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A produtividade do trabalho na indústria aumentou 4,11% no acumulado de 12 meses até junho, pouco abaixo do ganho apurado no intervalo de 12 meses até maio (de 4,27%), mas ainda próximo do ganho médio de 4,16% observado no ano de 2007.
O ganho é resultado do incremento de 6,71% na produção e de 2,5% no total de horas trabalhadas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Na comparação entre semestres, no entanto, o crescimento foi um pouco menor, confirmando a tendência de acomodação da produtividade do trabalho na indústria. Entre janeiro o junho, a taxa de expansão foi de 3,51%, mesmo índice apurado em igual intervalo de 2007. No segundo semestre do ano passado, o aumento foi mais expressivo, de 5,78%. Para economistas, o ganho de eficiência pode ajudar a 'amortecer' o impacto do aumento nos custos industriais, contribuindo no processo de desaceleração da inflação no segundo semestre.
"O aumento da produtividade está menor, mas ainda é suficiente para incorporar ajustes de salário que devem ocorrer no segundo semestre em função das subidas de preço", afirma o professor da Unicamp Edgard Pereira, da consultoria Edgard Pereira & Associados. Para o economista, os ganhos de produtividade devem apresentar alguma desaceleração no segundo semestre, por conta das estimativas de desaceleração na taxa de expansão da produção industrial. "É possível que o aumento da produtividade tenha alcançado o seu pico no primeiro semestre."
Júlio Gomes de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), tem previsão mais otimista. Ele observa que o crescimento de 3,5% no semestre ocorreu com um incremento significativo no número de horas pagas (de 2,67%, ante 1,3% no mesmo intervalo do ano passado). "O ritmo de crescimento do emprego e das horas trabalhadas foi especialmente alto e não deve se manter nesses patamares nos próximos meses", diz. Para Almeida, mesmo com a previsão de expansão menor da produção industrial, o índice de produtividade deverá melhorar no segundo semestre, encerrando o ano numa faixa mais próxima de 4%. No primeiro semestre, a produção industrial cresceu 6,3% e a projeção do Banco Central para o ano é de um incremento de 5,5% sobre 2007.
O consultor do Iedi observa que o setor industrial tem conseguido manter o ganho médio de produtividade acima de 3% ao ano desde 2004, o que contribui para o crescimento sustentável do setor no longo prazo. Conforme Almeida, ganhos acima de três pontos percentuais por ano permitem que a indústria se proteja parcialmente contra a valorização cambial. "Os custos empresariais estão aumentando muito, tanto salários como matérias-primas. Esse ganho ajuda a dirimir a alta de custos e o repasse de preços ao restante da cadeia."
Se for convertido em ganho de rentabilidade, o aumento da produtividade também poderia permitir fluxo de caixa para investimentos em capacidade industrial, observa Fernando Sarti, professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ele ressalva que, nos últimos anos, as indústrias não capitalizaram todo o ganho de produtividade que tiveram. Boa parte foi repassada ao setor público, via tributos, ao setor financeiro via juros e ao setor externo, por conta da valorização cambial. "Seria ótimo se o ganho de eficiência não ficasse restrito à contenção de custos, mas gerasse recursos para investimentos", afirma. Os possíveis efeitos do ganho de produtividade serão considerados pelo governo para mudanças ou manutenção da atual política monetária, observa. "De toda forma, o aumento da produtividade associado a um incremento no nível de emprego é extremamente positivo."
No primeiro semestre, os setores que apresentaram maior ganho de produtividade com aumento do total de horas trabalhadas foram o de materiais de transporte (que registrou alta de 12,06% em horas pagas e de 7,64% em produtividade), borracha e plástico (com ganho de 2,98% em horas pagas e 5,81% em produtividade) e minerais não-metálicos, com altas de 2,15% e 5,53%, respectivamente. Outros segmentos seguiram ampliando a produtividade à custa da redução no total de horas pagas. É o caso das indústrias de fumo, têxtil, vestuário, calçados e couro, madeira, papel e gráfica. "Os setores mais afetados pelo real valorizado frente ao dólar e pela concorrência com importados mantêm a trajetória de redução do emprego", observa Pereira.
No semestre, o indicador do emprego industrial registrou incremento de 2,8%. Dos 17 segmentos da indústria de transformação, 11 apresentaram crescimento, destacando-se máquinas e equipamentos (12,6%), meios de transporte (10,8%) e máquinas, aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações (12,9%). O índice do valor de folha de pagamento real também cresceu no semestre, ficando em 6,5%.