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Criticada pela indústria de biodiesel por sua pouco organizada cadeia de produção e por técnicos da própria Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que a consideram menos recomendável para a fabricação de biodiesel na comparação com outras matérias-primas, a mamona parece perder também a defesa enfática de um de seus maiores entusiastas. Na inauguração da planta de produção de biodiesel da Petrobras em Candeias (BA), a oleaginosa foi relegada a segundo plano pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O momento era para a mamona brilhar. Lula, que sempre apresentou a oleaginosa como essencial para a inserção da agricultura familiar na indústria de biocombustíveis, inaugurou uma unidade que recebeu investimento de R$ 101 milhões, com capacidade de produção anual de 57 milhões de litros e localizada no Estado que domina a produção da oleaginosa, com quase 80% do total nacional, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em um discurso de 4.512 palavras, a mamona foi citada uma única vez.
Com baixa produtividade e produção concentrada na agricultura de pequena escala, a mamona sequer serve, sozinha, para produzir biodiesel. A ANP considera a viscosidade da oleaginosa imprópria para a produção do combustível sem a adição do óleo de outras matérias-primas.
Essa restrição não significa a total inviabilidade da cultura, ressalva Liv Soares Severino, chefe de negócios da Embrapa Algodão em Campina Grande (PB) e pesquisador da mamona. "Há muito espaço para a mamona crescer. A oferta atual sequer atende a demanda da indústria química", diz. A Brasil Óleo de Mamona, maior consumidora nacional da oleaginosa, tem capacidade instalada de 100 mil toneladas anuais. Em 2007, a produção brasileira foi de 98,4 mil toneladas, segundo o IBGE.
"Mas o uso de mamona continuará incentivado no biodiesel. Esse mercado é que vai ajudar a ajustar os preços, que são muito sensíveis", afirma Severino. Segundo ele, se feito com até 40% de óleo de mamona na mistura, o biodiesel enquadra-se nos parâmetros técnicos estabelecidos pela ANP.
Em seu discurso na Bahia, Lula voltou a criticar os que acusam os biocombustíveis pelo encarecimento global dos alimentos. "Eu não seria louco de deixar meu povo de tanque vazio para encher o tanque de um carro".
O presidente deu posse ao comando da Petrobras Biocombustível, empresa que será presidida por Alan Kardec. O conselho de administração será presidido pelo ministro de Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel. O Ministério da Agricultura não terá representantes no conselho.
Também sobre a disputa entre alimentos e energia, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse no Rio de Janeiro que "todos sabemos que é idéia de jerico produzir etanol do milho, como fazem os Estados Unidos. Mas temos que continuar produzindo porque em algum momento o mercado [americano] vai se abrir". A tendência, acredita, é que a produção americana a partir do milho entre em colapso.