Desoneração é insuficiente para meta da tecnologia


O pacote do governo que prevê estímulos às exportações de software e serviços ajudará as empresas no Brasil a ganharem em competitividade, mas, nem de longe, elas conseguirão saltar dos atuais US$ 313 milhões em vendas externas para os US$ 5 bilhões estabelecidos como meta pelo governo até 2010.

"Nenhum setor no mundo passou por uma transformação tão profunda em tão pouco tempo", diz Gérson Schmitt, presidente da Paradigma, uma das exportadoras beneficiadas pelo programa. "Se todo o setor duplicar suas exportações, ficaremos em US$ 1 bilhão." Schmitt também é diretor da Abes (Associação Brasileira das Empresas de Software).

Julio Pagani, analista sênior do IDC (International Data Corporation), avalia que haverá chances de aproximação dessa cifra se o governo atacar pontos que não foram abordados pelo pacote. Um deles é a formação de mão-de-obra.

"Para cumprirmos essa meta precisamos de, pelo menos, 100 mil novos profissionais fluentes em inglês", diz Antonio Carlos Rego Gil, presidente da Brasscom (Associação Brasileira das Empresas de Software e Serviços para Exportação). Ainda que eles sejam formados até lá, as empresas nacionais terão de enfrentar a concorrência de gigantes globais, como IBM e HP, que já utilizam o Brasil como plataforma e recrutam com mais facilidade.

"O pacote ajudou, mas o custo dessa mão-de-obra continua um problema", diz Cesar Castelli, presidente da Tata Consultancy Services, líder mundial em serviços de TI.

Com os incentivos, as soluções brasileiras devem ficar 20% mais baratas no exterior. "Ainda ficamos abaixo da média mundial", diz Castelli. Para reduzir mais esse custo, seria preciso um plano de incentivos fiscais junto aos municípios e Estados interessados em despontar como pólos exportadores de TI. "Estamos planejando uma campanha dessa natureza com as empresas", diz Gil, da Brasscom.

Competição com o Estado

Para as empresas, a competição travada com o próprio Estado é outro gargalo. Atualmente, o governo é o principal desenvolvedor de softwares - por meio de empresas como Serpro, Prodasem, Dataprev - e o principal consumidor.

"É uma distorção que atrapalha o desenvolvimento desse mercado", diz Gil. Segundo ele, estatais como o Banco do Brasil e Petrobras desenvolveram departamentos que são verdadeiras empresas de tecnologia.

"Além disso, o governo incentiva as empresas privadas, mas não compra nossos produtos." Isso é importante porque, na prática, os grandes compradores mundiais buscam no histórico dessas empresas clientes que possam dar aval às compras futuras.

"Se comprassem nossos produtos, Embraer, Banco do Brasil ou Petrobras ajudariam a vender a marca do TI nacional lá fora", diz Gil.

Essa distorção também afeta diretamente as empresas nacionais no exterior. Recentemente, a Paradigma perdeu uma venda milionária de software voltado a controle de gastos governamentais porque o Brasil firmou um convênio com o governo do país para o qual a empresa pretendia exportar.

Sem volume de venda e histórico, os analistas do mercado acreditam que os benefícios do programa do governo serão usufruídos apenas por grandes e médias empresas. "Acredito que apenas duas grandes empresas brasileiras terão chance de se firmar no exterior, faturando acima de R$ 1 bilhão, como pretende o governo."

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