Fonte: Valor Online - 21/10/08
Enquanto se discutem os efeitos da crise, silenciosamente a gigante aeroespacial européia EADS (European Aeronautics Defense and Space) deu início ao processo de classificação de fornecedores do Super Cougar, o helicóptero que será produzido no Brasil, a partir de um pedido de 51 unidades que o governo brasileiro deverá referendar até dezembro. Em processo de expansão da capacidade na fábrica instalada em Marselha, na França, única do mundo que produz o mesmo modelo, a Eurocopter, divisão de helicópteros da EADS, acompanha a estratégia do grupo europeu de diversificar as bases de produção, investindo mais nos mercado emergentes.
O processo de qualificação de fornecedores brasileiros começou com um encontro com fabricantes de componentes. A partir daí, a matriz da empresa, na França, enviou formulários. As empresas que se consideram em condições de fornecer peças para o novo helicóptero já começaram a enviar os formulários preenchidos . Os fornecedores em potencial são praticamente os mesmos que abastecem a Embraer. Por isso, grande parte tem fábricas na região do Vale do Paraíba, no interior de São Paulo, onde está instalada a fabricante de aviões brasileira.
A crise não mudou os planos do grupo EADS de expandir a produção de helicópteros no Brasil. A indústria que disputa os céus não pode parar nas crises. A chegada de um helicóptero ao mercado leva anos. E a produção de um, em média, 18 meses. A entrega da primeira unidade da encomenda do governo brasileiro deverá ocorre somente daqui a dois anos. Para que todas as aeronaves a serem encomendadas pelo governo estejam prontas serão necessários sete anos.
O Brasil é um dos países que integra a estratégia da EADS de expandir as operações fora da Europa. Hoje, além das unidades européias na França, Alemanha e França, o grupo produz helicópteros nos Estados Unidos, Austrália e China, além do Brasil.
Na sede da Eurocopter, localizada em Marignane, distrito de Marselha, no sul da França, a fábrica chegou ao limite da capacidade. A construção de novo hangar permitirá acomodar em breve o aumento no ritmo de produção.
Nos quatro últimos anos, o faturamento mundial da Eurocopter, que lidera o mercado, praticamente dobrou, para 4,17 bilhões de euros. Em sete anos, as entregas duplicaram para 488 unidades e os planos da companhia são dobrar mais uma vez o volume até 2020. Daí o interesse por expandir a atividade em novos pólos.
Essa indústria se expande para acompanhar uma demanda de mercado que dá mostras que ainda tem muito a crescer, segundo os executivos do setor. Além da demanda para o uso militar, o diretor geral da EADS no Brasil, Eduardo Marson Ferreira, aponta o crescimento populacional nas metrópoles, o que leva à intensificação do uso do helicópteros nos grandes centros urbanos.
Em grandes cidades, pesa o aspecto da segurança, que eleva a demanda do transporte de determinados valores por via aérea. Além disso, crescem as missões de resgate, incluindo aí a intervenção de helicópteros da polícia em casos de pessoas com problemas de saúde no meio do caótico trânsito como o de São Paulo.
Nas três últimas décadas, a frota de helicópteros no Brasil passou de 350 para 856 unidades. Dessas, 420 estão na cidade de São Paulo que, ao lado de Nova York e Tóquio, conta com o maior número de helicópteros do planeta.
O grupo EADS espera que o contrato de venda do Super Cougar seja fechado até o início de novembro. A encomenda deverá totalizar 51 helicópteros, um numero que permite dividir o lote em três partes iguais, para poder atender Exército, Marinha e Aeronáutica sem fazer diferenças.
Mas fora do uso militar, a direção da EADS começa a vislumbrar uma nova oportunidade de negócios. Existe a expectativa de que a Petrobras possa se interessar pelo mesmo modelo e sugerir o seu uso às empresas que operam os helicópteros que atendem as suas bases.
O grupo EADS se entusiasmou com os campos petrolíferos anunciados nas costas de São Paulo e Rio de Janeiro. Ferreira, o diretor geral da EADS no Brasil, lembra que as distâncias entre esses campos chegam a 300 quilômetros, em média. Esse mercado, chamado pela indústria de "off-shore", requer helicópteros de grande capacidade e sistemas de controle eletrônico sofisticados.
O Super Cougar foi lançado na Europa há um ano. O primeiro, que pertence ao Exército da França, atua hoje no Afeganistão. O modelo brasileiro será produzido na Helibras, uma empresa instalada em Itajubá (MG). Embora não comente o assunto, o grupo EADS está prestes a comprar as ações que o grupo de investimentos Bueninvest tem na Helibras. Isso elevará sua participação na empresa dos atuais 45% para 70%. O governo mineiro tem 25%. A mudança na participação acionária ocorre no momento em que o novo projeto industrial demanda mais recursos. Estima-se um investimento em torno de 350 milhões de euros no projeto do novo helicóptero.
A EADS decidiu dar ao helicóptero brasileiro a denominação de de EC 725 BR, embora o mercado tenha se habituado a chamá-lo de Super Cougar, o mesmo apelido que leva na Europa. Com capacidade para 22 passageiros, o Super Cougar custa em torno de US$ 25 milhões a US$ 30 milhões, dez vezes mais que o pequeno Colibri, produzido no Brasil há 30 anos.
Pode parecer um atraso o Brasil só receber um grande novo projeto do setor três décadas depois da primeira investida. Mas a direção da empresa lembra que faltava uma base de fornecimento como a que existe hoje. Ferreira diz que a idéia é já nacionalizar motor e instrumentos. O governo brasileiro exigiu que o nível de nacionalização chegue a pelo menos 50% em cerca de seis anos. Já é certo que as turbinas serão fornecidas pela Turbomeca, empresa que também atende a Eurocopter na Europa. Esse fornecedor deverá instalar uma unidade industrial em Xerém, no Rio de Janeiro.
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