Depois de adquirir jazidas de ferro em Minas Gerais, a Ferrous controlada por fundos de investimento estrangeiros, anunciou ontem o seu programa de negócios. O plano é ambicioso e prevê o aporte de quase US$ 6 bilhões até 2014 na construção de um complexo integrado por minas, mineroduto, porto e pelotizadoras, apto a fazer 50 milhões de toneladas anuais - o suficiente para transformar a companhia, constituída há pouco mais de um ano, numa das maiores exportadoras de minério de ferro do mundo.
"É um projeto que demonstra nossa confiança nas perspectivas do mercado, sobretudo em decorrência do crescimento dos países emergentes", disse o geólogo Carlos Gilberto Mansur, presidente da Ferrous, egresso da Vale do Rio Doce. Dos US$ 5,6 bilhões a serem investidos, US$ 500 milhões já foram aplicados na aquisição de quatro minas localizadas na rica região do Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais. O restante deve ser levantado por meio de um lançamento primário de ações programado para o final deste ano ou início de 2009 na Bolsa de Valores de Londres.
"Será uma grande captação, mas que ocorrerá com colocações graduais", diz Robert Graham, do conselho de administração da Ferrous, cujo controle é detido por 10 fundos australianos, americanos e ingleses, além de sócios brasileiros minoritários. "Queremos ser a primeira empresa sediada no Brasil listada na Bolsa de Londres", afirma Graham, que já comandou a Rio Tinto no Brasil. Nessa etapa, que antecede a estréia no mercado acionário, a empresa realiza pesquisas geológicas nas áreas recém-adquiridas, que somam 3.243 hectares. Até agora, as 18 sondas executadas, com 33 mil metros de furos, dimensionaram reservas de 2 bilhões de toneladas - volume auditado pela Joint Ore Reserves Comittee (Jorc), da Austrália.
Os recursos investidos até o momento também buscam sanar o elevado passivo ambiental das mineradoras adquiridas em 2007 e neste ano, sendo que algumas estão paralisadas há mais de uma década. É o caso de Serrinha, situada em Brumadinho, sem atividades há 13 anos. No mesmo município, fica a mina de Esperança. As outras duas estão em Itatiaiuçu (Santanense) e Congonhas (Viga). Mais uma área de 250 hectares em Congonhas foi comprada e está em fase de sondagens.
Os primeiros embarques da Ferrous começam este ano, com a exportação para a China de 1,2 milhão de toneladas de minério tipo fino - produto originado do trabalho atual de recuperação ambiental. Esse volume será despachado pelo terminal portuário da Vale em Itaguaí (RJ). "Contratamos, juntamente com a Minerita, o direito de embarque de 2,2 milhões de toneladas", disse Fernando Porto, diretor comercial. Em 2009, a previsão é exportar cinco milhões de toneladas. "Estamos negociando contratos com siderúrgicas da China, Oriente-Médio e Coréia do Sul. Eventualmente, vamos exportar para a Europa", afirmou Porto.
O plano da Ferrous é operar, a partir de 2013, o seu próprio terminal portuário, a ser erguido no litoral capixaba, em área de 10 milhões de metros quadrados, que está em negociação. O porto terá um complexo pelotizador. Não está definido o número de usinas, a serem supridas por um mineroduto de aproximadamente 400 quilômetros, cujo traçado depende de estudos. Parte do minério será transportada pela MRS Logística. A Ferrous contará ainda com um Centro de Pesquisas Teconológicas (CPT), em Brumadinho, com investimento de R$ 20 milhões. O primeiro dos três laboratórios previstos foi inaugurado no dia 15.
Com base nos preços atuais do minério de ferro, a Ferrous teria receita da ordem de US$ 5 bilhões ao ano, no auge da produção. Mas o plano da empresa é alcançar um volume de 100 milhões de toneladas em 2020. "Estamos em busca de novas oportunidades, no Brasil e no exterior", diz Mansur. Para auxiliar a estratégia da Ferrous, foram escalados para o conselho de administração o ex-embaixador Jório Dauster, que comandou a Vale de 1999 a 2001, e Luiz André Rico Vicente, conselheiro da Gerdau Açominas.
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