A indústria brasileira entrou em 2008 com um ritmo de produção mais acelerado que o do fim do ano passado. A produção física das fábricas subiu 8,5% em janeiro, na comparação com igual período do ano anterior, superando a média de 7,9% observada no último trimestre de 2007, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados ontem. Na comparação com o mês de dezembro, o crescimento foi de 1,8%, já descontados os efeitos sazonais, e no acumulado de 12 meses, ficou em 6,3%.
Todas as categorias de uso registraram aceleração em janeiro em relação ao fim do ano passado, com exceção de bens de capital. Bens intermediários e bens de consumo duráveis subiram 8% e 15,7% em relação ao início de 2007, respectivamente, atingindo níveis recordes. Os semi e não-duráveis tiveram expansão de 5,5%, enquanto os bens de capital elevaram sua produção em 14,7%, taxa inferior aos 19,9% de dezembro.
"Os dados mostram, na maior parte das comparações, uma aceleração no ritmo da produção industrial, que subiu em 21 dos 27 grupos pesquisados em relação a janeiro de 2007", ressaltou o coordenador de indústria do IBGE, Silvio Sales. Segundo Sales, com o resultado de janeiro a produção industrial atingiu o segundo patamar mais elevado para o nível de atividade, abaixo apenas de outubro do ano passado.
Saldo positivo
Entre os itens pesquisados, o principal destaque positivo entre dezembro e janeiro foi de veículos automotores, com alta de 9%, depois de uma queda de 7,5% no último mês de 2007. O setor teve a maior contribuição para a alta de 1,8% da indústria geral. No total, 88% dos produtos pesquisados pelo IBGE nesse setor tiveram aumento de produção. A seguir, o maior peso veio de outros produtos químicos, com alta de 14,6% e índice de difusão de 58%, graças à maior produção de herbicidas, inseticidas, tintas e vernizes.
Em sentido contrário, a maior queda foi de máquinas para escritório e de informática, com recuo de 10,9% e redução na produção de 80% dos produtos pesquisados. Segundo Sales, depois de subir 14,4% em 2007, o setor aponta para a existência de estoques elevados, o que levou a uma redução na produção nos últimos dois meses. "Além disso, o setor de informática também pode estar sofrendo com o aumento das importações de partes de computadores para montagem aqui ", explicou Sales.
O técnico do IBGE ponderou ainda que mesmo a queda de 0,3% no indicador da média móvel trimestral para o conjunto da indústria - o primeiro recuo desde julho de 2006 - pode ser considerado um ajuste pontual e não uma mudança de tendência. "Não há sinal de inflexão na curva. A queda da média móvel aconteceu por causa da saída de outubro, mês de recorde na produção", afirmou Sales.
Sales chamou a atenção para os níveis recorde atingidos pela produção de bens intermediários e de bens de consumo duráveis. Os bens intermediários avançaram 1,3% em relação a dezembro, o que, segundo Sales, indica um possível impacto positivo na produção de bens finais no futuro. "Os bens intermediários são o grupo mais pesado e subiram 1,3% pelo segundo mês seguido. Este foi o principal fator explicativo para a alta de 1,8% para a indústria geral" , acrescentou.
Para Antonio Licha, economista coordenador do Grupo de Conjuntura do Instituto de Economia (IE), da UFRJ, esta aceleração da atividade fabril faz parte do próprio ciclo econômico de crescimento que o país está vivendo. "É uma espécie de fato estilizado do ciclo. A aceleração decorre de uma reação em cadeia dos diversos setores da economia, sustentada pela demanda doméstica, cujo aquecimento tem surpreendido os analistas."
O comportamento do setor de bens de capital foi interpretado por Licha como pontual. "Pode ser um ajuste, já que o setor vinha crescendo a taxas muito elevadas. Ou uma concentração de encomendas no tempo. Mas o patamar dessa indústria deve continuar elevado, pois os investimentos continuam estão crescendo", avalia o economista.
Previsão
Nos próximos meses, porém, Licha prevê que a indústria pode crescer a taxa mais baixas, entre 6% e 7%. "O patamar de 8% é difícil de sustentar." Essa pequena desaceleração, segundo ele, será fruto das dificuldades que as empresas vão enfrentar para captar recursos no exterior, seja via colocação de debêntures, seja de ações. "Muitas empresas já suspenderam programas de abertura de capital (IPO na sigla em inglês) por conta da crise americana, que tem reduzido a oferta de crédito externo."
Licha avalia, contudo, que esta desaceleração "suave" não é nada que faça pensar que a economia no país possa crescer menos de 5% em 2008. Para o economista, 5% é piso. "Quem está prevendo um PIB de 4,5% está subestimando o desempenho forte da indústria", diz Licha.
Para fevereiro, a consultoria Rosenberg & Associados avalia que os indicadores antecedentes da atividade econômica do mês não dão sinais de arrefecimento no ritmo de expansão das fábricas. O consumo de energia elétrica avançou 3,6% ante o mesmo período do ano passado e 1,1% contra janeiro, com ajuste sazonal. A venda de veículos (automóveis, caminhões e ônibus) aumentou 36,9%, depois de uma expansão de 40,7% em janeiro.
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