Os investimentos ajudaram a puxar a economia no último trimestre. Entre o terceiro e o quarto trimestre do ano passado, o consumo interno de máquinas e equipamentos cresceu 18%, segundo cálculos do Departamento de Pesquisas Econômicas do Bradesco.
Esse foi o segundo período consecutivo de forte recuperação do investimento na economia brasileira após a crise internacional - do segundo para o terceiro trimestre este indicador registrou alta de 6,5% dentro do Produto Interno Bruto (PIB). Apesar da recuperação no fim do ano, o consumo aparente de máquinas pelas empresas brasileiras caiu 11,5% em relação ao total de 2008. A conta inclui a produção doméstica vendida no país mais importação de bens de capital.
Se o aumento de produção e importação de bens de capital apenas repetir o ritmo de alta verificado em dezembro - de 3,7% sobre novembro, com ajuste sazonal - o consumo aparente de máquinas e equipamentos terá expansão de 22% neste ano. Os analistas, no entanto, trabalham com um incremento superior. Segundo eles, a alta no consumo aparente de máquinas e equipamentos deve alcançar 30% em 2010, contribuindo para que os investimentos totais na economia subam mais de 20% sobre o realizado no ano passado.
Crise
A produção de máquinas e equipamentos foi a que mais sofreu as consequências da crise mundial, chegando a despencar 31,4% entre outubro de 2008 e março de 2009 - mais que o dobro que o conjunto da indústria.
Nos três últimos trimestres, no entanto, as fábricas ampliaram fortemente sua produção - em 29,3%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - sinalizando otimismo entre os empresários, que voltaram a investir em aumento da capacidade. Ao mesmo tempo, as compras de maquinário estrangeiro foram 13,6% menores no ano passado em relação a 2008.
No final do ano, tanto a produção como a importação reagiram. A produção de bens de capital subiu 13,6% no quarto trimestre em relação ao terceiro, enquanto as importações seguiram o mesmo caminho, registrando alta de 16,7% na mesma comparação, descontados os efeitos sazonais nas duas séries. Na oferta doméstica, foi o segundo mês de reação, pois no terceiro trimestre a produção de bens de capital já havia crescido 6,9% sobre o segundo trimestre - percentual semelhante ao registrado para o conjunto do investimento no PIB.
Saindo do furacão
Para Douglas Uemura, analista da LCA Consultores, a produção de bens de capital já percorreu "três quartos do caminho de volta aos níveis anteriores à crise". Segundo Uemura, parte da forte expansão deste segmento da indústria no último trimestre vai se manter em 2010, levando a uma expansão de quase 30% em relação ao realizado no ano passado. A LCA estima que a formação bruta de capital fixo (FBCF) se expandirá em 20,4% neste ano, se recuperando da queda de 9,5% ocorrida em 2009.
Os investimentos serão sustentados por uma ampliação de 26,1% da produção de máquinas e equipamentos e de 12,1% em construção civil. "E uma alta da produção nacional implica em expansão dos importados, que complementam o mercado interno", avalia. Segundo Uemura, as importações devem voltar a contribuir negativamente para o PIB, após o refresco do ano passado.
Em 2008, de acordo com estimativas da LCA, o setor externo retirou 2,2% do PIB - algo que foi neutralizado em 2009, uma vez que as importações caíram mais que as exportações. "Nesse ano voltamos ao jogo anterior. O salto nas importações deve contribuir negativamente em cerca de 2% do PIB", avalia.
Para Octávio de Barros, economista-chefe do Bradesco, não há "fatores impeditivos relevantes" para a contínua elevação dos investimentos no país. "Há uma correlação bastante forte entre as importações totais e os investimentos. Só as importações de bens de capital contribuirão com cerca de 20% da alta nas importações neste ano", avalia Barros.
O consumo aparente agrega a produção nacional (descontando a exportação) e os bens importados e seu incremento, nos últimos meses, indica expansão forte na atividade ao longo do ano, ao aumentar a capacidade produtiva do parque industrial.
Investimentos
Os empresários também aproveitaram os preços dos bens de capital para reforçar os investimentos. No quarto trimestre, o preço de importação desses produtos ficou 2,7% menor, em dólar, do que em igual período de 2008.
Em valores, as importações de máquinas e equipamentos começaram a se acelerar em setembro, se aproximando, no último trimestre, dos resultados de um ano antes. Entre outubro e dezembro de 2008, foram importados, em média, US$ 2.149 ao mês, enquanto que, em igual período do ano passado, a conta foi de US$ 1.989 - a menor diferença na comparação entre trimestres de cada ano.
Para os analistas, o investimento será um importante componente do PIB em 2010. "Tudo constante, com gastos públicos e consumo das famílias mantidos em patamares próximos aos de 2009, são os investimentos que se aceleram muito fortemente", analisa Fernando Montero, economista-chefe da corretora Convenção. "Isso fica claro quando observamos que os investimentos saltarão de pouco abaixo de 17% do PIB para 19% em apenas um ano", diz.
O raciocínio de Montero é que, mesmo em cenário de forte expansão do denominador - o PIB -, a relação entre investimento e produto cresce porque a alta no numerador é muito superior. Segundo o economista, parte desse incremento será ocupado por capital estrangeiro, que complementa os investimentos nacionais, ao mesmo tempo em que amplia o déficit nas transações correntes.
"Não é possível ter cinco quartos de uma laranja. Para que os investimentos voltem ao patamar que estavam em 2008 é preciso que alguém diminua o consumo. Como nem governo, nem as famílias dão sinais de que isso vai acontecer, o rombo aumenta", avalia. Os analistas convergem para um quadro de aceleração do déficit externo. Segundo eles, o rombo deve passar dos cerca de 1,2% registrados em 2009 para quase 3% neste ano.
Barros, do Bradesco, prevê um déficit de 3,4% do PIB, superior ao estimado pelo mercado. O déficit nas transações correntes é muito influenciado, diz Barros, pelo comportamento da balança comercial. Para ele, as importações crescerão quase duas vezes mais que as exportações. "Temos uma visão positiva em relação aos investimentos no Brasil nos próximos anos", diz Barros, "graças a necessidades impostas pelo déficit de infraestrutura no país e pelos eventos esportivos (Copa e Olimpíadas), além da exploração do pré-sal".