Os bens de capital importados em 2008 estão com preços médios 10% superiores aos registrados no ano passado. O reajuste do minério de ferro, a demanda mundial aquecida por máquinas e equipamentos e o dólar desvalorizado estão entre os fatores de pressão para alta dos preços no exterior. No Brasil, as importações cresceram 47,6% nos cinco primeiros meses deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. O percentual mostra uma tendência de alta no ritmo de crescimento das compras no exterior, uma vez que no ano passado o aumento foi de 32,7%, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
O presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Máquinas e Equipamentos Indústrias (Abimei), Thomas Lee, diz que o aumento do minério de ferro no exterior, principal matéria-prima para a fabricação de máquinas, já está sendo repassado. Ele observa um reajuste médio de 10% a 15% nas encomendas de máquinas e equipamentos importados nos primeiros meses do ano, principalmente dos países asiáticos. Até o final do segundo trimestre, Lee prevê, novo reajuste de, pelo menos, mais 5%.
Dados de abril da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) apontam a curva de alta nos preços. Enquanto no acumulado dos quatro primeiros meses do ano, os preços dos bens de capital importados aumentaram 10%, em abril sobre o mesmo mês de 2007 o crescimento chega a 11,2%. Em todo o ano passado, o avanço foi de apenas 2,9%, na comparação com 2006.
Além da pressão da matéria-prima mais cara, outro fator indutor de alta dos preços das máquinas e equipamentos é o dólar. Ao mesmo tempo em que a desvalorização mundial da moeda norte-americana facilita a importação dos bens pelo Brasil, também exerce pressão sobre os custos em razão da valorização das moedas dos países exportadores. "Estamos sentido na carne a elevação dos preços lá fora, principalmente pela valorização do yuan (moeda da China) e do dólar taiwanês", diz Paulo Lerner, diretor da Bener, empresa comercial importadora e exportadora do segmento de usinagem, que compra bens de capital principalmente no mercado asiático.
Segundo Lerner, os preços das máquinas importadas da China e de Taiwan estão chegando ao Brasil com altas médias de 10% a 15%. "Ainda temos estoques com o preço antigo, mas a reposição já está vindo com o preço novo", conta, creditando o reajuste à valorização das moedas asiáticas ante o dólar e à alta nos preços dos derivados do aço. O gerente comercial da Meggaplásticos, Luis Guerra, tem percebido reajustes ainda maiores entre 15% a 17% da China e de Taiwan, enquanto que as importações japonesas estão 14% mais caras. "Os reajustes até o ano passado eram anuais. Agora os fornecedores fazem as atualizações semestralmente", comenta Guerra.
Mesmo com o aumento do preço no mercado internacional, o ritmo de importações se mantém, isso porque as máquinas e equipamentos nacionais ainda são mais caros, segundo Lee, da Abimei. "O preço é determinante neste segmento, mas, com o mercado interno aquecido, os empresários não têm outra opção", diz. O executivo acredita, no entanto, que o aumento no preço dos bens de capital importados não deve chegar até o consumidor final. "A máquina produz muito e o custo é rateado por uma grande quantidade de produtos. O impacto da matéria-prima afeta mais do que o preço da máquina."
Com metodologia diferente da Secex, o levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) confirma o aumento das importações. Nos seus cálculos, nos quatro primeiros meses do ano a alta foi de 45,6% sobre o mesmo período do ano passado, totalizando US$ 6,230 bilhões. A previsão da entidade é de que o déficit comercial do setor seja de R$ 10 bilhões a R$ 12 bilhões neste ano, ante US$ 4,5 bilhões de 2007.
"Há uma clara evidência de que as importações estão aumentando para atender à demanda interna", afirma o presidente da Abimaq, Luiz Aubert Neto. O dirigente diz, porém, que pelo menos "50% das importações são do mal". "As máquinas chinesas são as que mais causam estragos, pois possuem baixo valor agregado e entram com preços inferiores ao custo da matéria-prima, o ação", declara.
O diretor Comercial da Fagor Arrasate, empresa que atua no segmento de corte e conformação, Osni Andrade Silva, diz que as empresas estão comprando no exterior mesmo quando há similar no mercado nacional. "Considerando que a produtividade, a durabilidade e o desempenho são superiores optamos pela máquina importada", enfatiza.
E são justamente as máquinas importadas dos países asiáticos que mais abastecem o mercado brasileiro. Nos quatro primeiros meses do ano, a Abimaq apurou um aumento acima da média geral das importações originárias da China (+88,1%), do Japão (+75,7%), da Coréia do Sul (+66,4%) e de Taiwan (+61,2%).
"Há dez anos, os chineses não estavam nem entre os dez principais fornecedores de máquinas para o Brasil e a nossa previsão, agora, é de que se tornem neste ano o segundo maior exportador para o mercado brasileiro", afirma Aubert, da Abimaq. Hoje, o principal fornecedor de máquinas para o País é os Estados Unidos, que registraram elevação de 40,7% nas vendas de janeiro a abril, beneficiados pela desvalorização do dólar. O segundo é a Alemanha, com alta de 36,3%.
Embora o aumento das importações de bens de capital seja generalizado, o setor que mais puxa a alta é o agronegócio. As encomendas de máquinas e equipamentos voltados para a agricultura mais que dobraram no primeiro quadrimestre deste ano, com alta de 106% frente o mesmo período do ano passado, segundo dados da Abimaq. Aubert ressalta, entretanto, que o baixo crescimento do setor em 2005 e 2006 reduziu a base de comparação. Mesmo assim está bem acima das compras de bens de capital pela indústria de transformação, que avançaram 43,5%, e pelas empresas das áreas de infra-estrutura, logística e indústria de base, que subiram 59,7%.
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