Fonte: Agência FAPESP - 21/03/07
Água quente é um luxo para a maior parte da população carente na zona rural de Itajubá (MG). Quem tem acesso, chega a gastar de 40% a 55% de seu orçamento com energia elétrica. Mas os dias de banho frio estão contados para essas comunidades. Orientado pelo professor Jorge Henrique Sales (foto), um grupo de estudantes de Tecnologia em Produção Mecânica do Centro Universitário de Itajubá criou um aquecedor solar alternativo de baixo custo e fácil manuseio, utilizando latas de alumínio descartadas.
Com o projeto, o grupo ganhou, em dezembro, o Prêmio Alcoa de Inovação em Alumínio, destinado a pesquisadores de graduação e pós-graduação. Mais de 700 trabalhos foram inscritos em todo o país. O município de 90 mil habitantes, que fica 290 quilômetros a nordeste de São Paulo, possui uma das maiores concentrações de pesquisadores por habitante no Brasil.
“Nosso objetivo é usar a tecnologia que desenvolvemos na universidade para finalidades sociais, melhorando a vida da comunidade de baixa renda. O projeto atingiu esse objetivo”, disse Sales à Agência FAPESP. Participaram do projeto os estudantes Alexandre Ribeiro Cardoso, Márcio Hessel Verraci, Paulo Fonseca Júnior e Paulo Henrique de Faria.
Importância ambiental
De acordo com o engenheiro, uma das maiores vantagens do aquecedor, que está sendo aperfeiçoado para produção em escala, é dar às latas de alumínio uma destinação intermediária antes da reciclagem.
“Isso tem uma importância ambiental, imaginando-se que o aquecedor possa ser uma alternativa em escala para comunidades carentes. A lata de alumínio é usada sem ser transformada, incentivando aplicação em locais distantes dos pólos de fundição”, explicou Sales.
O aquecedor utiliza três eventos físicos: reflexão, efeito estufa e absorção da luz. “O segredo do projeto é cortar as latas longitudinalmente num ponto focal. A luz incidente, em qualquer ângulo, sobre o fundo da lata, reflete-se sobre o foco, onde passa o cano d’água”, explicou.
Além da reflexão, as latinhas são instaladas numa caixa com fundo preto e cobertas por um vidro. O fundo preto absorve a luz e o vidro causa o efeito estufa. “Os três eventos agem em conjunto para dar mais eficiência ao aquecimento.”
O efeito conseguido, segundo Sales é que a água, que entra com temperatura próxima a 0 grau celsius, sai numa temperatura em torno de 70 graus. “Um aquecedor de mercado consegue 100 graus. Temos essa perda, mas 30 graus são suficientes para um banho. O aperfeiçoamento que estamos fazendo agora tem o objetivo de aumentar o rendimento para 80 graus, pelo menos”, disse o engenheiro.
O custo do equipamento não passa de R$ 540, atualmente. Segundo o pesquisador, o modelo mais barato no mercado custa cerca de R$ 3 mil. “Mas, claro, não pretendemos competir com o mercado. A intenção é ter um equipamento disponível para comunidades que precisam de uma tecnologia muito barata e fácil de instalar e manusear”, afirmou.
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