brisas, por exemplo, são laminados, ou seja, possuem uma película de material plástico entre suas camadas de vidro. Por causa disso, reciclar esse componente é extremamente difícil. Já os vidros laterais e traseiros da maioria dos carros não oferecem esse problema porque são apenas temperados e não possuem essa proteção interna. Por isso mesmo eles não podem ser usados como para-brisa. O policarbonato resolve os dois problemas, comenta o conselheiro.
A transparência é mais uma vantagem do plástico de engenharia, que, segundo Satkunas, é até melhor que o vidro nesse quesito. Sua resistência a impactos também surpreende, mas o material reage de maneira diferente. “Quando submetido a um golpe, o policarbonato sofre uma deformação, enquanto o vidro tende a se romper por conta da rigidez superior.”
Traçando um comparativo de resistência, o conselheiro comprova mais uma vantagem do plástico de engenharia. De acordo com seus estudos, uma lente de 3 milímetros feita desse material é tão resistente quanto uma de 4 mm de vidro temperado e outra de 6 mm de vidro laminado. Além da utilização de uma quantidade menor de material, observa-se ganho de peso, outro fator levado em consideração pela indústria, que poderá utilizar uma geração de motores menores, mais racionais e eficientes, que garantirão níveis inferiores de consumo de combustível e de emissões de poluentes.
“Esse material também oferece elevada resistência aos raios ultravioleta porque aceita camadas de verniz. O policarbonato absorve esse material protetor, o que não ocorre com o vidro”, ressalta o conselheiro da SAE Brasil. Esse mesmo verniz também amplia a resistência do plástico de engenharia contra agentes químicos e temperaturas extremas.
O único ponto que ainda deixa a desejar é a fragilidade a riscos e arranhões – nesse ponto, o tradicional vidro ainda é amplamente superior. “Mas até essa característica está sendo estudada. Os engenheiros estão utilizando a nanotecnologia para aumentar a resistência das peças de policarbonato nesse sentido.”
Essa mesma técnica pode dar origem a para-brisas que não precisam de limpadores para garantir a visibilidade e a segurança em dias chuvosos. “Creio que a evolução criará um material com moléculas menores que as da água. Isso, por si só, será suficiente para repelir esse líquido. Além disso, essa tecnologia poderá aposentar os limpadores tradicionais, com seus motores elétricos e suas alavancas de acionamento, o que também trará economia para as montadoras. E esse dinheiro a mais poderia financiar justamente o desenvolvimento e a produção em escala de superfícies transparentes de policarbonato no lugar dos vidros”, comenta Satkunas.
O engenheiro lembra que alguns fabricantes já passaram a usar o material. Sua pesquisa aponta, como exemplo, o Chevrolet Corvette Targa de 2006, que saia da linha de produção com teto de policarbonato. “Outro indício de que o plástico de engenharia logo será empregado em escala industrial é sua utilização em carros-conceito. A maior parte deles é concebida para usar esse material, que, além de todas as vantagens comentadas, pode também receber pigmentos, para a alegria dos projetistas e dos consumidores.”
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