Ford anuncia investimento de R$ 4 bilhões no Brasil
Por Valor Online
20/11/2009
Fotos: Divulgação
Depois de conseguir enfrentar a crise nos Estados Unidos sem pedir empréstimo ao governo americano - ao contrário do que fizeram General Motors e Chrysler -, a Ford anuncia hoje um novo programa de investimentos na Bahia. O plano, que será detalhado na presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na fábrica de Camaçari, pode ajudar a montadora a não apenas resolver um antigo problema de falta de capacidade naquela unidade como também dar um importante passo para elevar a sua participação no mercado brasileiro.
Faz muito tempo que a fábrica de Camaçari, onde são produzidas as linhas do compacto Fiesta e do utilitário Ecosport, trabalha na capacidade máxima, em três turnos. Há quatro anos, pelo menos, essa unidade, considerada uma referência dentro da companhia, opera 24 horas por dia. Durante todo esse tempo o ritmo continuou acelerado mesmo em momentos de queda de demanda. Ajustes técnicos tiveram que ser feitos para ajudar a instalação em Camaçari a superar seus limites da capacidade. A produção chega hoje a 250 mil veículos por ano.
Apesar das evidências de que a fábrica baiana há tempos precisava de investimentos, a empresa protelou a decisão. Por um bom tempo, uma das explicações mais apontadas pela direção da filial brasileira era a decisão de manter o foco no projeto do novo Ka, em São Bernardo do Campo (SP), onde está a fábrica mais antiga da companhia no país.
Mas vale lembrar que faz mais de três anos que a Ford vem se ocupando de enxugar as operações nos Estados Unidos para resolver os problemas financeiros que apareceram muito antes da crise do ano passado. O plano de reestruturação e enxugamento começou com Bill Ford, bisneto do fundador da empresa. Mas a reversão dos problemas na América do Norte ganhou impulso com a mudança de gestão. Em setembro de 2006 Bill Ford decidiu ceder o seu cargo de presidente a um executivo de fora da indústria automobilística. E contratou Alan Mullaly, que vinha da Boeing.
No Brasil, além da falta de capacidade, a Ford precisa renovar a plataforma dos produtos. O último lançamento de um veículo totalmente novo feito na Bahia foi em 2003 - o Ecosport. Isso foi dois anos depois da inauguração da fábrica, que estreou com a produção do Fiesta, que, mais tarde, passou por modernizações, processo que a indústria chama de "face lift". Há quase dois anos, a empresa lançou um novo Ka, produzido em São Bernardo, com modificações que fizeram com que o subcompacto criado na Europa para quatro passageiros passasse a acomodar cinco. Depois disso, os principais lançamentos da marca foram carros importados, vindos da Argentina e México, principalmente.
A falta de capacidade industrial e a necessidade de renovar produtos levaram a empresa a ter de se contentar, durante anos, com um quarto lugar em vendas, bem distante das três primeira colocadas no mercado interno - Fiat, Volkswagen e General Motors. De janeiro a outubro, a participação da Ford ficou em 10,38%. Sua fatia não passa dos 10,5% a 11,0% desde a dissolução da Autolatina (antigo casamento entre Volks e Ford), em 1996. O percentual equivale à metade do que cada uma das outras três montadoras veteranas tem.
A fábrica de Camaçari foi construída com investimento de US$ 1,2 bilhão. Outras US$ 700 milhões foram aplicados pelos fornecedores que participaram de um projeto inovador. Ali, determinados conjuntos do automóvel - como portas, bancos e sistemas de iluminação - são feitos por duas dezenas de fornecedores que trabalham dentro da própria Ford, ao lado ou muito próximo da própria linha de montagem do veículo.
Além de ser a primeira montadora no Nordeste, com essa fábrica a Ford conseguiu fazer com que o governo federal criasse um mecanismo para estender o prazo do regime automotivo, um programa que reduziu o Imposto de Importação em troca de investimentos voltados para a exportação. A isenção de impostos estaduais, como o ICMS, dados à época, se encerrará em 2011. Segundo fontes do governo baiano, a montadora ainda vai negociar os incentivos do programa de investimentos que será anunciado hoje.
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