Nova unidade da GM dificilmente comprará de fabricantes do PR

Foto: Arnaldo Alves/Arquivo Gazeta do Povo

A instalação da nova fábrica de motores da General Motors (GM) no norte de Santa Catarina pode representar uma boa oportunidade para as fabricantes de autopeças do Paraná, avaliam empresários do setor automotivo.

Mas eles avisam que a força do pólo de fundições de Joinville – referência nacional e sede de tradicionais fornecedores da montadora – pode frear as ambições paranaenses. O Paraná já havia sido derrotado pelos catarinenses na definição do local: a GM cogitou comprar a fábrica de motores Tritec, de Campo Largo (região metropolitana de Curitiba), mas acabou optando por construir uma unidade própria, conforme anunciado na última sexta-feira.

Em Florianópolis, o vice-presidente da montadora, José Carlos Pinheiro Neto, citou como fatores para a decisão “a excelente qualificação da mão-de-obra” catarinense, a proximidade do porto de São Francisco e a existência de uma grande fundição na região. O executivo não citou os incentivos fiscais oferecidos à companhia, mas sabe-se que são generosos.

Embora a GM afirme que ainda está avaliando seis terrenos para instalar sua fábrica, quatro em Joinville e dois na vizinha Araquari, o governo catarinense dá como certa a escolha da maior cidade do estado.
 
Fábrica da Tritec em Campo Largo foi cogitada pela montadora norte-americana.

De acordo com o diário A Notícia, de Joinville, a montadora já escolheu o local. Seria um terreno às margens do quilômetro 47 da BR-101 Norte, no caminho para a capital Florianópolis, a quatro quilômetros de um futuro campus da Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc) - a universidade já comemora a possibilidade de parcerias e desenvolvimento de tecnologia para a montadora.

A GM investirá R$ 350 milhões na construção da fábrica, que vai empregar 500 pessoas e gerar 1,5 mil empregos indiretos. As obras devem começar ainda neste semestre, com produção prevista para o início de 2010.

“Seria muito melhor para a economia paranaense se a GM confirmasse seu investimento em Campo Largo, o que iria reforçar o pólo automotivo local”, avalia Fernando Buffa, diretor de vendas da Itesa, fabricante de peças de alumínio instalada em Palmeira, a 80 quilômetros de Curitiba.

“Mas não acho que a distância impeça que venhamos a participar, como fornecedores, do projeto da GM. Isso se aplica a todo o pólo do Paraná.” A Itesa fabrica alguns componentes do motor, como a tampa do cabeçote, e peças para o sistema de transmissão.

O presidente do Sindicato da Indústria Metal-Mecânica do Paraná (Sindimetal), Roberto Karam, vê com otimismo a instalação de uma fábrica a 130 quilômetros de Curitiba.

“É uma ótima oportunidade para as empresas paranaenses. Temos um pólo que fornece peças para vários estados, e nossas empresas têm uma ligação muito estreita com as ferramentarias [fabricantes de moldes para a produção de peças] de Joinville.”

Para o diretor comercial da curitibana Metalkraft, José Luís Rauch, companhias especializadas em usinagem podem se beneficiar – a própria Metalkraft já fornece para a GM peças usinadas de alumínio, como suportes de motor e carcaças para motor de partida.

Mas o executivo pondera que, além de poucas usinadoras paranaenses serem certificadas pelas montadoras, a GM já tem um parque de fornecedores bastante desenvolvido. “A GM não vai fazer um produto novo, e sim ampliar a produção de um motor que já existe. Então dificilmente mudará seus fornecedores.”

Exemplo disso é o contrato de exclusividade que, segundo a imprensa catarinense, teria sido firmado há quatro meses com a joinvilense Tupy Fundições, que vai fornecer os blocos dos motores – ela vende para a GM há 17 anos.

Os componentes eletroeletrônicos devem vir de empresas instaladas em Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, enquanto os fornecedores de biela e cárter ainda serão definidos.