Orquestra desafinada na cadeia automotiva


Os consumidores continuam indo às compras sem, aparentemente, se preocupar com o aumento da taxa básica de juros (Selic).

Abril deve fechar com outro recorde de vendas, mas a agitação nos bastidores da indústria fervilha. Em curto prazo a preocupação se concentra na greve dos auditores fiscais. O movimento, após mais de um mês, deixa rastro de desorganização na cadeia de importação e exportação de componentes.

Reflexos na produção de veículos serão sentidos nas próximas semanas. Se estava difícil encontrar carro na versão e opcionais desejados, a dificuldade aumentará. Não há sinais à vista de que a demanda deixará de superar previsões das próprias montadoras. É intricado para a nova leva de compradores entender porque a produção deixa de acompanhar o ritmo forte da procura.

Executivos do setor costumam dizer que se trata de um bom problema: mais fácil administrar o excesso do que a falta de demanda. De fato, a reação até tem sido rápida. Em quatro anos a produção cresceu 65%. Não é pouca coisa.

O principal entrave concentra-se no tamanho da cadeia produtiva, uma das mais longas da economia. O segmento de fornecedores apresenta vários níveis e especialidades (da matéria-prima às autopeças). As arestas estão no terceiro e quarto níveis, ou seja, na base de fornecedores de capital nacional, descapitalizados e devendo ao fisco. O Sindipeças reconhece que os chamados gargalos produtivos atrapalham bastante.

Em breve concluirá um estudo que levantará a efetiva capacidade instalada e a competitividade da indústria de autopeças no País.

Investimentos prosseguem: em 2008 crescerão 18,5%, atingindo US$ 1,6 bilhão. As rusgas com fabricantes de veículos em torno de preços e recuperação de margens perdidas no tempo sempre surgem, mas acabam se entendendo. Afinal, a frota real de quase 26 milhões de unidades é atrativa em qualquer lugar, além da taxa de motorização ainda por expandir.

Imbróglio maior é resolver a baixa capacidade de investir dos pequenos industriais. Dinheiro disponível até existe no BNDES, o banco federal de fomento. O enrosco se dá porque longos anos de dificuldades econômicas levaram a maioria deles para o triste CDN (Cadastro Nacional de Devedores) ou outra sigla mais elegante.

Fornecedores de primeiro e segundo níveis, ou mesmo as grandes marcas automobilísticas, talvez pudessem se juntar para alguma espécie de aval. Tomar essa providência - salvo iniciativas bem pontuais -, segundo se sabe, passa ao largo, quiçá a uma grande distância.

Outro fato: de 1995 a 2007 a participação das matérias-primas nos custos de produção das autopeças subiu de 36% para 63%, exigindo ainda mais capital de giro. A festa nas concessionárias não acabou, mas uma orquestra desafinada pode atrapalhar e causar confusão. Os músicos precisam se entender.

Tópicos: