Crescimento mais moderado de ora em diante


O crescimento econômico brasileiro de 2007, de 5,4%, ficou relativamente em linha com o esperado para o ano, dada a evolução da economia brasileira denotada pelos demais indicadores da atividade econômica.

Com isso, o resultado do ano passado situou-se dentre os melhores da década e, tomando-se como base a performance da economia brasileira desde a estabilização da inflação em patamar baixo a partir da implementação do Plano Real em 1994, configura-se como um bom desempenho.

Nesse contexto, antes de tudo, vale a pena qualificar que o crescimento brasileiro ficou pouco acima do crescimento do PIB global, de cerca de 5% em 2007, e abaixo do verificado pelas economias em desenvolvimento, de aproximadamente 8%.

Em outras palavras, o desempenho do ano passado foi bom, tendo em perspectiva apenas a economia brasileira, mas ficamos apenas próximos à média mundial e abaixo do desempenho das economias em desenvolvimento.

No entanto, considerando-se o resultado do ano passado, cabe indagar as possibilidades de se manter um ritmo de crescimento dessa magnitude no Brasil em 2008 e nos próximos anos.

Aparentemente, as respostas não são muito favoráveis nesse sentido e as próprias expectativas de crescimento do produto brasileiro nesse ano apontam no sentido de uma desaceleração do ritmo da atividade econômica no País mais adiante. Nessa ótica, o relatório de mercado (Focus), elaborado pelo Banco Central a partir das projeções de analistas de mercado aponta uma expectativa de crescimento da ordem de 4,5% em 2008 e de 4,0% no ano que vem.

Essas perspectivas criam um contraponto ao desempenho econômico de vários setores no início do ano. O setor automobilístico, embalado pela onda da expansão do crédito no País, segue de vento em popa, com crescimento de 32% das vendas internas no primeiro bimestre do ano relativamente ao mesmo período de 2007.

A produção industrial brasileira, por sua vez, cresceu 8,5% em janeiro de 2008 relativamente ao mesmo período do ano passado e registrou crescimento sazonalmente ajustado de 1,8% em relação a dezembro de 2007.

Tais indicadores sinalizam que o ritmo da atividade econômica no País segue intenso neste início de ano, representando, à primeira vista, um elemento estranho no cenário traçado para o ano.

A realidade dos fatos, no entanto, é mais dura que a sugerida por indicadores econômicos que refletem o passado recente. O bom momento pelo qual atravessou a economia brasileira nos últimos anos se deveu, em grande medida, aos efeitos do ambiente global sobre nosso País.

Nesse contexto, o ciclo de forte crescimento global (com a conseqüente elevação dos preços das commodities de exportação brasileiras), aliado a uma abundância de liquidez nos mercados internacionais, amparou um quadro de elevada entrada de dólares no país, provocando uma significativa apreciação da moeda brasileira frente ao dólar, a despeito dos esforços do Banco Central (BC) em comprar dólares maciçamente.

Tal efeito contribuiu significativamente para a redução da inflação brasileira ao longo dos últimos anos, proporcionando um quadro favorável à redução da taxa de juros brasileira.

Esse cenário estimulou amplamente a expansão do crédito no País, um dos principais vetores da expansão econômica brasileira do ano passado.Aparentemente, esse cenário favorável pelo qual a economia brasileira "surfou" nos últimos anos parece estar se esgotando.

A inflação brasileira voltou a subir recentemente (ainda que se situando dentro dos limites da meta de inflação) e os efeitos da apreciação do real frente ao dólar sobre os preços domésticos parecem estar se esgotando, o que sugere uma eventual reversão no sentido da política monetária mais adiante.

Adicionalmente, está claro que, a despeito dos aumentos dos investimentos produtivos nos últimos anos, a economia brasileira apresenta-se relativamente despreparada para a manutenção de um ritmo de crescimento da magnitude verificada em 2007 para os próximos anos.

Para que isso ocorresse, o ritmo dos investimentos produtivos teria de ser bem superior ao verificado nos últimos anos. Essa realidade é mais gritante em setores ligados à infra-estrutura, que representam o eixo de atuação principal do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), cujos objetivos plenos ainda não foram totalmente atingidos.

Nesse contexto, tendo como base esses elementos, é razoável supor um ritmo de crescimento econômico brasileiro mais moderado em 2008 e nos próximos anos.

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