Preço do minério dá saldo de US$ 10 bilhões na balança


O reajuste de até 71% no preço da tonelada do minério de ferro, hoje o principal item de exportação do Brasil, anunciado nesta segunda-feira pela Companhia Vale do Rio Doce (Vale), deve representar um saldo adicional de mais de US$ 10 bilhões na balança comercial do país. Foi o que adiantou nesta terça-feira (19) o presidente da mineradora, Roger Agnelli.

A conta tem respaldo no último relatório da Vale, maior produtora de minério de ferro do mundo, que mostra que a empresa alcançou a marca histórica de produção de 295,9 milhões de toneladas da commodity em 2007, o que representa um aumento de 12% em relação ao ano anterior. Desse montante de minério, apenas 10% ficam no Brasil; a grande maioria é exportada.

A Vale informou ontem a conclusão da negociação de um reajuste de 65% no preço de referência da commodity para 2008 com a Nippon Steel Corporation (NSC) e a Posco, as maiores siderúrgicas do Japão e da Coréia do Sul. Também foram concluídas as negociações com as siderúrgicas japonesas JFE Steel Corporation, Kobe Steel, Nisshin Steel e Sumitomo Metals.

De acordo com nota divulgada pela empresa, os novos preços de referência, em tonelada métrica seca (dmt), são US$ 1,1898 por unidade de ferro para o sistema Sul (SSF) e US$ 1,2517 por unidade de ferro para o sistema Carajás (SFCJ). Pela primeira vez, a empresa conseguiu um reajuste diferenciado para o minério produzido em Carajás - considerado o melhor do mundo - de 71%.

"Os preços para 2008 refletem a continuidade do excesso de demanda no mercado global de minério de ferro", afirmou a empresa.

A notícia tem grande importância para a formação do preço do minério do ferro, que é feita de forma diferente da maioria das commodities metálicas. O reajuste é negociado anualmente entre as mineradoras e as siderúrgicas, mas nem sempre elas chegam a um acordo rápido. Geralmente, os primeiros contratos determinam os preços para o ano, mas, as mineradoras australianas informaram que ainda querem reajuste maior.

Acordo deve ter bom impacto para a Vale


Este acordo de reajuste com as siderúrgicas japonesas e sul-coreana é muito importante para a Vale, que controla cerca de um terço do mercado mundial de minério de ferro e se tornou a segunda maior mineradora do mundo com a compra da canadense Inco em 2006.

A Nippon Steel compra 9 milhões de toneladas de minério de ferro por ano da Vale, além de mais 2 milhões de toneladas da Minerações Brasileiras Reunidas SA, cuja maioria do capital é controlado pela Vale.

"Apesar da considerável alta de custos operacionais e de investimento, a companhia foi capaz de expandir a produção de minério de ferro à taxa média anual de 14,1%, entre 2001 e 2007", afirma a mineradora brasileira em nota sobre o acordo de reajuste do minério para 2008.

"Estamos investindo para aumentar a produção de minério de ferro de alta qualidade para atender às necessidades dos nossos clientes, tendo como meta alcançar capacidade de produção de 450 milhões de toneladas anuais ao final de 2012, que demandará a realização de significativos investimentos em novas minas e ampliação de nossas ferrovias e portos", acrescenta.

Reajuste deve dar novo gás para oferta pela Xstrata

Para o analista do ABN Amro Pedro Galdi, o valor obtido pela Vale junto às siderúrgicas foi "excelente", e a tendência é de que os outros clientes, inclusive a China, sigam o ajuste. Para ele, o aumento dá ainda mais força para Vale fazer nova oferta pela Xstrata.

"Isso (o ajuste) ajuda e muito, mas vamos ver qual a decisão dela (Vale), se vai aumentar a oferta", diz Galdi, destacanto, entretanto, que o receio de perder a posição de grau de investimento poderá limitar uma oferta excessiva pela Xstrata.

A Vale admitiu há algumas semanas que estaria interessada em adquirir a Xstrata, produtora de cobre, níquel, carvão, entre outros. Segundo fontes do mercado, a primeira oferta da Vale teria sido de US$ 76 bilhões, ou 40 libras por ação, enquanto os acionistas da Xstrata teriam pedido 48 libras por ação.