Brasil irá criar e desenvolver quase 40 carros


Quase 40 novos carros estão sendo criados e desenvolvidos no Brasil. Os centros de desenvolvimento das montadoras, que há até pouco anos apenas adaptavam modelos criados nas matrizes, hoje operam em ritmo frenético, porém silencioso, para evitar vazamento de informações para a concorrência. Muitos dos automóveis em gestação vão estar nas ruas brasileiras nos próximos cinco anos. Parte poderá ir para outros países.

Desde 1975, quando a Volkswagen do Brasil criou a Brasília, apenas 15 automóveis foram totalmente desenvolvidos no Brasil, metade deles a partir de 2000. Com o mercado em alta, as empresas têm aval das matrizes para criar veículos locais e ampliam investimentos em laboratórios de criação e testes.

Hoje, a Volkswagen inaugura um centro virtual de desenvolvimento na fábrica de São Bernardo do Campo (SP), um investimento de R$ 4,2 milhões. Será o segundo centro mais avançado da marca, comparado apenas ao da matriz, na Alemanha. Com ele, a montadora reduz o tempo dos projetos, que hoje levam em média cinco anos para serem concluídos, do momento em que nasce a idéia até o lançamento, passando por pesquisas de mercado e testes.

Especialização

Segundo Gerson Barone, gerente de Design da Volkswagen, há planos de criar dois novos carros por ano até 2012. Colocá-los no mercado vai depender da viabilidade econômica. O centro também prestará serviços para outras empresas do grupo. "Não se pode mais deixar tudo centralizado na Alemanha", diz o presidente da VW, Thomas Schmall. "O Brasil se especializou em carros de entrada e poderá desenvolver produtos para outros mercados."

Entre os 38 projetos em andamento no país, a General Motors trabalha em uma nova família de carros compactos para os mercados brasileiro e argentino, mas não divulga números. Uma família é composta no mínimo por três versões (hatch, sedã e picape ou van).

A GM também desenvolve picapes médias para vários países, e uma delas já está no forno. O primeiro carro todo desenvolvido no Brasil pela montadora foi o Celta, lançado em 2000. A Ford informa ter nove projetos em andamento, de diferentes segmentos. A estréia da marca com um produto nacional foi em 2001, com o EcoSport.

A Fiat, que por enquanto tem apenas a família Palio na lista dos nacionais (embora parte do projeto tenha sido feito na Itália), não abriu o jogo sobre os novos projetos, por motivos concorrenciais. Recentemente, executivos da matriz informaram que a empresa está desenvolvendo um carro compacto, provavelmente o substituto do Mille.

Até as empresas francesas que chegaram ao Brasil nos últimos dez anos já têm autonomia para desenvolver carros localmente. A Renault, que este ano inaugurou um centro de design em São Paulo, tem cinco projetos a caminho. Dois deles são carros para o mercado local, outro é um veículo conceito que será exposto no Salão do Automóvel em outubro e mais duas adaptações de carros que serão criados pela matriz.

A Peugeot, que na próxima semana apresentará o primeiro carro da marca "inteiramente desenvolvido no Brasil", como ela define, tem mais seis projetos no laboratório do grupo no Rio de Janeiro. A coligada Citroën, que opera conjuntamente na fábrica carioca, tem três carros a caminho - um deles é a minivan derivada do C3, dizem fornecedores de autopeças.

Com oito carros criados no Brasil em 35 anos, a Volkswagen está preparada para superar esse número em apenas cinco anos, período em que deve desenvolver pelo menos dez novos modelos. O último da leva dos projetos já concluídos é o novo Gol, que será lançado em junho. Quinta geração do modelo campeão de vendas no país, o novo Gol terá também uma versão sedã, que deverá ser batizada de Voyage, de acordo com revendedores da marca.

No centro virtual que será inaugurado hoje com a presença da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e do presidente mundial da Volkswagen, Martin Winterkorn, a filial brasileira dispõe da última geração de projetores de alta definição, com dois canais, lançados na Europa no fim do ano passado.

Em uma tela de 5,1 metros por 2,7 metros, é possível ver, com uso de óculos especiais, todos os detalhes do carro em três dimensões - até mesmo cada item interno, como se a pessoa estivesse dentro do veículo.

"O sistema ajuda a antecipar possíveis falhas no projeto e corrigi-las antes da fase de desenvolvimento de ferramentais", informa Barone. Além de reduzir o tempo de criação, há economia de custos, diz ele.

Segundo Schmall, um carro totalmente novo leva em média cinco anos para ser desenvolvido e um derivado, em média dois anos. "É uma decisão pesada antecipar o que será lançado daqui a alguns anos", admite.