Foto: Divulgação
Enquanto o governo dos Estados Unidos organiza a General Motors para a concordata, no Brasil a montadora se prepara para fazer um investimento de US$ 1 bilhão. Os recursos serão todos aplicados na fábrica de Gravataí, no Rio Grande do Sul. Uma parte do dinheiro virá da decisão de interromper o envio de dividendos a partir da filial brasileira. O restante será obtido com empréstimos de bancos brasileiros. A montadora aguarda a liberação de financiamento do BNDES.
Aliado à decisão de interromper o envio de dividendos a partir do Brasil, o investimento em instalações brasileiras revela a opção estratégica da debilitada companhia americana prestes a mergulhar em uma recuperação judicial que a dividiria em duas partes - uma boa e outra ruim.
Faz quatro anos que a GM do Brasil vem dando lucros. Mas os valores mais elevados e o consequente envio de dividendos para a matriz apareceram com mais força há dois. A companhia nunca revelou quanto enviou para os Estados Unidos. O último balanço anual, de 2008, mostrou que a região que abrange América do Sul, Oriente Médio e África, e na qual a operação brasileira tem peso de mais de 60%, fechou com lucro de US$ 1,3 bilhão.
Remeter à matriz qualquer fração desse ganho perde efeito no momento em que a companhia queima valores superiores mensalmente. Nem sequer o empréstimo de US$ 13,4 bilhões do governo americano ajudou a empresa a contornar o problema.
Não é de hoje que a GM mostra preferir investir onde há projeção de expansão e de lucros no futuro, a um custo de mão de obra muito mais baixo, do que nos Estados Unidos, onde a empresa está quebrada, em parte pelo gigantismo dos custos trabalhistas e de produção.
A eventual separação da "parte boa" incluiria a operação brasileira. Já nos primeiros sinais de dificuldades financeiras da matriz, a subsidiária começou não apenas a atrair os investimentos como a própria estrutura de engenharia e desenvolvimento de produto, no passado concentrada nos EUA.
Na busca de financiamento para sustentar seus investimentos no Brasil, a filial brasileira já fez contatos com o Banrisul, o banco do governo do Rio Grande do Sul. Mas a maior expectativa se concentra numa linha do BNDES. Informações de fontes próximas à negociação dão conta de que recentemente a companhia procurou a equipe econômica do governo federal para solicitar apoio ao pedido de financiamento desse banco.
A escolha pelo Rio Grande do Sul está cercada de motivos. Em Gravataí o custo de produção é bem mais baixo do que em São Caetano do Sul (SP), onde está a fábrica mais antiga da GM no país, hoje sede da companhia no Mercosul. Também ali não existem os problemas de relacionamento sindical que a empresa enfrenta em em São José dos Campo (SP), na região do Vale do Paraíba, onde está a fábrica inaugurada há 50 anos.
O novo investimento em Gravataí vai contemplar expansão industrial e a produção de uma nova família de automóveis, provavelmente do segmento de modelos pequenos. A quantidade de recursos do projeto é quase o dobro do que foi gasto na construção dessa unidade, inaugurada em julho de 2000.
A construção da fábrica de Gravataí absorveu investimento de US$ 554 milhões. Na ocasião a montadora tomou R$ 253 milhões emprestados do governo do Rio Grande do Sul, além de um pacote de incentivos, que incluiu a postergação do recolhimento do ICMS.
O novo projeto para Gravataí se junta a um programa de investimentos em curso que soma US$ 1,5 bilhão entre 2008 e 2012. Os investimentos no Brasil começaram a ganhar força em 2007, época em que a matriz começou também a enfrentar dificuldades financeiras.
O pacote de US$ 1,5 bilhão em curso inclui a construção de uma fábrica de motores em Joinville (SC), cujas obras estão atrasadas em decorrência das inundações, além da modernização do centro de desenvolvimento de novos produtos, instalado em São Caetano do Sul (SP).
Já praticamente pronta, a próxima família de veículos a ser lançada pela GM no Brasil leva o nome de Viva. Trata-se de um projeto de carros de porte entre médio e pequeno, mais ou menos na faixa de preço da família Corsa.
O projeto Viva foi totalmente desenvolvido pela equipe de engenharia e desenhistas do Brasil. Parte dos veículos dessa linha será fabricada em Rosário, na Argentina, e outra parte em São José dos Campos. A empresa ainda não marcou oficialmente a data do lançamento. O primeiro modelo dessa família será um sedã, que deve chegar ao mercado já em outubro. Em seguida, virá um utilitário esportivo pequeno, um segmento em que a GM ainda não participa.
Com esses projetos, a marca conseguirá dar a arrancada que planeja para manter a participação próxima de 19% do mercado brasileiro. Volkswagen e Fiat contam com fatias que variam entre 23% e 24%, dependendo do mês. Juntas, essas três multinacionais são donas de 66% do mercado brasileiro de veículos.
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