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Foto: Divulgação
Embora entre as matrizes vegetais, a soja seja a principal base do biodiesel do Brasil, sua escala de produtividade é baixa – de 400 a 600 quilos de óleo por hectare – e tem apenas um ciclo anual. O girassol pode produzir um pouco mais, de 630 a 900 quilos. No entanto, pesquisa realizada no Instituto de Biologia da Universidade Federal Fluminense (UFF) indica que microalgas encontradas no litoral brasileiro têm potencial energético para produzir 90 mil quilos de óleo por hectare.
E, segundo o estudo, elas têm diversas outras vantagens. Do ponto de vista ambiental, o biodiesel de microalgas libera menos gás carbônico na atmosfera do que os combustíveis fósseis, além de combater o efeito estufa e o superaquecimento.
A alternativa também não entra em conflito com a agricultura, pode ser cultivada no solo pobre e com a água salobra do semi-árido brasileiro – para onde a água do mar também pode ser canalizada – e abre possibilidades para que países tropicais (como a Polinésia e nações africanas) possam começar a produzir matriz energética. Além disso, as algas crescem mais rápido do que qualquer outra planta.
“O biodiesel de microalgas ainda não é viável, mas em cinco anos haverá empresas produzindo em larga escala”, estima o biólogo Sergio Lourenço, do Departamento de Biologia Marinha da UFF, responsável pelo estudo.
Lourenço identificou dezenas de espécies com potencial para produzir o biodiesel em larga escala. O problema é que a porcentagem de lipídios de cada alga não é alta – poucas espécies chegam a 20% de concentração. Mas a soja (18%) e o dendê (22%) também concentram baixas quantidades de lipídios. O amendoim concentra 40%.
“Se a matriz tem baixa concentração de lipídios, temos que acumular muito mais massa”, explica o biólogo. Por isso, ele e sua equipe trabalham em métodos para estimular a concentração de lipídios. “Por meio de técnicas de manipulação das condições de cultivo, conseguimos alterar a composição química nos meios de cultura, aumentando assim a concentração de lipídios. Em dez dias a biomassa está apta a ser colhida.”
Há pouco mais de um ano, o projeto vem sendo articulado com o Ministério da Ciência e Tecnologia, o Ministério da Agricultura, a Secretaria Especial de Água e Pesca e a Casa Civil, que conduz o Programa Nacional de Biodiesel.
Conversas têm sido feitas com a Petrobras para apoiar o projeto. O financiamento permitiria o cultivo em grande densidade, em tanques de 20 mil litros, primeiramente em uma unidade da UFF, antes de ser levada ao semi-árido. Há também, segundo Lourenço, outra vantagem ecológica nesse cultivo: para fazê-las crescer, é necessário tirar carbono da atmosfera.
As microalgas são usadas há décadas na produção de encapsulantes e na aquacultura, para alimentar peixes e outros animais. Segundo o pesquisador, desde a década de 1970, depois da primeira grande crise do petróleo de 1973, já se pensava na aplicação desses organismos marinhos para a produção de energia a partir da biomassa.
“Perdemos terreno por nunca ter investido o suficiente nessa frente. Hoje, o barril do petróleo custa US$ 70 e já chegou a custar US$ 143 este ano, batendo um recorde histórico. O Brasil tem tudo para se tornar a potência energética mundial. Nos encontramos na vanguarda dos biocombustíveis: além de termos alcançado a auto-suficiência na produção de petróleo, temos o maior programa de álcool do mundo”, destacou.
De acordo com Lourenço, outra vantagem é que, assim como a cana-de-açúcar, matéria-prima do etanol, as microalgas demandam uma área pequena para seu cultivo e podem produzir uma quantidade de biocombustível bem maior.
“A cana-de-açúcar ocupa 2% da área agrícola do Brasil, aproximadamente 45 milhões de hectares. A Embrapa indica que o país tem ainda 100 milhões de hectares que pode ocupar. O programa energético prevê mais 2 milhões de hectares, ainda assim uma fração da área total disponível. Com o cultivo das microalgas ocupando apenas 1% da área que a soja utiliza hoje, pode-se produzir a mesma quantidade de biodiesel que ela produz ao ano”, afirmou.
Algas para aviação
Presidente da Associação Brasileira de Biologia Marinha e autor do livro Cultivo de Microalgas Marinhas: princípio e aplicações (2006), Sergio Lourenço explica que não são todas as espécies de microalgas com potencial para biocombustível, mas conta que aquelas que identificou também poderiam ser aplicadas para a produção do bioquerosene, maior interesse do setor da aviação na atualidade.
Em fevereiro de 2008, um Boeing da companhia aérea Virgin Atlantic fez um vôo entre Londres e Amsterdã movido a bioquerosene à base de óleo vegetal – uma mistura de babaçu e coco. As empresas aéreas gastam 85 bilhões de galões de querosene tradicional por ano e são responsáveis por 3,5% das emissões de dióxido de carbono no mundo.
“O setor tem que diminuir as emissões e pretende trabalhar com uma mistura de 20% de bioquerosene, hoje feita à base de óleos vegetais, com o querosene tradicional, que custa o equivalente a 40% do preço de uma passagem aérea”, disse Lourenço.
Segundo ele, o processo de produção do bioquerosene é semelhante ao do biodiesel – ambas as moléculas estão presentes nas microalgas, com a diferença de que as do biodiesel são maiores.
“Elas têm a mesma classe de moléculas, mas com características químicas diferentes; uma alga descartada para aplicação de biodiesel pode ser usada para bioquerosene”, disse.
Em fevereiro de 2009, o setor aeronáutico estará reunido em Montreal, no Canadá, no Congresso da Associação Internacional de Aviação (Iata) para discutir, entre outros assuntos, o uso das microalgas na produção de bioquerosene. Esse foi também o destaque de um evento promovido pela Boeing em outubro passado.
O projeto da UFF será um dos destaques de um Congresso da Associação Brasileira de Biologia Marinha que será realizado em abril de 2009, na cidade de Búzios, no Rio de Janeiro.
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