Montadoras tentam excluir carros e peças da lista de retaliações

Empresas dizem que EUA podem dificultar compra de veículos brasileiros

Fotos: Divulgação

Representantes das montadoras, liderados pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), fizeram ontem, em Brasília, uma peregrinação pelo gabinete de alguns dos sete ministros com direito a voto na Câmara de Comércio Exterior (Camex). O objetivo é convencê-los a excluir carros e autopeças da lista de retaliações de produtos importados dos Estados Unidos. A relação será divulgada nos próximos dias e os itens selecionados serão sobretaxados.

A Organização Mundial do Comércio (OMC) concedeu ao Brasil, numa decisão inédita, o direito de indicar produtos norte-americanos passíveis de retaliação por considerar que o país subsidiou "abusivamente" seus produtores de algodão.

Segundo a Anfavea, a inclusão de veículos traria riscos ao comércio bilateral, principalmente num momento em que as montadoras instaladas no País anunciam grandes investimentos. Alguns dirigentes do setor defendem que a retaliação deveria atingir apenas produtos relacionados ao universo que gerou a disputa, no caso o algodão.

O presidente da General Motors do Brasil, Jaime Ardila, disse que a medida pode atrapalhar os planos da companhia de importar, pela primeira vez, carros da marca produzidos nos EUA. Um deles é o Camaro, cupê que custa mais de R$ 100 mil, e o outro é o sedã Malibu, ambos previstos para este ano.

Ardila informou que seus pares nos EUA também estão envolvidos na tentativa de uma solução entre os dois governos que evite a retaliação.

Além de encarecer o produto vendido localmente - já taxado em 35% de alíquota de importação -, as montadoras estão preocupadas com a possibilidade de os EUA usarem o episódio para impor restrições aos carros brasileiros em futuros projetos de exportação, já que há expectativas de que o Brasil possa fornecer carros compactos para os americanos.

Nos bastidores, o governo até comemora a movimentação das montadoras, pois, de uma forma ou de outra, pode contribuir para que o País chegue a um acordo com os EUA sem necessidade de adotar a lista de retaliação. O Brasil não esconde que prefere negociar, mas, segundo o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, o País "não pode se curvar". Assim, a avaliação é que essa movimentação das fabricantes possa influenciar o Congresso americano a optar pelo consenso.

Sem sinalização por parte dos EUA, porém, o governo continua a trabalhar na lista e na próxima segunda-feira deve finalizar a escolha dos itens a serem retaliados. Numa lista preliminar a que o Estado teve acesso estão, entre outros, batata, óleo, gomas de mascar, cremes de beleza, juntas, freezers, lentes de contato e veículos com características específicas.

Um dos ministros visitados ontem foi o da Agricultura, Reinhold Stephanes. O grupo da Anfavea saiu do encontro sem falar com a imprensa. Segundo Stephanes, o valor das peças automotivas importadas dos EUA pelo Brasil é insignificante, mas ele considerou "legítima" a reivindicação do setor.

O ministro ressaltou "ser óbvio" o desejo de ter os produtos agrícolas na lista da Camex. "Gostaríamos que os produtos agrícolas fossem contemplados direta ou indiretamente. É evidente que o Ministério tem interesse".

Caso os EUA sinalizem com um acordo, Stephanes defende o desenvolvimento de pesquisas, principalmente em relação a doenças que atacam o algodão.


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