As construtoras Odebrecht e Andrade Gutierrez saíram na frente na concorrência pela construção da primeira linha para trem de alta velocidade já feita por empresas brasileiras. O consórcio com participação das duas empreiteiras apresentou o melhor preço para a construção do trecho Porceirão-Caia, com 150 km, primeira parte do trecho português do trem Lisboa-Madri previsto para operar a partir de 2013.
A licitação teve início em julho deste ano e na última rodada realizada em novembro o consórcio integrado pelas brasileiras conseguiu ficar em primeiro lugar. O resultado ainda precisa ser confirmado pelo governo português - falta avaliar as qualificações técnicas da proposta - para pronunciar o resultado definitivo. A decisão pode sair em duas semanas.
O consórcio - ou como se diz em Portugal, agrupamento - é liderado pela portuguesa Brisa, que atua no Brasil como acionista da concessionária CCR - onde é sócia da Andrade Gutierrez. A Brisa também tem uma participação, junto com a CCR na empresa que faz a inspeção de veículos em São Paulo, a Controlar.
A Odebrecht entrou na disputa pelo trem-bala português com duas cotas, uma própria e outra de sua subsidiária em Portugal, a Bento Pedroso - também uma das maiores empreiteiras daquele país. A Andrade Gutierrez participa por meio da Zagope, construtora local adquirida em 1988. Fazem parte do consórcio outras três empreiteiras portuguesas, a espanhola Dragados e dois bancos o portugueses: o Millenium BCP e a Caixa Geral de Depósitos.
Segundo o presidente da operação portuguesa da Odebrecht, Miguel Peres, o projeto foi constituído como uma parceria público-privada (PPP) responsável unicamente pela construção e manutenção da linha. A operação do trem será feita pela rede ferroviária portuguesa - a Refer. O pagamento da PPP terá uma parte fixa, pela disponibilização da linha, e outra variável, correspondente à venda de passagens. Os sócios do consórcios repartirão entre si a construção da ferrovia, e depois permanecerão sócias do empreendimento - Odebrecht incluída. O prazo da PPP é de 40 anos.
Batizado "Elos - Ligações de alta velocidade", o consórcio composto pelas brasileiras disputa o contrato com o Altavia Alentejo, liderado pela empreiteira portuguesa Mota-Engil. O Elos ofereceu € 1,359 bilhão pela obra, € 25 milhões a mais que o concorrente, que ofereceu 1,334 bilhão. Mas o consórcio composto por Odebrecht e Andrade deu um lance 27% menor pela manutenção da linha. Ao longo de 40 anos a diferença soma € 232 milhões.
No Brasil, a Odebrecht é uma das principais interessadas pelo projeto do trem-bala entre Rio de Janeiro e Campinas, mas assim como outros grupos privados, tem críticas ao modelo financeiro do projeto brasileiro. Para Felipe Jens, presidente da empresa de investimentos do grupo Odebrecht, uma das principais preocupações é a falta de uma proteção contra o risco de demanda. O perigo, diz o executivo, é o modelo acabar como o trem-bala de Taiwan.
Lá, a demanda real pelo trem foi 70% menor do que a esperada e os custos financeiros da dívida de US$ 13 bilhões assumida pelo concessionário abriram um buraco nas suas contas. A Taiwan High Speed Rail Comporation teve prejuízo de US$ 780 milhões em 2008.
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