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Um grupo de pesquisadores fluminenses desenvolveu uma técnica para utilizar o bagaço da cana-de-açúcar como aditivo estabilizante nas misturas de um tipo especial de asfalto.
A técnica poderá viabilizar a chegada às ruas e estradas brasileiras o mesmo asfalto utilizado no autódromo de Interlagos. E ainda aproveitando um rejeito agrícola que hoje é queimado.
O bagaço entra na mistura em substituição às fibras de celulose normalmente utilizadas, não permitindo que o cimento asfáltico escorra durante o processo de mistura ou aplicação.
Asfalto SMA
O SMA (Stone Matrix Asphalt) é um tipo de mistura asfáltica desenvolvida na Alemanha no final da década de 1960. Por sua maior resistência, o asfalto SMA é muito usado como revestimento de rodovias e aeroportos europeus e norte-americanos.
Para fabricar o asfalto SMA, fibras de celulose ou de vidro são misturadas com o asfalto para evitar seu escorrimento no momento em que ele é misturado ou aplicado.
"Nosso projeto propõe o uso do bagaço de cana-de-açúcar que sobra do processo de fabricação do açúcar e do álcool. Dessa forma, aproveitamos um resíduo e transformamos um mero procedimento industrial numa contribuição ao desenvolvimento sustentável", explica Cláudio Leal, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense (IFF).
A técnica desenvolvida é extremamente simples: para transformar o bagaço da cana em aditivo na mistura asfáltica é necessário apenas secá-lo e passá-lo em peneira de 1,2mm. As microfibras resultantes estão prontas para uso.
Bagaço de cana-de-açúcar
A produção de álcool no Brasil gera cerca de 270 quilos de bagaço por tonelada de cana moída.
A maior parte desse rejeito é queimado nas caldeiras das próprias usinas para produção de energia térmica ou elétrica. "Mas estima-se que aproximadamente 20% deste bagaço não sejam queimados e fiquem sem qualquer outra utilização", afirma Regina Coeli Martins Paes de Aquino, também da IFF.
Além de bom para o meio ambiente, o uso do bagaço reduz o custo de produção do asfalto. "As fibras normalmente misturadas ao SMA têm um custo mais alto do que as misturas convencionais com betume e compostos derivados do petróleo. O bagaço reduz consideravelmente esses custos de produção e ainda proporciona um ganho ambiental", complementa Regina.
Teste do asfalto com bagaço
Os resultados dos testes feitos em laboratório comprovaram que a mistura com o bagaço apresenta o mesmo desempenho que o asfalto SMA, como foi comprovado no teste mais importante feito pelos pesquisadores, o do escorrimento.
Isso permitiu a marcação de um teste de campo, em larga escala. Brevemente, o asfalto SMA com bagaço de cana será aplicado experimentalmente em um trecho da BR-356, entre Campos dos Goytacazes e São João da Barra.
Muito empregado nos Estados Unidos, Canadá e alguns países da Europa, como Alemanha, Bélgica, Inglaterra e Suíça, por sua maior durabilidade e maior resistência, principalmente a veículos pesados, o asfalto SMA vem aos poucos conquistando espaço. no Brasil.
O autódromo de Interlagos, em São Paulo, por exemplo, tem suas pistas revestidas por esse tipo de asfalto.
"O SMA proporciona o contato grão a grão das britas maiores, tornando a estrutura da mistura asfáltica mais resistente. Esta resistência, que significa quase mais 50% de vida útil, é a grande diferença do SMA para o asfalto comum", destaca Regina.
"Sua textura mais rugosa também oferece maior segurança aos motoristas, já que o SMA tem melhor drenagem superficial, com a diminuição dos borrifos de água sobre a pista, reduzindo o efeito de aquaplanagem e aumentando a aderência dos pneus à superfície do pavimento", acrescenta Cláudio.
Asfalto de pneus
Mesmo não sendo mais uma novidade, os pesquisadores também enfatizam a reciclagem da borracha de pneus como substituto das fibras de celulose em misturas asfálticas.
"Dentre os modificadores de cimento asfáltico, a borracha moída dos pneus que não são mais utilizados merece destaque: além de melhorar o desempenho do asfalto, esse reaproveitamento possibilita que um quilômetro de rodovia absorva cerca de três mil pneus que de outra forma possivelmente estariam armazenados indevidamente, descartados em rios e lagoas, ou servindo como depósitos de larvas de mosquitos", alerta Regina.
A pesquisa, que conta ainda com a participação de Protásio Ferreira e Castro, da Universidade Federal Fluminense, foi financiado pela Faperj.
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