Indústria acelera produtividade em 2008


As indústrias aceleraram os ganhos de eficiência até o mês de abril em comparação com o fim do ano passado. Nos 12 meses encerrados em abril, a produtividade das indústrias teve incremento de 4,47%, superior aos 4,24% acumulados nos 12 meses até março e acima do ritmo de crescimento registrado no ano fechado de 2007, de 4,1%.

Até abril, a produção aumentou 6,96%, ante um índice de 6,02% no ano fechado de 2007. O número de horas pagas também cresceu a ritmo mais acelerado em comparação com o ano passado, alcançando incremento de 2,38%, diante de 1,8% no ano de 2007, de acordo com dados divulgados ontem (9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE).

No acumulado de janeiro a abril, a produtividade do trabalho nas indústrias cresceu 4,28% em relação a igual período de 2007, ritmo superior aos 3,32% acumulados no primeiro trimestre deste ano. Esse desempenho é resultado de um incremento de 7,31% na produção e de 2,91% no total de horas pagas. Para economistas, os ganhos de eficiência registrados no primeiro quadrimestre foram positivos, mas podem não se repetir nos próximos meses.

O fator apontado para a defesa dessa teoria é o arrefecimento da expansão da produção e do emprego industrial, sobretudo no segundo semestre. No mês de abril, de acordo com dados do IBGE, o emprego nas indústrias teve recuo de 0,2% em relação a março, com ajuste sazonal. Em comparação com abril de 2007, o crescimento foi de 2,6%. No ano, o incremento foi de 3%, o mesmo registrado no primeiro trimestre deste ano. No acumulado de 12 meses, repetiu a taxa verificada no mês anterior, de 2,7%.

Produtividade

O professor da Unicamp Edgard Pereira, da consultoria Edgard Pereira & Associados, considera a pequena melhora da produtividade mais como um sinal de estabilização do que uma tendência ainda de crescimento na produtividade. "O período de ganhos maiores já passou, tanto no que se refere ao emprego quanto em relação à produção", afirma.

Para o professor da Unicamp, o ritmo de crescimento da produção industrial tende a diminuir nos próximos meses e, com ele, a redução nas taxas de produtividade. "A indústria como um todo tende a reduzir o ritmo de crescimento e isso terá um peso mais importante sobre a produtividade do que o nível de emprego em si", avalia.

Em relação ao emprego, destaca que dois movimentos opostos ganham força na indústria de transformação. Nos setores de meios de transporte e máquinas e equipamentos - que apresentaram aumentos na produtividade de 8,45% e 5,14%, respectivamente -, os índices resultam de uma combinação de crescimento da produção e do emprego. "Esses setores apresentam um aumento virtuoso da produtividade, ao contrário dos setores de vestuário e calçados e couro, que elevaram produtividade com redução do nível de emprego", comparou.

No acumulado de 12 meses até abril, a produtividade no setor de vestuário aumentou 13,41%, com redução de 3,99% na folha de pagamento. O segmento de calçados e couro apresentou o segundo melhor índice de produtividade, de 11,49%, com queda de 10,76% no total de horas pagas.

Júlio Gomes de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), ressalta que os ganhos de produtividade com redução do emprego ocorreram sobretudo em setores intensivos em mão-de-obra, incluindo na lista as indústrias têxtil, de madeira, papel e gráfica e fumo. "O resultado do emprego em abril ficou abaixo do esperado por causa da redução no emprego nesses setores. Madeira e calçados ainda produzem menos do que produziam no ano passado. Os demais estão sendo forçados a fazer mudanças tecnológicas para ganhar produtividade e houve uma concentração no tempo das demissões."

Para Almeida, o aumento da produtividade de 4,47% indica que o padrão de crescimento das indústrias observado, sobretudo no quarto trimestre de 2007, está se mantendo neste início de 2008. O economista considera "excelente" o aumento na produtividade acima de 4%. Ele também aposta na desaceleração desse ritmo, com taxas menores de crescimento no emprego. "No ano passado, o emprego na indústria crescia a uma taxa de 3,5%, hoje está na faixa de 3%", compara o consultor do Iedi.

Empregos


Fábio Romão, analista da LCA Consultores observa também que a geração de empregos formais na indústria em abril ficou aquém do que foi registrado nos meses anteriores e em 2007. "As indústrias geraram 82,7 mil postos em abril, segundo o Cadastro Geral de Admitidos e Demitidos (Caged), e esse resultado foi 20% inferior ao número de novos postos criados em abril do ano passado", observa.

No acumulado de janeiro a abril, no entanto, o saldo de empregos é maior neste ano, de 229 mil vagas, ante 214 mil no mesmo intervalo de 2007. "Mas o saldo é maior muito em função do primeiro trimestre. Ao meu ver, esse já é um sinal de que o mercado de trabalho vai se manter num ritmo de expansão significativo, mas a curva começa a descender no segundo semestre", acrescenta Romão, da LCA.

Outro ponto destacado em abril na atividade industrial foi o aumento no custo do trabalho - mudança que começou a ocorrer em março e foi apontada pelo Valor. Em 12 meses até abril, a diferença entre produtividade e salário foi de 2,2 pontos percentuais, com incremento real de salários de 6,67% no período. O aumento no custo do trabalho ocorreu em cinco setores no período.

O maior incremento ocorreu no setor de coque, refino de petróleo, combustíveis nucleares e álcool, com aumento de 7,14 ponto percentual no custo. Também houve piora nos setores de alimentos e bebidas (cujo índice ficou em 4,06), metalurgia básica (2,42 ponto), produtos de metal (1,5 ponto) e outros produtos da indústria de transformação (0,89).

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