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Reduzir a emissão de poluentes a partir do combustível é ao desafio da indústria automobilística. Montadoras da Europa, Japão e Estados Unidos já contam com carros híbridos (que rodam com gasolina e energia elétrica), mas produzidos ainda em menor escala. As alternativas "ecologicamente corretas", no entanto, vão além do combustível.
Lincoln MKT tem tapetes de folha de bananeira e console de material reciclado
Peças feitas com material reciclado já estão sendo fabricadas para serem usadas na composição de modernos e luxuosos veículos. A questão é descobrir como fazer a produção destas peças "ecológicas" ser mais barata que a das as convencionais.
Por serem mais leves, as peças feitas com material reciclado ajudam a reduzir o consumo de combustível do veículo. Além disso, todo o seu processo de fabricação é muito menos agressivo ao meio ambiente do que o das peças convencionais. Exemplo disso é a mistura feita com partículas extraídas de garrafa pet com fibra de vidro e partículas de borracha.
"O plástico da garrafa pet, quando reciclado, perde muito de suas propriedades e fica com valor agregado inferior à resina base. Quando misturado com fibra de vidro ganha mais resistência e rigidez, e a borracha aumenta a tenacidade do material", explica ao G1 o professor José Alexandrino de Souza, do departamento de Engenharia de materiais da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar).
Módulo de porta da empresa Ticona, feita com resina de garrafa pet, fibra de vidro e partículas de borracha
Um exemplo de aplicação deste material reciclável foi apresentado recentemente no Salão de Detroit, nos Estados Unidos. O carro-conceito Lincoln MKT tem painel feito com 85% de material reciclado por garrafas pet, em uma mistura com fibra de carbono e partículas de borracha, que ajudam a tornar o composto mais resistente ao impacto. Este material também pode ser usado nas calotas e nos painéis das portas, e ajudam o carro a resistir ao calor e aos productos químicos. Além disso, o Lincoln MKT é equipado com tapetes feitos com folha de bananeira.
No mesmo evento, a Toyota apresentou a picape A-BAT, com motor híbrido e construído com materiais leves. Painéis solares instalados no teto da carroceria ajudam a alimentar, por exemplo, um sistema de navegação e internet. A Mercedes-Benz estuda projetos que usam casca de coco na proteção dos assentos. Mas a natureza tem muito mais a oferecer aos veículos.
Picape A-Bat, da Toyota, usa energia solar para alimentar sistema de navegação
Poluição na cadeia produtiva
Em recente entrevista à Agência Fapesp, o professor Mohini Sain, da Universidade de Toronto, no Canadá, que desenvolve componentes automotivos feitos a partir de fibras vegetais, disse que a cadeia de produção de materiais usados na fabricação de veículos polui mais do que a fumaça dos escapamentos.
Por isso, é cada vez maior a necessidade de incluir peças alternativas aos materiais plásticos e metálicos usados em painéis, bancos, portas, consoles e outros componentes.
Sain e sua equipe estudam o uso de óleo de soja para a fabricação de espuma de polietileno para os assentos dos carros, e a aplicação de biotecnologia em tapioca e batatas para a conversão do amido, para a formação de material semelhante ao polipropileno, material plástico utilizado nos veículos. Tudo isso, no entanto, é algo a ser alcançado a longo prazo.
A maioria das alternativas sustentáveis têm um alto custo de produção, o que torna inviável economicamente. "Se não conseguirmos baratear a produção, é impossível introduzir o material", destacou o professor Sain. "Ao mesmo tempo, temos que fazer com que a produção desse material traga ganho econômico."