A mudança de classificação de risco do Brasil para o grau de investimento por parte de uma importante agência deu margem a grandes comemorações pela maior parte dos economistas e analistas de mercado. O bom humor derivou, em grande parte, por conta da possibilidade de empresas e do setor público poderem captar recursos externos a taxas de juros internacionais inferiores às cobradas anteriormente.
Da mesma forma, o grau de investimento possibilita de forma concreta um maior acesso por parte de fundos de investimentos estrangeiros ao país, ampliando sua parcela de alocação de recursos para o Brasil, uma vez que a menor percepção de risco proporciona maior espaço para alocação nesse momento. Nesse sentido, o grau de investimento abre uma gama de possibilidades de investimentos no País, com grandes potenciais de retorno para a economia brasileira.
A despeito dos aspectos favoráveis mencionados, existem alguns pontos que merecem ser ressaltados no âmbito do grau de investimento que afetam a economia brasileira em diferentes dimensões, não apenas em nível macroeconômico, mas também em nível microeconômico.
Nesse contexto, sob a ótica macroeconômica, a melhoria da classificação de risco pode ser traduzida em um potencial aumento do ingresso de moeda estrangeira no País de diferentes formas. Essa entrada de dólares representaria novas pressões por apreciações da moeda brasileira frente às demais moedas. Isso significaria uma potencial nova rodada de perda da competitividade da economia brasileira de produtos comercializáveis com o exterior frente aos produtores de outros países. Esse cenário agravaria a condição de alguns segmentos que já convivem de forma cada vez mais acirrada com a concorrência externa nos seus mercados, significando uma perda de espaço da produção nacional nos mercados externo e doméstico.
Esse processo tende a ser exacerbado em um quadro de elevação da taxa doméstica de juros, à medida que o diferencial de taxas existentes entre o mercado nacional e internacional é ampliado. Em outras palavras, uma vez que a política monetária tende a ser contracionista mais adiante (tendo em vista o cenário pressionado da inflação doméstica), com elevações da meta da taxa básica de juros (Selic) por parte do Banco Central, a perspectiva de ingresso de recursos externos para aplicação em renda fixa tende a crescer, devendo agravar o cenário de apreciação do real frente às demais moedas verificado.
Essa dinâmica tende a piorar a condição de setores mais expostos à concorrência externa, como é o caso da indústria nacional. Não sem razão, o governo recentemente editou medidas no sentido de estimular o investimento e a produção na indústria, mas esse esforço pode dar em nada, uma vez que um dos preços fundamentais para o setor (taxa de câmbio) encontra-se seriamente desalinhado.
De maneira curiosa, a mudança na classificação de risco aconteceu em um momento em que as contas externas brasileiras já apontavam para uma inversão, que deve ficar cada vez mais visível nos próximos meses. O resultado em conta corrente brasileiro, que foi superavitário em 2007, deve ficar novamente negativo neste ano e o país deverá retomar mais uma vez o ciclo de déficit em conta corrente com financiamento externo, repetindo o fenômeno registrado na segunda metade da década de 1990, que se encerrou na crise cambial de 1999.
A somatória desses fatores indica que o Brasil entra em uma nova condição, mas com problemas similares aos do passado. A forte apreciação da moeda brasileira frente às demais moedas coloca mais uma vez em posição delicada a posição das contas externas do país e passa a afetar vários setores nacionais expostos à concorrência externa.
Da mesma forma, o grau de investimento tende a amplificar esse processo, indicando para uma deterioração das contas brasileiras nos próximos anos. Nesse sentido, existe algum grau de conforto para o governo brasileiro em face da posição das reservas internacionais do país e do ambiente de liquidez internacional, que ainda se mostra favorável. Os problemas podem surgir, nesse contexto, em um quadro de rápida reversão de liquidez internacional, que poderá atingir o país em um contexto de contas externas fragilizadas.
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