Foto: Inovação Tecnológica
Quando o robô-cientista foi apresentado pela primeira vez ao mundo, em 2004, ele cabia sobre uma mesa. Agora, quando os pesquisadores acabam de anunciar que ele se tornou responsável pela primeira descoberta científica feita por uma máquina, trabalhando de forma totalmente independente, ele nem de longe lembra o seu protótipo inicial.
Adão, o primeiro robô-cientista
Adão (Adam), o robô-cientista, cresceu e cresceu muito. Hoje, ele é uma máquina enorme, do tamanho de um container, que ocupa uma sala especial na Universidade de Aberystwyth, no Reino Unido.
Seu dispositivo de análises biológicas é servido por braços robóticos idênticos aos robôs industriais usados na montagem de automóveis, diversos tipos de alimentadores, vários computadores e toda uma parafernália eletrônica para controlar tudo.
E, a depender do professor Ross King, criador do robô-cientista Adão, isto é apenas o começo. "No futuro, nós esperamos ter equipes de cientistas humanos e cientistas robôs trabalhando juntos nos laboratórios," diz ele.
Primeira descoberta científica de um robô
Usando sua inteligência artificial, Adão levantou hipóteses sobre genes da levedura usada como fermento para pães (Saccharomyces cerevisiae) que codifica enzimas específicas que catalisam as reações químicas no fermento.
Os cientistas estavam em busca as origens das chamadas "enzimas órfãs", enzimas que os cientistas não sabem quais genes as codificam. Adão selecionou mutações da levedura, incubou as células e mediu suas taxas de crescimento. E levantou 20 hipóteses sobre genes que codificariam 13 enzimas.
Levantadas as hipóteses, ele fez o que de melhor sabe fazer: repetiu à exaustão os testes destinados a avaliar se a hipótese seria confirmada ou não pelos experimentos. E o resultado deu positivo para 12 das 13 enzimas, que agora não são mais órfãs.
Os cientistas então repetiram manualmente os experimentos de Adão para confirmar que sua descoberta era realmente nova e válida. Novo resultado positivo. Podia então ser anunciada a primeira descoberta científica de um robô.
Auxiliar valioso
A rigor é um tanto forçado creditar a descoberta inteiramente ao robô. Chamá-lo de cientista também requer um pouco de boa-vontade com a máquina - veja abaixo um esquema de toda a sua estrutura.
O que torna Adão realmente valioso no laboratório é a sua capacidade de conduzir experimentos repetitivos de forma precisa e incansável, algo normalmente deixado para auxiliares e estudantes de graduação. Contudo, nem mesmo estudantes de graduação gostam de ficar repetindo os passos de um experimento a cada 20 minutos, dia e noite.
"Como os organismos biológicos são extremamente complexos, é importante que os detalhes dos experimentos biológicos sejam registrados com grande detalhe. Isso é difícil e entediante para os cientistas humanos, mas muito fácil para robôs-cientistas," diz o professor King.
Há que se considerar também que o programa de computador que controla todas as ações do robô-cientista foi elaborado pelos cientistas humanos. O algoritmo contém todo o roteiro para a condução da pesquisa, embora o programa de inteligência artificial seja capaz de aprender com as sucessivas etapas do experimento, guiando-se pelos resultados anteriores para estabelecer hipóteses mais promissoras para os novos testes.
Das costelas de Adão
Agora os cientistas estão projetando um novo robô-cientista, que será voltado para experimentos que auxiliem no descobrimento de novos medicamentos.
Para fazer companhia a Adão, o novo robô será uma robô-cientista e se chamará Eva.
"Se a ciência se tornar mais eficiente ela poderá ajudar melhor a resolver os problemas da sociedade. Uma das formas de tornar a ciência mais eficiente é através da automação. A automação foi a força por trás de grande parte do progresso dos séculos XIX e XX, e isto deverá continuar," prevê o cientista-humano Ross King.