Foto: Agência Fapesp
Quando completar 110 anos, em 2009, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) estará passando por uma grande ação modernizadora.
De acordo com o diretor-presidente do instituto, João Fernando Gomes de Oliveira, professor titular da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, o projeto de modernização é uma iniciativa do governo estadual, que alocará a maior parte dos recursos estimados em R$ 150 milhões, incluindo participações de instituições como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes), a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e a Fapesp, além de empresas como Petrobras e Embraer.
O IPT, que conta atualmente com instalações distribuídas em 67 prédios, ocupando mais de 96 mil metros quadrados em São Paulo, Guarulhos e Franca, ganhará novas unidades no interior paulista: um laboratório de gaseificação de biomassa, em Piracicaba, e um laboratório de pesquisas e estruturas leves – material utilizado especialmente na indústria aeroespacial – em São José dos Campos.
Gomes de Oliveira afirma que o projeto tem o objetivo de estimular a estrutura de pesquisa e desenvolvimento, ampliar os serviços com alto conteúdo tecnológico e aprofundar o trabalho como centro de pesquisa pré-competitiva. O instituto passará a atuar em novas áreas, como microssistemas, nanobiotecnologia, estruturas leves e simulação numérica.
A estrutura do IPT, que conta com 13 centros, 30 laboratórios e 10 seções técnicas, ganhará sete novos laboratórios. O plano inclui também o investimento em formação de recursos humanos, com envio de pesquisadores ao exterior. O instituto tem hoje cerca de 500 pesquisadores e mais de 400 técnicos.
O ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, visitou o IPT na última terça-feira (19/8) para conhecer o projeto, que em breve será lançado oficialmente. “O IPT está dando o exemplo para os demais institutos que padecem de problemas comuns, pois, além de criar novos desafios e objetivos, é preciso que as pessoas não se acomodem”, disse Rezende.
Gomes de Oliveira, que tomou posse do cargo de diretor-presidente no início de janeiro, com mandato de dois anos, concedeu à Agência Fapesp a seguinte entrevista:
Agência Fapesp– Quais são os principais focos do projeto de modernização tecnológica do IPT?
João Fernando Gomes de Oliveira– O projeto foi estruturado sobre quatro princípios: promoção da pesquisa para inovação; estímulo às estruturas de pesquisa e desenvolvimento (P&D) nas empresas; expansão e fortalecimento das áreas de atuação; e ampliação da presença regional.
Agência Fapesp–
Quando o projeto foi concebido?
Gomes de Oliveira– A iniciativa foi do governo paulista, que se interessou por investir em uma grande ação modernizadora do IPT. Começamos a trabalhar no projeto e a discutir a aplicação dos recursos em março.
Agência Fapesp–
O que haverá de novo em relação à promoção da pesquisa para a inovação?
Gomes de Oliveira– O IPT tem um forte componente de prestação de compromissos tecnológicos. Uma das metas é seguir nesse caminho, fortalecendo a pesquisa pré-competitiva, ou seja, trabalhar com capacidade própria no desenvolvimento tecnológico para depois negociar com a indústria, em vez de partir apenas de demandas específicas dela.
Agência Fapesp–
E quanto ao estímulo à estruturação de P&D nas empresas? Qual a estratégia?
Gomes de Oliveira– Possivelmente vamos fazer isso trazendo escritórios dos centros de P&D das empresas para dentro do IPT. Outra possibilidade será criar uma incubadora de P&D dentro do instituto.
Agência Fapesp–
O IPT passará, então, a atuar em novas áreas?
Gomes de Oliveira– Vamos procurar fortalecer os setores nos quais atuamos hoje, além de expandir para outras áreas, abrindo também novas unidades no estado. Posso citar como novos espaços de atuação as áreas de nanobiotecnologia, de estruturas leves – com o novo Centro de Pesquisas de Estruturas Leves em São José dos Campos, que atenderá diversas indústrias e especialmente a aeronáutica –, a área multiusuário de simulação numérica que estamos criando e a área de microssistemas e sensores. Com a nova unidade em Piracicaba, vamos fortalecer o setor de bioenergia, no qual já atuamos. Seguiremos atuando também na área de processos de gaseificação.
Agência Fapesp–
Com essa expansão haverá também um aumento da demanda por mão-de-obra qualificada?
Gomes de Oliveira– Sim, e o projeto prevê uma readequação da gestão de recursos humanos. Queremos enviar pesquisadores para o exterior e, em contrapartida, trazer novas cabeças de fora. Também vamos renovar o sistema de avaliação de desempenho. Os investimentos totais do projeto envolvem, além da modernização laboratorial, a abertura de concursos. Estamos no momento com uma seleção aberta para 278 vagas.
Agência Fapesp–
Qual o orçamento total do projeto de modernização?
Gomes de Oliveira– O orçamento é da ordem de R$ 150 milhões até 2010. Esses recursos estruturantes, em grande parte, estão sendo alocados pelo governo paulista. Mas a nova unidade de São José dos Campos, por exemplo, tem aporte do BNDES, Finep, FAPESP e da Embraer.
Agência Fapesp–
E a Petrobras investiu em quais projetos?
Gomes de Oliveira– Em vários. Mas, no plano de modernização, a empresa está investindo especialmente em dois grandes projetos: um deles na área de bioenergia, com aporte de R$ 5 milhões. O outro, com aporte de R$ 8 milhões, é um laboratório de ensaios de estruturas pesadas, para apoiar o trabalho em plataformas para águas profundas.
Agência Fapesp–
Esses recursos já estão disponíveis?
Gomes de Oliveira– Uma parte do orçamento está sendo executada. O processo de implantação dessa modernização envolve investimentos, compras e importações. O IPT tem procurado agir rapidamente e, para isso, criou um escritório de gestão do processo de modernização. Temos gente qualificada trabalhando nisso e as importações necessárias para a infra-estrutura dos novos laboratórios já começaram a ser feitas.
Agência Fapesp–
E quando os novos projetos começarão a operar?
Gomes de Oliveira– Nossa expectativa é que no início de 2009 já tenhamos as inaugurações de laboratórios que estarão disponíveis para o apoio às indústrias, como o tanque de provas e o túnel de gravitação, que terão investimentos do Ministério da Ciência e Tecnologia e da Petrobras. Também no início do ano deveremos inaugurar um centro robotizado de prototipagem rápida de plataformas de petróleo. O centro de bionanotecnologia, que terá aportes do governo paulista, necessitará de aquisição de materiais e contratação de pessoal e está previsto para o fim de 2009.
Agência Fapesp–
Quantos projetos são no total?
Gomes de Oliveira– A programação inclui 34 reformas no IPT, incluindo sete grandes laboratórios e o centro de simulação numérica, que deverá estar pronto no início do ano. O centro de ensaios de estruturas pesadas – que precisará de R$ 13 milhões para testes em embarcações e em plataformas de águas profundas – deverá ficar pronto em julho de 2009.
Agência Fapesp–
Uma das principais novidades da Lei Paulista de Inovação é que ela se refere expressamente ao IPT, permitindo que o instituto crie subsidiárias para se associar a empresas. Isso estimulou a iniciativa de modernização?
Gomes de Oliveira– A Lei Paulista de Inovação ajuda bastante por explicitar essa possibilidade de abrir subsidiárias e laboratórios em outras regiões. Esse recurso precisa ser pensado e será possivelmente utilizado. Mas a perspectiva de modernização já começou a ser trabalhada antes mesmo de a lei ser sancionada, em junho. A criação da unidade de São José dos Campos ganha segurança com essa lei, mas trata-se de um laboratório e não de uma subsidiária.
Agência Fapesp–
O projeto já foi lançado oficialmente?
Gomes de Oliveira– Ele está sendo finalizado e será divulgado em breve. Mas no dia 19 de agosto, o ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, e o secretário estadual Alberto Goldman, do Desenvolvimento, visitaram o IPT para conhecer o projeto. Ambos manifestaram entusiasmo em relação aos planos.