Fonte: Canal de Notícias - 17/04/2007
O empresário Jorge Gerdau Johannpeter, presidente do Conselho de Administração do grupo Gerdau, criticou ontem o baixo ritmo do crescimento brasileiro nas duas últimas décadas e disse que o País vive um período de "apagões" que não se restringem ao setor aéreo, mas se estendem à logística, educação, saúde e segurança. Para ele, um avanço de 5% a 6% ao ano seria o mínimo necessário para o Brasil aquecer sua economia interna, hoje em grande parte tomada pela informalidade.
"Quando volto de minhas visitas à Índia e China não estou preocupado com que eles estão fazendo, mas com o que o Brasil não está fazendo", disse Gerdau, em discurso, ao receber o título de Personalidade do Ano, da Associação Brasileira de Propaganda (ABP), no Prêmio Comunicação 2006. O prêmio foi entregue pelo presidente da ABP, Adilson Xavier, com a presença de personalidades como o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira.
A ABP homenageou também a Coca-Cola Brasil, como anunciante do ano, a Natura e o arquiteto Oscar Niemeyer, na categoria especial, a F/Nazca S&S, como agência do ano, e a revista Época, como veículo do ano.
Gerdau lembrou que o Produto Interno Bruto (PIB) não passou de uma média de 2,4% nos últimos 20 anos e 2,7% na última década, o que somado, aos 2% de produtividade média do setor privado, chegaria próximo aos 5%. Essa diferença de praticamente de 2,5 ponto percentual seria fruto do impacto da economia informal. "Se tivéssemos atingido esse nível de crescimento (5%) nos últimos dez anos estaríamos dobrando os negócios a cada dez, doze anos", disse.
O empresário, que chegou a ser cotado para assumir o Ministério do Desenvolvimento, se absteve de fazer comentários sobre a indicação de Gustavo Murgel, do Banco Santander, para a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). "O BNDES hoje está funcionando muito bem e essas alterações são questão de responsabilidade do ministro nessa área. Vamos aguardar o que será decidido", disse.
Indagado sobre o caso da Ceará Steel - projeto da siderúrgica coreana Dongkuk (34%), da fabricante de equipamentos Danieli (17%) e da Vale do Rio Doce (9%) - Gerdau foi enfático. "O Brasil, seja na siderurgia ou na política do País, não pode entrar com um produto subsidiado no mercado internacional, o que tira a credibilidade e seriedade comercial do País como um todo", disse. O Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) vem questionando o possível fornecimento de gás subsidiado à siderurgica Ceará Steel pela Petrobras. A principal preocupação está nas restrições que as exportações brasileiras de aço podem vir a sofrer pelo descumprimento de regras de concorrência da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Segundo Gerdau, há só dois anos as aciarias nacionais ainda sofriam restrições geradas por subsídios concedidos antes da privatização, especialmente por parte de Estados Unidos e Europa. "Por isso há uma preocupação muito grande em ter uma estrutura de transparência absoluta perante o mercado ", destacou, afirmando que o fornecimento de gás à usina a preço inferior ao de mercado pode trazer problemas a todo o setor. Ele distinguiu incentivos estatais, de natureza tributária, de subsídios, que afetam a formação de preços e são um "desvirtuamento estrutural".
O empresário descartou a hipótese de a Gerdau recorrer individualmente à Justiça, caso as negociações entre Petrobras e Ceará Steel sejam bem sucedidas. "O IBS está conduzindo de forma global o processo, analisando técnica e juridicamente todas as possibilidades", informou. No final de março a polêmica sobre a Ceará Steel chegou ao Ministério Público Federal de São Paulo.
Usina no México é estratégica
Jorge Gerdau também comentou a compra por US$ 259 milhões da siderúrgica mexicana Tultitlán, fabricante de vergalhões e perfis pertencente ao grupo local Feld. A aquisição, anunciada no dia 28 de março, marcou a entrada do grupo gaúcho no México e foi considerada estratégica pelo presidente do Conselho de Administração da companhia. "Estamos nos principais mercados da América do Norte e nos faltava essa posição no México, onde ainda não havíamos tido uma oportunidade", disse. Apesar de não se tratar de uma siderúrgica de grande porte, a Tultitlán tem localização geográfica muito favorável, na região metropolitana da Cidade do México. A usina tem capacidade de produção estimada em 350 mil toneladas de aço e 330 mil toneladas de laminados ao ano.
O grupo Gerdau avalia a participação no processo de venda da usina americana Sparrows Point, pertencente a Arcelor Mittal. De acordo com Gerdau, entretanto, esta não é uma prioridade para a maior fabricante de aços longos das Américas. "Estamos muito fortes na linha de produtos longos e essa é uma fabricante de aços planos. É uma empresa com rentabilidade relativamente baixa em relação aos preços de mercado", ponderou Gerdau, lembrando que a empresa está em fase de avaliar as informações fornecidas pelo banco responsável pela operação.
A aquisição da Sparrows Point marcaria a entrada da companhia no setor de aços planos. Atualmente, a Gerdau tem 50% da joint venture americana Gallatin Steel, com a Dofasco (Arcelor Mittal), também nos Estados Unidos. No Brasil, a controlada Açominas está montando uma unidade de produção de placas. Gerdau acredita que o grupo deve avaliar "a melhor escolha" entre os ativos de planos disponíveis no mercado.
No último ano de comando executivo de Jorge Gerdau, o Grupo registrou lucro líquido recorde de R$ 3,492 bilhões, resultado 7,6% superior ao de 2005. A produção de aço bruto (placas, blocos e tarugos) da Gerdau em 2006 cresceu 13,9%, chegando a 15,586 milhões de toneladas.
ABM. O presidente da Arcelor Brasil, José Armando de Figueiredo Campos, é o novo dirigente da Associação Brasileira de Metalurgia e Materiais (ABM). Ele foi eleito com 99% dos votos válidos em pleito realizado entre os dias 9 e 12 de abril. O engenheiro José Armando substitui Paulo Villares Musetti, presidente da Armco do Brasil, na direção da Associação.
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