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Um estudo divulgado hoje pelo Banco Mundial mostra que o mercado de carbono dobrou em 2007, movimentando US$ 64 bilhões (€47 bilhões). Segundo o relatório “State and Trends of the Carbon Market Report 2008” (Estado e Padrões do Mercado de Carbono 2008, na tradução livre), isto ocorreu em todos os segmentos, com exceção dos projetos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).
O volume de transações do MDL apresentou uma leve subida, passando de 537 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (MtCO2e) em 2006 para 551 MtCO2e em 2007. O documento foi lançado em Colônia, na Alemanha, durante o Carbon Expo 2008, maior feira e conferência sobre o mercado de carbono do mundo.
Os autores do relatório chamam a atenção para o fato de que o mercado pode estar em um momento decisivo para muitos países em desenvolvimento que começam a obter os benefícios financeiros dos créditos de carbono. Além disso, afirmam que estas nações estão dando um passo adiante para mostrar que se esforçam no trabalho de mitigação das mudanças climáticas através de avanços tecnológicos de energia limpa.
Segundo o relatório, eficiência energética e energia renovável respondem por cerca de dois terços dos projetos transacionados. O principal autor do relatório e especialista sênior do Banco Mundial, Karan Capoor, lembra que 68 países em desenvolvimento participam do MDL, entre eles Jamaica, Quênia, Mali e Madagascar, que entraram no mercado em 2007.
Especialistas que participaram hoje do Carbon Expo foram unânimes em afirmar que o MDL foi fundamental para financiar projetos de energias renováveis nos países em desenvolvimento. Segundo eles, o MDL fez crescer o interesse de instituições financeiras e de governos na execução de tais projetos.
“Ao mesmo tempo em que a cooperação global para reduzir os riscos das mudanças climáticas é mais importante do que nunca, as perspectivas de os países em desenvolvimento se beneficiarem com o mercado de carbono estão em questão. Seria uma vergonha para o mundo perder este momento”, disse Capoor.
Vulnerabilidades e riscos pós - 2012
Apesar dos bons frutos que os países em desenvolvimento começam a colher, eles são os mais sucessíveis às vulnerabilidades do mercado apontadas pelo relatório. Todos irão encarar uma lacuna de demanda em 2008 quando os compradores perceberem que não há tempo suficiente para completar as metas do Protocolo de Quioto com novos projetos e a demanda não terá surtido efeito em mercados emergentes nos Estados Unidos e Austrália, que devem participar do mercado após 2012.
“Dobrar em tamanho é um crescimento significativo, mas o mercado não está nem perto de todo seu potencial”, disse Andrew Ertel, presidente e CEO da Evolution Markets Inc., uma das empresas que contribuíram com informações para o relatório. “A falta de clarificações sobre o pós-2012 e o nivelamento do volume no MDL estão contendo o crescimento de mercados como o EU ETS e o comércio secundário do MDL”. afirmou.
Segundo os autores do documento do Banco Mundial, o sucesso do MDL será contido por atrasos processuais, uma vez que mais de dois mil projetos em mais de três mil ainda não entraram no ciclo de aprovação.
Para o diretor de gerenciamento da Econergy, Phil Doyle, as incertezas quanto ao pós-2012 trazem hoje muita dificuldade para o desenvolvimento de projetos de energias renováveis, que precisam ser bem estruturados e exigem contratos de longo prazo.
“Projetos para energias renováveis e eficiência energética, assim como investimentos em países em desenvolvimento mais pobres, que compõem o grosso volume dos projetos deste ano, saem perdendo com os atrasos e gargalos do MDL, colocando a sua eventual implementação em questão”, disse o co-autor do relatório, Philippe Ambrosi.
O secretário do Ministério Federal para o Meio Ambiente, Conservação Natural e Segurança Nuclear da Alemanha, Mathias Maching, comentou que também tem dúvidas com relação ao futuro das negociações de créditos de carbono. “Sentimos que o mercado pós-2012 terá força, mas há muita incerteza sobre como vai funcionar”, afirmou na abertura do evento.
Maching também falou sobre a necessidade de avanços tecnológicos que permitam promover as reduções sugeridas por cientistas de todo o mundo. “Hoje não temos tecnologias para alcançar uma meta de redução das emissões de 60 a 80% em 2050. Com as tecnologias existentes podemos alcançar de 30 a 40%”, alertou.