Fonte: Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Energias Renováveis
O Brasil, e toda a América Latina, não tem uma idéia exata de quais são as mudanças climáticas mais significativas que estão ocorrendo nesse momento nessa região geográfica do mundo. A afirmação é de um grupo de cientistas brasileiros que protagonizou ontem um debate sobre o tema no IEA (Instituto de Estudos Avançados) da USP (Universidade de São Paulo).
Todos os debatedores são membros do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, na sigla em inglês), que reúne centenas de pesquisadores de várias partes do mundo.
"O Brasil é um grande vazio de monitoramento do que ocorre nos processos físicos e biológicos", disse Carlos Nobre, pesquisador do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). "Não somos [América Latina] um ator importante", afirmou o cientista brasileiro. Segundo Nobre, no último relatório do IPCC, divulgado sexta-feira em Bruxelas, dos quase 30 mil trabalhos analisados pelo grupo apenas cinco foram feitos na América Latina.
"Esses trabalhos dizem respeito ao que está sendo visto hoje. Isso não inviabiliza os resultados apresentados, que são sobre o futuro", explica.
Para Pedro Dias, da USP, é importante que os trabalhos de monitoramento sejam feitos por um intervalo grande de tempo. "Precisamos de acompanhamentos na escala de décadas. Caso contrário não dá para relacionar a mudança com o aquecimento global", disse.
Somatória trágica
O pesquisador Ulisses Confalonieri, da Fundação Oswaldo Cruz, também lembrou da falta de trabalhos mais aprofundados na área de saúde. O clima mais quente terá uma série de implicações sobre as doenças que existem no Brasil. Em cidades poluídas como São Paulo, explica o cientista, a grande quantidade de ozônio que já existe na atmosfera, somada com as temperaturas mais quentes, deverá aumentar os casos de doenças cardiovasculares, por exemplo.
Diante de tantas evidências maléficas do novo clima mundial, os debatedores disseram esperar que as novas políticas públicas desencadeadas no Brasil e na América Latina levem em consideração o componente científico, o que não vem ocorrendo historicamente.
Mas, segundo Antonio Magalhães, do Banco Mundial, o problema é que, até agora, as mudanças climáticas sozinhas não foram motivo para a formulação de nenhuma nova política pública. Não apenas no Brasil, mas em vários países.
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