Foto: Envolverde
Cerca de 29% das emissões globais de dióxido de carbono (CO2) relacionadas às construções podem ser cortadas efetivamente até 2020, alcançando a maior redução de todos os setores citados pelo Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima (IPCC). A conclusão é da pesquisa “Potenciais e custos da mitigação do dióxido de carbono nos prédios do mundo”, publicada na edição de fevereiro da revista científica Energy Policy.
“Existe uma grande gama de tecnologias de baixo custo e conhecimento para abater as emissões de GEE (gases do efeito estufa) em edifícios em uma extensão que ainda não foi largamente adotada”, afirmam as pesquisadoras Diana Urge-Vorsatz e Aleksandra Novikova, do Centro de Estudos Políticos, da Universidade da Europa Central, da Hungria.
O consumo de energia no setor de edificações foi responsável por emitir 7,85 Gt de CO2 em 2002, 33% do total referente ao setor energético. Além disso, as construções foram responsáveis por aproximadamente 1,5 Gt de CO2 equivalente de emissões de gases fluorados. O relatório do IPCC projeta um crescimento destas emissões para 11 Gt num cenário positivo e 15,6 Gt de CO2 numa perspectiva mais negativa em 2030, sendo responsável ainda por uma fatia de 34% do total.
As autoras explicam que, segundo conclusões do IPCC, o setor de edificações residenciais é, de longe, o com maiores oportunidades de mitigações de baixo custo e que porções consideráveis de CO2 vindas do uso energético em edifícios podem ser cortadas nos próximos anos. “Sendo um dos maiores emissores de GEE e, ao mesmo tempo, oferecendo muitas medidas de redução a baixo custo, o setor de construções é fundamentalmente importante para os esforços de mitigação das mudanças climáticas”, afirmam.
Eficiência energética na iluminação foi identificada como a medida mais atrativa em todo o mundo, em termos tanto de potencial de redução como de custo efetivo. Se o realizadas todas as possíveis reduções identificadas, as emissões vindas de edificações poderiam ficar constantes nos níveis de 2004 em 2030.
Os países em desenvolvimento e as economias em transição são os que mais facilmente podem promover reduções. As economias em transição podem obter ganhos de eletricidade de forma econômica com a troca de eletrodomésticos antigos e lâmpadas, além de possuírem um grande potencial para substituição de combustíveis. Já as nações em desenvolvimento reúnem o maior potencial de baixos custos para as mudanças quando comparado com outras regiões, devido às opções de economia elétrica.
De acordo com a Organização pela Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OECD), nos países como um todo, os edifícios respondem por 35 a 40% das emissões nacionais vindas de combustíveis fósseis. Isto inclui emissões diretas do uso de gás natural e petróleo para aquecimento e resfriamento, assim como emissões advindas da geração elétrica usada pelos prédios (os edifícios são responsáveis por 50% do total de eletricidade consumida nos países da OECD). Nos países em desenvolvimento, carvão e biomassa são fontes significativas de energia para aquecimento, invariavelmente com efeitos adversos para os ocupantes.
Para diminuir as emissões vindas do aquecimento, as autoras sugerem usar envelopes de alto desempenho combinado com ventilação protegida de aquecimento. “Otimizar a forma da construção pode ter uma contribuição significante também. Janelas viradas para a linha do equador combinadas com massa térmica interna podem evitar o aquecimento extra durante o dia e liberar o aquecimento estocado à noite. Isolamento a vácuo, apesar de ainda ser caro, pode ser muito eficiente para aumentar o isolamento de prédios já existente, uma vez que os painéis são dez vezes mais finos que os tradicionais”, explicam.
Para melhorar o resfriamento uma boa idéia e utilizar superfícies reflexivas, mecanismos de sombra externa, vidraças com baixo ganho de calor solar e uma combinação de ventilação no período noturno, massa térmica interna e isolante externo. Sistemas de iluminação de alta eficiência e equipamentos eficientes (que produzem menos perda de calor) pode reduzir significativamente o ganho de aquecimento interno.
A energia solar também pode ser usada passivamente para obter aquecimento através de janelas de alta performance viradas para o sul. Tais janelas são uma rede de calor nas estações quentes em climas moderados como da Europa Central e sul do Canadá. Ventilação natural também pode ser criada através de diferenças de pressão entre partes do edifício, normalmente causadas pela diferença da temperatura interna e externa, que podem ser maior no inverno.
Areas como jardins de inverno e átrios podem ser eficientes para induzir a ventilação natural durante o verão.
Painéis fotovoltaicos construídos integrados ao edifício podem ser usados para gerar eletricidade local e para outras funções, como sombra externa e elemento do design arquitetônico. Apesar de ainda caros hoje, a previsão das autoras é que os preços caiam em cerca de uma década. A energia térmica solar já ganhou espaço na legislação de muitos países, inclusive no Brasil. A cidade de São Paulo e o estado do Rio de Janeiro são dois exemplos.
A água é 25 a 100 vezes mais eficiente que o ar como fluido para transferência de calor. Por isso, energia pode ser salva usando água gelada ou quente para o controle de temperatura, e circulando somente o volume de ar necessário para a ventilação. Isto permite o uso de 100% do ar externo ao invés de recircular uma porção do ar interno, trazendo ainda benefícios para a saúde e bem estar.
Diana e Aleksandra ressaltam que existem muitas áreas onde mais pesquisa, experiências práticas e redução de custo são cruciais para alcançar uma redução mais profunda na energia usada, entre os quais citam painéis de isolamento a vácuo, desumidificador e sistemas de refrigeração, sistemas de uso de luz diária e controles, redução de custo nos sistemas de energia térmica solar e painéis fotovoltaicos.
“Também há uma grande necessidade de melhorar o design de construções atrás do uso de processos de design integrado e, onde apropriado, uso de ferramentas de simulação computacional como parte do processo (ao invés de utilizá-los meramente como equipamentos de medidas e confirmações de design após a construção, para atender a regulação)”, explicam na pesquisa.
Este é o caminho para alcançar uma redução global em 2020 de 3,2 bilhões de toneladas de CO2 equivalente anualmente nas emissões advindas de construções, em um cenário em que os negócios continuem sendo realizados como atualmente. As autoras ressaltam a necessidade de abordagens políticas para aumentar o acesso do consumidor à informação, uma vez que barreiras culturais e de comportamento dos ocupantes são os maiores determinantes do uso energético dos edifícios.
Quer saber mais? Acesse a pesquisa na íntegra clique em http://dx.doi.org/10.1080/09613210701325883
A revista Energy Policy pode ser acessada em http://www.sciencedirect.com/