Alta do dólar já pressiona indústria


Quatro leilões do Banco Central (BC) foram insuficientes para impedir uma nova alta do dólar ontem. Na véspera do feriado no Rio e em São Paulo, entre outras cidades, a moeda americana subiu 2,58% e fechou cotada a R$ 2,385, maior valor desde maio de 2006. De meados de setembro - quando a crise financeira global se aprofundou - até ontem, o dólar avançou 34%.

Profissionais do mercado financeiro explicaram que pesaram sobre o mercado de câmbio as informações negativas a respeito da economia americana, os ganhos do dólar ante outras moedas, a preocupação cada vez maior com a saúde dos países emergentes (em especial, Rússia e Turquia) e as compras de empresas brasileiras para cobrir perdas com os derivativos tóxicos.

"Com essa trajetória de alta, empresas que estavam mais tranqüilas com o dólar a R$ 2,10, R$ 2,20, voltam a ficar preocupadas", disse o vice-presidente da mesa de operações do banco WestLB, Alexandre Ferreira. Apesar de todos esses fatores, ele vê um certo exagero na desvalorização do real. Segundo ele, do fim de agosto para cá, o dólar ganhou 46% ante o real, 32% ante o dólar australiano, 28% ante o peso chileno, 45% diante da lira turca e 27% em relação ao dólar da Nova Zelândia. São todos países emergentes, a maioria de exportadores de matérias-primas (commodities), como o Brasil. Com a crise, os preços desses produtos despencaram, o que reduzirá suas receitas de exportação e, por tabela, derruba as moedas nacionais.

A alta da moeda americana já se reflete nos preços. A inflação do setor industrial atingiu em novembro sua taxa acumulada mais alta em mais de três anos por causa do aquecimento da demanda no início do ano e pela disparada da cotação do dólar nos últimos dois meses. Levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV) a pedido do jornal O Estado de S. Paulo mostra que, até a primeira prévia do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) de novembro, os preços no setor subiram 16,36% em 12 meses, a maior variação desde fevereiro de 2005 (17,51%) - ano que marcou a mudança de nível das commodities metálicas, com reajuste de 71,5% do minério de ferro.

A inflação industrial até novembro está acima dos resultados consolidados, no mesmo período, dos três segmentos que compõem o IGP-M: atacado (14,75%), varejo (5,84%) e construção civil (12,29%). Foi superior à média do IGP-M (12,34%).


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