Helibras planeja criar novo pólo de produção de helicópteros


O consórcio aeroespacial europeu Eads, o governo brasileiro e a Helibras articulam a criação de um pólo de produção de helicópteros, projeto que deverá atrair até 1 bilhão de euros em investimentos de fabricantes de peças, fornecedores de serviços, transferência tecnológica e a instalação de um simulador de vôo.

Só a construção de uma nova fábrica em Itajubá (interior de MG) consumiria 200 milhões de euros. A intenção é que as atividades do novo pólo tenham início no mês de junho, quando a Helibras comemora 30 anos de atividades.

A Eads é controladora da Eurocopter, uma das maiores fabricantes de helicópteros do mundo. Por sua vez, a Eurocopter possui 45% do capital votante da Helibras, fundada em 1978 em São José dos Campos (SP).

Até hoje, é a única fabricante de helicópteros da América Latina. O governo de Minas Gerais tem 25% do capital votante; a composição acionária é completada pelo grupo financeiro Bueninvest, com 30% do capital votante. É líder de mercado no Brasil, respondendo por mais de 50% da frota de helicópteros a turbina.

Para que o projeto saia do papel, é necessário que o governo brasileiro se comprometa em adquirir pelo menos 50 unidades da nova e mais sofisticada versão do Super Cougar, helicóptero militar com capacidade para 22 pessoas, que voa a até 300 quilômetros por hora e que pode ser utilizado para transporte ou ataque.

Dependendo dos equipamentos instalados, o preço do Super Cougar pode beirar os US$ 30 milhões, segundo especialistas. Os defensores mais entusiasmados do plano já se referem a ele como o "segundo pólo de aviação brasileiro", numa referência ao da Embraer. Se o projeto se concretizar, o governo brasileiro poderá receber seu primeiro helicóptero em até dois anos e meio, afirmou ao Valor Jorge Viana, ex-governador do Acre e presidente do conselho da Helibras.

Em reunião realizada na semana passada, em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acenou positivamente com o prosseguimento do projeto, apesar de não haver, por enquanto, nenhum documento formalizando a construção do pólo.

Participaram do encontro o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, o ministro Miguel Jorge (Desenvolvimento) , Christian Gras (vice-presidente da Eads Latin America), Marwan Lahoud (diretor-executivo de estratégia da Eads), Eduardo Marson (diretor-geral da Eads no Brasil), Jorge Viana e o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho. O banco estatal deve financiar parte dos investimentos do pólo.

Helibras planeja criar novo pólo

Amanhã, Viana deve apresentar o projeto ao governador de Minas Gerais, Aécio Neves. Nas próximas semanas, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, deve se reunir com o presidente do conselho da Helibras. Um dos principais fornecedores de turbinas para helicópteros deve se instalar no Rio. "Minas, Rio e São Paulo devem abrigar os principais fornecedores", afirmou Viana.

Antes do aval de Lula, interlocutores da Helibras e dos ministérios da Defesa e do Desenvolvimento vinham discutindo a criação do pólo desde setembro.

De acordo com Viana, o projeto começou a ser delineado pela Helibras em meados de 2007, quando a Força Aérea Brasileira iniciou um processo internacional de aquisição para 32 helicópteros, sendo 20 de transporte e 12 para ataque. Avaliado em R$ 600 milhões, o processo atraiu propostas de empresas como as americanas Bell e Sikorsky , a italiana Agusta, a Eurocopter e a russa Rosoborobnexport.

A Helibras não apresentou proposta, mas encaminhou ao Ministério da Defesa uma carta de intenções para a fabricação local desses aparelhos. A facilidade de manutenção dos equipamentos também pesou favoravelmente ao projeto. Ainda não é certo se o governo cancelará a compra após a formalização do pólo.

A produção do pólo não se restringirá apenas às encomendas governamentais. A descoberta de novos campos de petróleo e gás na costa brasileira deverão elevar a demanda do mercado "off-shore", acredita a direção da Helibras. A Petrobras é hoje a maior usuária de helicópteros do país, movimentando 10% da frota brasileira, de cerca de 1,1 mil unidades.

O novo complexo também poderá servir de base de exportação para a Eurocopter, penalizada com os altos custos da produção doméstica em euros. Tanto é que o planejamento estratégico da Eads até 2020 prevê que, dos ? 50 bilhões de euros previstos para expansões, pelo menos 40% devem ser investidos fora da Europa.

O presidente executivo da Helibras, o francês Jean Nöel Hardy, confirmou a existência do projeto e as conversas com o governo, mas disse não participar diretamente das negociações.

Em 2007, a empresa registrou vendas recordes de US$ 92 milhões (55% superior a 2006) e a entrega de 25 helicópteros. A carteira de encomendas é de 48 unidades, o que preenche toda a produção deste ano. A fila de espera do modelo Esquilo, o mais vendido pela Helibras, vai até 2010. "O Brasil possui a quarta maior frota do mundo e um potencial enorme de crescimento. "