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Parece algo contraditório, mas mesmo diante de indicadores que mostram a queda da produção industrial ou o aumento do desemprego, a confiança da população brasileira na perspectiva de dias melhores está em alta.
A mais recente pesquisa CNT/Sensus, elaborada pela Confederação Nacional do Transporte e a Sensus Pesquisa e Consultoria, mostra aumento do otimismo da população, sendo que em janeiro deste ano o índice de expectativa da população brasileira em relação aos próximos seis meses subiu para 68,95 pontos, frente aos 66,16 pontos de dezembro, numa escala de 0 a 100. O estudo leva em consideração o que os entrevistados esperam que aconteça em relação a variáveis sócio-econômicas que afetam suas vidas, como emprego, renda, segurança, saúde e educação.
Enquanto isso, o IBGE apresentou dados que mostram recuo na atividade industrial brasileira em dezembro passado. Segundo a Pesquisa Industrial Mensal do instituto, a produção do país caiu 12,4% no último mês do ano em comparação a novembro. No confronto dos dados de dezembro de 2008 e de dezembro de 2007, os números são piores: queda de 14,5%.
De acordo com os responsáveis pela pesquisa CNT/Sensus, o otimismo da população reflete a confiança no governo e nas instituições brasileiras, que sinalizam com medidas e com a expectativa positiva de que o Brasil irá superar a atual crise financeira em pouco tempo. Por outro lado, os resultados das empresas demonstram os efeitos da grave crise financeira internacional.
O interessante é que os sinais de retomada da atividade econômica já estão presentes. Por exemplo, em razão da queda de produção de veículos nos últimos meses do ano passado estão faltando carros nas revendedoras. No caso dos modelos mais procurados, o consumidor pode ter de esperar até 30 dias para receber o produto. É evidente que medidas tomadas pelo governo para aquecer o consumo deste setor estão sendo bem-sucedidas, como é o caso da redução do IPI sobre carros, o que tem estimulado os brasileiros a comprar.
Vale ponderar, no entanto, que se o brasileiro fosse pessimista, é provável que não houvesse reaquecimento no comércio de veículos, já que o desemprego registrou alta nos últimos meses. Portanto, a simples possibilidade de vir a perder o trabalho já inibiria a pessoa a assumir um compromisso vultoso como é a compra de um carro novo.
É compreensível que o empresariado seja algumas vezes conservador em suas análises e busque estar pronto para enfrentar o pior, especialmente diante de dados negativos que chegam ao país desde o exterior, onde teve início a atual crise. Mas a reação conjunta da sociedade brasileira tem sido rápida e exemplar. Enquanto a população se mostra otimista, o empresariado está adotando importantes medidas para garantir o bom funcionamento de suas instituições nesse momento de crise, investindo em governança corporativa, em redução de riscos e em negociações positivas com fornecedores, instituições de crédito e consumidores.
Podemos enxergar neste momento, portanto, um cenário propício às oportunidades frente às expectativas positivas de uma população tradicionalmente otimista. É preciso continuar investindo nos esforços de gestão responsável para garantir a boa saúde corporativa, mas é interessante ter em mente que uma crise é superada com a atuação construtiva e envolvente dos agentes que permita engajamento das mais variadas redes produtivas e blocos de segmentos. Esse movimento tende a culminar num círculo virtuoso que levará à retomada do crescimento do Brasil em níveis equivalentes aos registrados até o terceiro trimestre de 2008.
Claro que estamos enxergando ainda alguns poucos sinais de recuperação diante da crise. Mas vale reforçar que qualquer demonstração de retomada deve ser entendida como oportunidade, tendo sempre como perspectiva a possibilidade de que o nosso país venha a sair o mais rápido possível desse momento negativo que veio de fora. Otimismo é a atual palavra de ordem.